segunda-feira, 1 de abril de 2013


Infinito

Não te parece uma coisa boba eu ter tanto medo de morrer agora? Não que eu não tivesse medo de morrer antes mas agora é diferente. Tenho medo da dor que isso causaria em você, tenho medo de te deixar aqui sozinho. E principalmente, tenho medo que depois eu não te encontre nunca mais. Que, sei lá, nós virarmos seres puros que não tem mais esse tipo de relação ou que nós renasceríamos de novo e nas próximas outras vidas e não nos lembremos disso que vivemos juntos nessa, um medo absurdo de simplesmente nos desencontramos. Sabe, pensar nisso me dói um bocado. Dói pensar que eu posso renascer e depois não me lembrar das coisas que vivemos juntos, sabe? Também penso que talvez nós já tenhamos vivido tanta coisa, em outros tempos e outras vidas e não nos lembramos hoje também me incomoda um pouco. É tão estranho pensar nisso, não é? Pense em todas as mínimas coincidências que aconteceram pra gente se conhecer. Você, desde pequeno, mudando de cidade e se eu nunca tivesse terminado aquele namoro nem você? Nós ainda estaríamos envolvidos com outras pessoas e passaríamos despercebidos lado a lado na rua, ou pior, nós nunca nos conheceríamos. Eu tenho medo de morrer e renascer em algum lugar e perder todas essas memórias e nunca mais encontrar você. Céus, me enlouquece pensar nisso. Eu nunca contei pra você mas meu maior medo é que a gente se desencontre, Lucas. A morte, agora, me assusta tanto que você não imagina.Talvez só seja mais uma das minhas bobagens. Às vezes eu me pego orando. O problema da minha falta de fé não é minha ira pelas desgraças injustas do mundo, não. O problema da minha falta de fé é só um vazio que não consigo preencher mesmo que eu tente com todas as forças do meu coração e, acredite em mim, eu já tentei muito. Ainda assim, de vez em quando, eu oro sem perceber. E eu peço pra Deus por nós, seja onde for e seja como for. Mas Ele continua sem responder. A vida parece tão pequena perto do que eu sinto por você. Parece poético, não é? É bobagem sentir um medo bobo de não ser enterrada com você? Céus, nunca achei nada disso necessário mas hoje sinto vontade de fazer um bilhete de despedida pra ser aberto quando eu morrer e nele estar escrito em letras maiúsculas "me enterrem numa cova onde possa caber esse magricelo também." E embora não seja poético e até parece um pouco assustadoramente obsessivo, e é real. Eu tenho pensado em tanta coisa que minha cabeça parece querer explodir. Penso em nós, na nossa casinha, nos filhos que vamos ter. Penso no futuro, nas comidas que vou cozinhar pra você e num jeito legal de colocar os móveis (mesmo não tendo ideia de como serão os móveis). Penso nas conversas, na convivência, em te ouvir roncar e velar teu sono todas as tardes. Penso na gente descobrindo juntos fios brancos na cabeça um do outro e trocando memórias na vida que passamos juntos. Penso nisso sem nem ainda ter vivido nada, amor. Penso no teu sorriso intacto no teu rosto sendo mudado pelo tempo, mas teu sorriso continuando a coisa mais linda que eu já vi. Quando penso em tudo isso penso em quanto tempo demorei pra encontrar você. E me pergunto como é que eu consegui viver 17 anos sem você. Penso em como seria bom se nossas mães tivessem se conhecido em alguma coisa para grávidas e no dia em que tive alta na maternidade você estivesse esperando lá fora. E dividirmos um berço, e os brinquedos do parquinho, caçoar de você quando seus dentes caíram e te ouvir caçoar dos meus, também. Queria você em cada segundo e ainda seria pouco. Pra nós, eu só aceito a eternidade.
É sempre mais simples quando é com o outro. Quando a poesia já vem pronta dentro da gente e a gente sabe o que sente. É sempre mais bonito quando é dito inteiramente com o coração, e sempre mais difícil de dizer também, não nego. E é sempre melhor quando você está, mesmo quando não há nenhum sentido entre as palavras que dizemos, parece que acaba fazendo sentido pra gente. Você me trouxe a fé que talvez seja possível continuar olhando o mundo com meus olhos cheios de curas imaginárias pra tudo, e o que não for possível a gente pode sempre dar um jeito. "Pra nós todo o amor do mundo" cantarolo, como se já não fosse nosso.