quinta-feira, 30 de abril de 2015


Egofilia

Narcisa
Egocêntrica
Vê seu retrato em cima dos retratos de alguém que desconhece
Mas se reconhece num traço
Esboço
Rabisco
Poema
Cheiro
Silêncio
Barulho de respiração
Filmes de orgia
Desconhecidos na praia
Crianças no parque
Em tudo está ela a se refletir
A se ver
A se analisar
E se encaixar em espaços que não lhe cabem
Em histórias que não lhe dizem respeito
Em vidas que não viveu
Atemporal
Lunática
Avulsa
Dispersa
Distraída
Psicose
Neurose
Hipnose
Morfose
Fazendo rimas idiotas
Na idiotice que faz sentido
Talvez seja o desemprego
O tédio, a esquizo, a tristeza
Talvez seja egoísmo
E outras bobagens de sua natureza
Talvez nada lhe pareça
Talvez em tudo esteja
Nada sei dela
Tudo dela sei
Ela sou;
 E outras mil mais
Talvez nenhuma delas,
Não sei
Mas olha, eu tenho que saber
E ter certeza
Que estou
Que sou
Que sei
Quais alucinações são reais?
E quem
Pode me provar que não são?
As vezes a realidade é que é surreal demais
Epifania
Enteogenia
Simpatia
Euforia
Folia
Orgia
Alegria
Utopia
Forria
Anestesia
Distopia
Eufilia
Minoria
Filosofia
Bruxaria
Disnomia
Doidaria
Ecologia
Dislexia
Eupraxia
Neologia
Heresia
Egofilia

segunda-feira, 13 de abril de 2015

Ócio mental

 Estou enfadada de tentar me equilibrar entre quem eu sou e quem eu quero ser. Em que eu quero ser.  Em sonhar sonhos que não tenho. A quem estou enganando?
 Talvez seja só o cansaço mental da inércia. O tédio, o desgaste. O gosto amargo do fracasso. O desespero de não aguentar mais essa situação enquanto observo os dias passarem e passarem.
 O bofetão diário de depender das pessoas e da caridade que eu não sei agradecer. Talvez seja só eu em um mergulho tão profundo em mim mesma pra descobrir coisas sobre mim, que acabei de afogando em um "eu" desconhecido. Mais cinza, vazio, melancólico e morfético.
 E me questiono. E não sei me responder.
E até de sentir. Será que sinto porque estou sentindo ou porque é conveniente sentir?
Sentir. Acho que uma das últimas habilidades que não perdi por este caminho que tenho percorrido.
Sinto que minha criatividade decaiu muito, tanto pra escrever minhas baboseiras quanto pra desenhar meus desenhos de pré-escola. Sinto que tudo escorreu sem ser percebido como quando uma garrafa cai e algo ainda sobra nela ali, tombada, e depois que a gente percebe fica encarando o líquido sem saber se termina de derramar, se aquilo é suficiente pra beber ou só vai dar mais vontade ou se joga a garrafa de uma vez no muro pra vê-la quebrar- Essa é uma metáfora lamentável mas não consegui pensar em nada melhor, me desculpe.
 Pedir desculpas me faz me sentir ainda mais cínica. Já que questiono se meus arrependimentos são reais ou só uma simulação pra enganar a mim mesma. Eu não sei se me engano de pensar isso ou se o teatro realmente funciona, porque às vezes eu choro. Mas o choro não resolve o que já foi, não limpa meu histórico e nem minha memória.
 As vezes, num cochilo, eu estou cercada por milhares de fileiras de dominós e castelos de cartas. E eles estão enfeitando um coração conhecido. Sei que qualquer movimento acarretará no caos de ver tudo desmoronando sem nada poder fazer, em vê-lo sendo magoar ou feri-lo. Ninguém merece receber amor com um conta-gotas, e eu não sei fingir estar defronte alguém que o merece aos baldes.
Eu questiono meu sentimento com tudo que posso saber sobre ele e senti-lo. E se fosse com qualquer outra pessoa do mundo, talvez tão frígida como eu, só iríamos levando-nos. Mas não é. É com a pessoa que mais merecia alguém como ela. Exatamente alguém que oferece o amor real, o amor puro e verdadeiro da carta de Paulo aos Coríntios, onde o amor se descreve como paciente e benigno, diz não ser invejoso, não se tratar com leviandade, se ensoberbecer ou se portar com indecência, não buscar por interesses próprios, se irritar ou suspeitar mal do outro, o amor que não aceita a injustiça, mas se alegra com a verdade. Não sou uma pessoa de fé como eu queria ser, mas se mensagens divinas que necessitamos chegam até nós quando pedimos uma resposta. E ela continuava após o poema sobre o amor. Falava sobre a perversidade no coração de quem ignorava o que já sabia e alertava sobre os imorais, avarentos, idólatras, adúteros, caluniadores, alcoólatras e trapaceiros. E eu não me orgulho nenhum pouco de preencher o gabarito. Mas ele não.
Ele é doce, atencioso, paciente, carinhoso, inteligente, engraçado. compreensivo, perseverante. Ele é altruísta, paciente, digno. Ele merece o céu. Merece paz, merece alguém puro, limpo e completo.
Ele é um abraço que silencia o barulho do caos do mundo na minha cabeça. E eu sou barulho, problema. Na paz que ele devia ter. Mas que ele não quer. Nós já tivemos mil conversas sobre isso. E escrever sobre isso e ter a pachorra de publicar é só mais uma das dez mil merdas que eu fiz e faço.
Faço talvez na falta do que fazer, no ócio criativo de não ter o que pensar. De tanto pensar, em nada penso. De tanto querer criar, nada crio. Só reciclo pensamento inúteis sobre coisas que eu não sei lidar. Medos que não sei confrontar. Labirintos de muretas baixas que eu poderia escalar e sair, mas prefiro me perder e choramingar um mapa pra fazer um caminho que eu sei fazer.
Pra não enxergar que estou só me equilibrando entre o que eu sei como é e como eu queria saber que fosse. Mas só é dentro de mim. Só um delírio bobo de uma menina boba, só mais uma bobagem.

domingo, 12 de abril de 2015

Sonífera ilha

Eu sou juiz e réu do meu próprio julgamento. E me condeno. Mas você me absolve.
O velho e conhecimento sentimento de inquietude. Taquicardia, mãos suando, insônia, mal humor, dificuldade de prestar atenção, de memorizar a última frase dita. "Você está me ouvindo?"- E desperto. Estou. Estou te ouvindo. Mas também estou a me ouvir, e eu grito em meus próprios tímpanos.
E saio enquanto você dorme, de madrugada. Não antes de te cobrir e te dar um beijo na testa. Isso soa bonito não livro, mas não em um mundo onde pessoas normais em um relacionamento abandonam as outras enquanto elas dormem. Rua vazia, Lua cheia, cigarros que se acendem na bituca do anterior com a certeza de que serão a bituca que acenderá o próximo.
Alguns pensamentos são como trepadeiras que se enroscam e emaranham no muro e vão subindo. E eu os podo sempre pra que não me cheguem aos olhos, mas elas cresceram rapidamente. E a culpa foi minha. Eu as adubei em pequenos momentos de fraqueza, estupidez, cansaço e tédio.
Choro, xingo, fumo e penso em como seria bom apenas desaparecer. Sem corpo, sem explicação, talvez pensassem que fui abduzida. Mas ninguém me sequestra. Eu penso em voltar, mas bati o portão e não tenho as chaves. Eu me sinto numa vida com várias metáforas como essa ocasião: Portões automáticos que bati nas minhas costas e esqueci a chave. Encontro uma garrafa de Jurupinga quase vazia. A ideia de um mendigo tê-la abandonado não me assusta, já que mendigos não abandonam garrafas com líquidos dentro, ainda mais líquidos que custam vinte e dois reais o litro. "Que nojo!"- Você diz na minha mente enquanto eu bebo, infelizmente, não o suficiente pra me sentir bêbada. Sento na praça.
A praça é vazia às duas da manhã como não costumava ser quando eu tinha dezesseis. E nem eu, tão sozinha dentro de mim ou cercada por mil amigos que não sei se me amam ou se me aturam. E a sensação de estar incomodando nunca mais saiu de mim, talvez a pedra esteja apenas na minha mão, na minha cabeça. Talvez eu mesma é quem tenha travado as engrenagens.
Nessas situações, como num filme brasileiro de baixo orçamento, entraria num bar e compraria uma dose de pinga. Que custa, em média, dois reais. Mas eu não um puto, é claro. E os cigarros que eu fumo na fuga, foi você quem comprou. Uma puta fumante que foge à surdina. Fico estática olhando a árvore, a fonte, a praça que dividem comigo a sua solidão.
Não demoro a me lembrar que a praça tem wifi grátis da prefeitura e então, no desespero de te causar alguma mágoa te metralho de áudios mal-ditos (ou malditos?) e palavras com letras erradas de dedos molhados de nervosismo escorregando pelo touchscreen.
E eu dizia "Tudo o que eu mais queria na vida era poder dizer que eu sou a pessoa que você está procurando" e dentro de mim eu só queria ter me alinhado ao teu sono bonito e adormecido contigo, mas eu não tinha sono e por quanto tempo poderia fingir dormir sem te acordar?
E meu chorinho infantil com palavras tantas coisas que eu não disse mas deixei falarem por si só terminaram com uma ligação-despertador, por que a minha bateria estava acabando e porque eu não queria que a noite acabasse sem saber qual seria a minha sentença. E você foi até lá. E eu pulei no seu pescoço. Você me abraçou e nós estávamos distante de tudo. Minha cabeça silenciou, a trepadeira foi podada, minhas mãos estavam secas e meu coração em paz. "Está tudo bem"- Você disse. E estava.
Mas eu, de uma forma ou outra, acabei acordando você.

quinta-feira, 9 de abril de 2015

As histórias mais bonitas tem o gosto do teu riso


E o dia de verão feliz da minha infância tem a cor dos teus olhos alaranjados,
E os sonhos bons tem o teu cheiro no meu lençol e travesseiro,
E o cobertor que uso em dias frios a temperatura de dentro do teu abraço
E sorvete de mamão, banana e cereja
Picolés com piadinhas infames no verso
E sair de moto pra admirar a paisagem das rodovias
Só por estar
perto de você
Festival de desenhos, pipoca e refrigerante
acampamento no sofá
Ou a nossa barraca estampada com nossos dias doces na natureza
Eu amo você
e amo estar com você