sábado, 30 de junho de 2012

A Lua aparecia linda no céu enquanto ainda era dia. E o céu estava um azul turquesa daqueles que os pais gostam de pintar o quarto dos filhos. As nuvens ora pareciam pedaços de algodão extremamente bem desenhadas no céu, ora pareciam borrões de tinta branca naquele céu tão azul.  Disse-lhe que adorava dias assim, ou pelo menos quis dizer. Sorri enquanto terminava o cigarro e beijei-o. Passei os dedos sobre suas costelas e senti sua pele arrepiar. Depois, bem mais tarde, o céu negro destacava ainda mais as estrelas, a Lua ainda ali, soberana, assistia a tudo. Brilhava tanto que parecia lâmpada. Linda. A Lua fascina que a observa com atenção. Poucas coisas são tão lindas quanto a Lua. Ele sentado do meu lado falando alguma coisa que eu não prestei atenção. Estava pensativa sobre tudo que vinha acontecendo e surpresa por estar tão feliz. Olhei bem dentro dos olhos dele e esqueci a Lua. Sem dúvida, eram mais bonitos.


Porque quem ama nunca sabe o que ama 
Nem sabe porque ama, nem o que é amar…


Amar é a eterna inocência, 
E a única inocência é não pensar…


Alberto Caeiro
Queria te guardar numa casinha pequena, na nossa casinha no Sul. Te trazer achocolatado quentinho de madrugada antes que você dormisse enquanto a neblina molhasse o telhado. Queria dormir abraçadinha todos os dias, sentindo teu cheiro, protegida pelos teus braços.  Fugir de toda essa loucura do mundo. Criar nosso próprio universo. Você é sossego, é silêncio. Meu porto seguro diante de todos os absurdos que assistimos todos os dias. Queria colar tua mão na minha pra não precisá-la soltar nunca mais. Queria cuidar de você, de todas tuas dores, de todos teus medos e tuas histórias. Tardes douradas de domingo sentados na varanda. Compartilhando sonhos, memórias e orgasmos de uma vida inteira, da nossa vida. Aprender novas definições de felicidade todos os dias. Ter todo tempo do mundo e aproveitá-lo como se não tivéssemos mais nenhum. Longas conversas de vozes sussurradas no meu pescoço quase no ouvido e um riso pronto nos cantos da boca. Se empanturrar de brigadeiro de panela observando a íris dos teus olhos com eles sob os meus. Os corpos juntos, colados, adequados um ao espaço do outro. Esquentando meu pé no teu, todos os dias, o dia todo. Dentro da casinha, tomando café quente observando incensos queimarem sem saber se é dia ou noite. Pra sempre. Inventando céus que piscam mudando de cor, fins de tarde fruta-cor e dias nascendo alaranjados, estrelas pintadas no teto e nuvens desenhadas com o hálito no vidro.



terça-feira, 26 de junho de 2012

Agora ou depois, não importa. De longe ou perto, estando calor ou frio. No escuro, no claro. Não importa. Nada importa. Os problemas não importam, as situações não me importam. É aquele clichê de filme de esquecer o resto do mundo, sabe? Da forma certa, da forma errada. Aqui ou do outro lado do mundo, não importa. Nós temos um ao outro.

Então não há nada mais sensato a fazer do que soltarmos as mãos dos trapézios, perdermos a frágil segurança de nossas solidões e nos enlaçarmos em pleno ar. Talvez nos esborrachemos. Talvez saiamos voando. Não temos como saber se vai dar certo - o verdadeiro encontro só se dá ao tirarmos os pés do chão, mas a vida não tem nenhum sentido se não for para dar o salto.


Antônio Prata

segunda-feira, 25 de junho de 2012

Lucas Dinallo ♥
A felicidade então era um cheiro. O cheiro dele misturado com o cheiro do meu suor, no fundo um cheiro de incenso doce, doce, doce. Era o êxtase e confundia os sentidos. Eu queria ficar acordada a noite toda e queria abraçá-lo e dormir na mesma hora. Depois, debruçada sobre seu peito fechei os olhos e sorri muda, não havia nada que pudesse dizer embora quisesse dizer um bocado de coisas. Me aconcheguei no corpo dele e dormi. Mas já estava sonhando antes mesmo de fechar os olhos.

domingo, 24 de junho de 2012

Estive pensando sobre minhas fugas. Aquela velha história de ir embora antes de amanhecer, antes de ficar pior. Vou embora sem inventar desculpas esfarrapadas, sem nenhum argumento válido. Peço desculpas com um tom de "não avisei que era complexa?" e sou sincera. Sou teimosa demais, tagarela demais, feliz ou triste demais. Tudo é demais, demais. E o que é demais facilmente enjoa. Eu vou embora antes disso. Antes que eu esteja realmente onde todas as garotas querem estar. Eu vou embora antes do 2º tempo de um jogo final da copa do mundo, entende? Eu vou embora quando todas as pessoas permaneceriam. Um distúrbio de alguém que arrisca em tudo, mas nesse quesito sempre saiu na pontinha dos pés sem que ninguém além dela mesma percebesse os porquês. Talvez eu só quisesse um questionamento. Alguém que me pegasse pelo braço e me forçasse a dizer um motivo. Ninguém pegou. Mas confesso, se me pegassem provalvelmente eu não saberia responder. Mas hoje, por um momento, pensei que talvez não fosse assim tão complicado e depois percebi que não era complicado, nenhum pouquinho complicado. É medo. Medo de estragar tudo quando for ainda mais dolorido. Medo de ir longe demais e depois perceber que foi em vão. Medo de me aproximar além dos limites. E eu tenho medo porque sei que sou assim. Não sei mergulhar se não for pra pular de cabeça. Não sei ir aos poucos, não sei esperar. Eu faço meu próprio tempo certo. O que é extremamente precoce ou excessivamente atrasado pro resto do mundo, pra mim é normal. Meu normal é exagerado. Então hoje, antes que pudesse buscar saídas de emergência, eu desisti de temer as dores. Talvez porque percebi que calejei ou talvez porque desisti de lugar com o inevitável. No final disso tudo é bem provavel que doa. Como se tudo não me doesse todos os dias. E até hoje não morri.Crescidinha e corajosa, estou orgulhosa de mim mesma. É bacana ver que a gente cresceu, evoluiu um bom bocado. Não vou dizer que tudo são flores. E ainda bem. Seria um tédio se não houvessem surpresas. É bom perder o sossego as vezes. Apenas queria dizer a mim mesma, e talvez até pra vocês, que não vale a pena temer. Eu li em algum lugar que "se um problema não tem solução, não adianta se preocupar e se um problema tem solução, não precisa se preocupar" então, repetindo um "que seja doce" do Caio Fernando, digo e repito: Que se danem os medos.

sábado, 16 de junho de 2012

Todos que tentaram entender a vida, enlouqueceram. Talvez você já tenha enlouquecido sem perceber ou talvez esteja enlouquecendo agorinha mesmo. Um oceano de perguntas irrespondíveis e nenhuma terra é firme o suficiente. Não existem portos seguros pra atracar. Aliás, o que é que realmente existe? Como você pode ter certeza de que não enlouqueceu faz muitos anos e que isso é só um delírio da sua mente? Como você sabe que me lê ou se isso é um sonho seu, que está lendo isso. As probabilidades não bastam. As provas não se sustentam e as pessoas não pensam sobre isso. A loucura está em todos nós. Quem pode provar se você não morreu ontem enquanto dormia e ainda pensa que está vivendo? Talvez seja um desvaneio. Talvez seja a realidade surreal que ninguém parou pra ver.
Acho que quero algo que nem sei se realmente existe. Talvez um dia tenha existido mas eu não soube como procurar. Ou talvez seja apenas um pensamento meu que ganhou vida por culpa minha, mas que não encontrarei em nenhum lugar além da minha mente. Nem eu mesma sei se quero realmente algo que não posso ter por masoquismo ou por teimosia. Talvez até por querer apenas. Talvez não queira nada. Apenas quero querer pra não perceber que se eu quisesse mesmo já teria certeza. O fato é este: Sou mais complexa que meus quereres e se não são poucos talvez seja nenhum.

quarta-feira, 13 de junho de 2012

Perdi as contas de quantas vezes achei que não pudesse mais aguentar e permaneci aguentando. De quantas vezes achei que havia acabado e ainda estava no início. De quantas vezes jurei pra mim mesma que não voltaria atrás e voltei. E de quantas vezes achei que tinha aprendido, e ainda estava no mesmo lugar.
Vi em algum lugar na tv que pra perceber se as pessoas riem com sinceridade basta olhar nos olhos. Quando esprememos os olhos durante o riso existe quase que uma certeza de que ele é verdadeiro. Então aprendi a rir sempre apertando os olhos. Agora até a prova de que o meu  riso é verdadeiro é falsa.

terça-feira, 12 de junho de 2012

Eu chorei. Chorei como nunca havia chorado antes. Talvez uma vez quando arranquei o tampão do dedão do pé e minha mãe me disse que precisava lavar, mas o choro que antes era de medo agora era um choro sem nada. Um choro sem esperanças, sem medos, sem nada. Um choro vazio apenas com a dor no seu estado puro. E doía tanto que nem sabia o que era. Até agora não sei pra ser sincera. Sabe quando você se machuca e dói tudo ao redor? Tudo em mim era ao redor, acho. Chorei tanto que não conseguia respirar e não conseguia secar meu rosto com as mãos. Me encolhi o máximo que pude e abracei as pernas, com a maior vontade de sumir. Não sumir no mundo, não ir embora. Não queria ir a lugar algum, apenas queria desaparecer. Não queria morrer, só não queria mais aquela vida. O motivo era banal, e quando consegui me acalmar percebi que o motivo que eu pensava que tinha me feito chorar nem era aquele, e nem era nenhum aparente. Sem motivo. Apenas pra limpar a alma.

domingo, 10 de junho de 2012


Ame de verdade, ria descontroladamente e nunca lamente nada que tenha feito você sorrir.
Vinicius de Moraes 

sábado, 9 de junho de 2012

Hoje acordei tão só. Mas do que merecia. É que ontem, te procurei por um momento e dai lembrei que você não viria, que nunca mais viria. Mas não chorei. Ontem pude compreender suas friezas e suas dores, acho que nasceu uma parte de mim que você teria gostado de conhecer. Ontem pensei que talvez todos nós sejamos feitos em partes. Todas as minhas sentem a sua falta. Todas doem. Saudades.
As pessoas acham que o amor nunca poderia sobreviver à realidade, mas na verdade o que derrete sob a luz da vida real é o encanto, a superestimação do outro, a paixão que surge com apenas um olhar. Sim, eu acredito em paixão a primeira vista. Eu acredito que duas pessoas podem se olhar e quererem ficar juntas. Mas atenção, eu disse paixão. Amor é mais, entende? É uma grande bobagem dizer que o amor não sobrevive à realidade porque o amor é realidade. O amor é convivência, é constante, é companheirismo. É além de querer transar com o outro, além de querer ficar por uma semana, de exibir pros amigos. Amor é querer dormir abraçado e acordar juntos, é dizer bom dia e se preocupar com o que o outro achou da noite passada mesmo que a gente esteja de mal humor. Amar é dividir. Dividir o cotidiano, dividir o cobertor e o calor do próprio corpo, dividir as tristezas, os segredos.  Amar é fazer rir. Mesmo que o outro esteja mal humorado e chato. Mesmo que seja fazer rir de tanto irritar. Mesmo que seja fazendo careta no meio de todo mundo, sem se importar com mais ninguém. Amar é permanecer. Quando o outro parecer estúpido e idiota, quando ninguém quiser ficar, a gente permanece. E permanece porque é necessário e também porque  a gente quer. Permanece porque seremos estúpidos e idiotas uma vez também e amar é ajudar o outro a se sentir melhor. Amar é sentir o que o outro sente. É mais dar que receber. É querer mais fazer o outro feliz do que fazer a si mesmo. É abdicar de egoísmos. Talvez, em certo ponto, abdicar até do desejo de permanecer junto. Amar é deixar o outro livre. Livre pra amar até quando quiser e até quando fazê-lo feliz. Livre pra saber que pode ir embora quando quiser, mas ao mesmo tempo amar é dar motivos pra ficar. Existem milhares de textos sobre o que é o amor. E ainda existirão outros milhares, porque o amor é sublime demais pra uma só frase, é sublime demais pra um livro ou coletâneas. O amor pode caber num adjetivo: inexplicável, mas não pode caber dentro de nós, ele irradia pelos poros, pelos gestos, pelas palavras que não dizemos. O amor é mais.

Eu disse: a lua está tão bonita que dói por dentro. Ele não entendeu. É tudo tão bonito que me dói e me pesa. Fico pensando que nunca mais vai se repetir, é só uma vez, a única, e vai me magoar sempre. Não sei, não quero pensar. Neste espaço branco de madrugada e lua cheia, preciso falar, e mais do que falar, preciso dizer. Mas as palavras não dizem tudo, não dizem nada. O momento me esmaga por dentro. O espanto esbarra em paredes pedindo exteriorização.


Caio Fernando Abreu

quinta-feira, 7 de junho de 2012


Entre as coisas mais lindas que eu conheci
Só reconheci suas cores belas quando eu te vi (...)
E as coisas lindas são mais lindas
Quando você está
Onde você está


Nando Reis

Arranca metade do meu corpo, do meu coração, dos meus sonhos. 
Tira um pedaço de mim, qualquer coisa que me desfaça. 
Me recria, porque eu não suporto mais pertencer a tudo, mas não caber em lugar algum.


José Saramago
Amaria ainda mais se coubesse em mim ainda mais amor. Amaria mais se soubesse como. Se soubesse ficar ou chegar de mansinho e principalmente se soubesse não me quebrar quando perceber que amei sozinha ou amei mais do que devia ter amado. Se soubesse ir embora sem chorar no caminho, amaria mais. Amaria mais se soubesse controlar o medo de afastar as pessoas e se soubesse não afastá-las no final. Amaria mais se não houvesse fim e aquele vazio que fica depois de um amor que não existe mais. Se as pessoas não fossem embora ou se levassem consigo todas as lembranças. Amaria mais se quando enche demais escorre pelos olhos dando pra todo mundo ver. Se confiasse na minha própria cautela. Amaria mais se já não amasse demais, se já não amasse além.
(...) Deixei-me sozinha com ele por um momento. Achei que me comportaria sem a vigília da minha própria consciência, sem a supervisão do receio da minha razão. E quando voltei estava ali, tão entregue que quase não me reconheci.
Nós não somos apenas corpos no mundo. Não somos um pedaço de carne. Não somos o que temos e nem o que fazemos. Não somos cores ou pesos. Não somos objetos de ninguém e muito menos somos enfeites da vida de alguém. Nós somos o que sonhamos. Nós somos o que sentimos. Nós somos o que nos cabe ser e ninguém é alguém pra dizer o contrário.

terça-feira, 5 de junho de 2012

Despenteada e espalhada no sofá rindo enquanto te ouço reclamar sobre um bocado de bobagenzinhas tão minúsculas que nem as enxergo. Amor, pare de reclamar do vidro quebrado da vidraça e olha quanta coisa bonita lá fora. Veja os muros que pintei nas férias, olha as coisas que escrevi pra você. Você resmunga e vai arrumar a cama enquanto eu lavo a louça do café da manhã, depois pelo gosto de irritar te jogo na cama recém arrumada e amasso o lençol que você acabou de estender, você me xinga, me morde, me aperta e diz que sou a pior dona de casa do mundo, depois levanta e me traz uma bandeja cheia de doces, de mansinho se deita do lado e enquanto comemos com a cara mais linda e maliciosa do mundo diz que a louça é minha de novo e só então me dou conta que foi tudo de propósito e que até sendo um ordinário é um amor, e que nada no mundo é mais desordenadamente bonito quanto nossas bagunças.

Então, me diz alguma coisa
Bate aqui de madrugada
Pra lembrar daquele tempo
Pra sempre ou só por um momento
Me dá um beijo na boca
E depois me leva pra tua casa


Armandinho 

Medicina, lei, negócios e engenharia são ocupações nobres para manter a vida. Mas poesia, beleza, romance e amor são razões para ficar vivo.


Sociedade Dos Poetas Mortos
Já não assisto meus programas favoritos. E como as comidas que antes não comia. Hoje acho que legumes não são tão ruins assim. Meus antigos amigos não me visitam mais. Os discos que me faziam danças estão pregados na parede e perdi meu medo de agulhas. Já não sei mais o que vou fazer. Estranho que perdi totalmente a ideia de futuro quando ele se aproximou, antigamente saberia exatamente o que fazer. A maioria das minhas amigas de quando era bem pequena hoje são mães, e embora minha vó diga que elas é que são realmente felizes, eu tenho pena delas e não vontade de ser como elas. Nasci na primavera mas não gosto de flores, aliás até gosto, se não tiver que suportar aquele cheiro de velório que elas trazem. Nasci e me criei numa cidade bem pacata e cresci repetindo pra mim mesma que jamais sairia daqui, as vezes tudo que mais quero é ir pra uma metrópole tão grande que me engula e me esconda dentro dela, todo aquele descontrole e aquele ritmo alucinado que só as cidades grandes podem ter. Os perfumes extremamente doces e florais que usava antes agora me deixam enjoada, hoje uso o perfume do meu pai. Antes eu achava que tinha algum problema por não chorar nunca, hoje acho que o problema virou do avesso por eu chorar demais. Mudei os hábitos. Quebrei as promessas que tinha feito a mim mesma. Desisti dos regimes. Desencanei dos erros e esqueci os acertos - se é que teve algum. Não se sabe por onde ando ou porque faço o que faço. Não se sabe mais dos meus motivos e muito menos do que eu sinto. Ontem, olhei uma foto minha de quando era criança e não reconheci meu sorriso. Hoje sorrio de forma diferente, é difícil explicar pra quem não me conheceu. Não danço mais ballet, não sou a mais inteligente da turma, não sei mais contar piadas e ninguém percebeu a mudança. Meus olhos não brilham como antes ou talvez nem brilhem mais, mas hoje já não importa, ninguém mais olha dentro deles.

segunda-feira, 4 de junho de 2012


Com auxílio de vários lenços de papel, ela me falou que estava me deixando. Não entendi muito bem a razão, e também não perguntei. Se você não quer saber a verdade, faça como eu, não pergunte. Apenas abra caminho, sorria e aguente o tranco.


Gabito Nunes
O último pra você


Engraçado é ver como as pessoas julgam saber o que se passa ou o que se passou. Engraçado é ver como dizem não julgar nada e acabam crendo cegamente nas próprias conclusões que, diga-se de passagem, são precipitadas. Engraçado é ver te analisarem como se você fosse um paciente de psicanálise lendo as coisas que você escreveu enquanto desabafar era a última coisa que você queria. Sabe, era eu sim, era eu o tempo todo sorrindo timidamente, é assim que eu fico quando gosto de alguém. Sou assim, de brincadeiras extremamente sérias. Sou meio difícil de entender o que as pessoas querem dizer e ao mesmo tempo sou precipitada no que eu faço. As vezes, na maioria delas, as coisas acontecem mais rápido do que eu posso entender. E foi mais ou menos assim que aconteceu daquela vez. Na verdade, queria que soubesse que já havia acontecendo a algum tempo, mas eu mesma reprimi isso em mim, afinal havemos de convir que a circunstâncias não eram as mais confortáveis, né? Eu não pude explicar o que senti quando finalmente perceberam que eu era lenta demais pra indiretas, se bem que naquela hora eu já estava perdida demais pra pensar ou fazer qualquer coisa, mesmo que a quisesse. A sensação de ressaca sentimental, se é que existe isso, no dia seguinte. Nesse ponto eu deixo as circunstâncias, as regras da escola, as ameaças de professores e diretores e principalmente o meu medo de pular grades, principalmente quando ele era muito mais alto do lado em que descemos do que subimos, mas pulei e nem me lembro de ter pensado em desistir, na verdade talvez porque estivesse ocupada demais pensando no que dizer caso quebrasse uma perna e precisasse dar uma desculpa esfarrapada pra mim mãe no hospital. Nunca andei tão rápido, fumei tantos cigarros em um período tão pequeno de tempo e nem titubeei tanto em apertar uma campainha. E depois de apertar eu analisei um lugar pra onde eu pudesse correr e desistir, mas fiquei lá. E lá estava eu. Cheias de coisas pra dizer com uma cara de quem não sabia o que dizer e que, de fato, não disse. Talvez a escolha que eu tenha feito depois tenha doído, eu sei. Mas só eu vou saber o que eu fiz e o que senti naquele dia e os meus motivos. Explodia de saudade e me reprimia todos os dias. E eu tentei, eu juro que tentei, esquecer tudo isso. Não deu. Bobagem foi pensar que mataria a saudade. Ainda sinto saudade de quem éramos, das nossas conversas bestas, dos conselhos e das histórias de São Paulo que me contava, ainda sinto saudade da forma que você ria antes, sinto saudade de quem você era sem armaduras. Mas acredite, eu entendi o que você disse e não tô aqui pra discutir seus motivos e nem justificar minhas escolhas, só queria que soubesse que mesmo que não faça sentido, e mesmo que você não acredite até, não importa. Só queria que soubesse que eu quis, mesmo antes de haver qualquer possibilidade de querer, eu quis. Mesmo que não faça a mínima diferença agora pra você, queria que soubesse que quis absurdamente te beijar no dia do sorvete e até no dia que me ensinou a lançar as bitucas que eu dormi no seu ombro e aproveitando ser o último texto que faço pra você, queria que soubesse que eu te desejo toda a sorte do Mundo, daqui ou do outro lado dele. 

Um dia, sério mesmo, quero gostar tanto de alguém como eu gosto de, sei lá, de “Come As You Are” do Nirvana ou de sashimi de atum, de vinho do Porto ou das cartas do Burroughs. Quem sabe eu até vá a casamentos de colegas, chás de avós e campeonatos de xadrez de afilhados. Ou então serei sempre essa causa perdida. Num dia eu acordo e sou só um alguém entediado, e no outro somos duas pessoas numa confusão sem tamanho. Não sei salvar ninguém. Mas, como dar uma de herói quando o crime a combater é você mesmo?


Gabito Nunes
Hoje conversando com um amigo, ele comentou sobre um pássaro forte que tinha olhos extremamente tristes. Na verdade, pouco sei sobre as tais Harpias mas assim que me disseram sobre ela eu senti uma imensa vontade de escrever sobre isso. Tem sido dias difíceis e cada dia algo que eu achava essencial se quebra ou quando eu vejo já não existe mais. A maioria dos laços que eu tinha se soltaram e eu me afastei das pessoas que nunca me viria longe normalmente. Mas ainda assim me ferir não é tão simples, ainda levanto a voz e as mãos se necessário, ainda me imponho e até sorrio ironicamente mesmo que esteja morrendo de vontade de chorar. Mesmo decepcionada eu rio, ironizo e até dou umas gargalhadas até poder sair à francesa, sem que ninguém perceba. Então, quando o Aguinaldo me falou da tal Harpia, o grande pássaro forte dos olhos tristes, algo me fez querer vê-los a manhã toda, quando olhei nos olhos dela, finalmente entendi. Com os meus olhos fechados e enfim derramando as lágrimas que tinha guardado pra mais tarde repeti o segredo que eu e a Harpia tínhamos em comum: A tristeza a gente guarda dentro dos olhos.


Não me deixe triste, não me faça chorar
Às vezes o amor não é o bastante e a estrada fica difícil
Eu não sei por que
Continua me fazendo sorrir.
Vamos ficar chapados
A estrada é longa, nós seguimos adiante
Tentamos nos divertir no meio tempo
(...) Porque você e eu
Nós nascemos para morrer.


Lana Del Rey

sábado, 2 de junho de 2012


As frases são minhas
As verdades são tuas
Enquanto te desejo
Me vejo chorando no meio da rua
Beijo teu sorriso num dia de sol
Que entra pela porta
E canta pela janela
A noite mãe do dia
Molhava tua boca
Na língua da poesia
Oh, meu grande amor de versos perdidos
Murmurando na chuva como um refrão
Que só faz sentido
No fundo da cama


Zeca Baleiro
Uma boa dose de incertezas. A linha entre as brincadeiras e a verdade dita subliminarmente é tênue demais, e eu, que sóbria não sei distinguir uma coisa da outra, bêbada e perdida não sei o que dizer por não saber se entendi o que devia entender. Pra ser sincera talvez eu tenha entendido, mas sou tão teimosa que uso minha teimosia pra me confundir e no fim, acabo não sabendo se era teimosia ou apenas eu completamente confusa. O que eu queria mesmo saber é porque as pessoas se dizem em tantos códigos? Por que algumas pessoas se escondem tanto atrás de um punhado de complicações inventadas?