domingo, 30 de outubro de 2011

"Se não fosse amor, não haveria planos, nem vontades, nem ciúmes, nem coração magoado. Se não fosse amor, não haveria desejo, nem o medo da solidão. Se não fosse amor não haveria saudade, nem o meu pensamento o tempo todo em você." 


(Caio Fernando Abreu)
Plantei num jardim um sonho bom,
Mostrei meus espinhos pra você.
Faz que desamarra o peso das botas e fica feliz. 
Abre o guarda chuva que hoje o sol desistiu de sair.
Esse perfume de alecrim
Trouxe de volta um sonho bom.
Posso até olhar pela janela
E recitar "une petit chanson"

Cantei pra você meus velhos tons,
Perdi seu ouvido pro jornal.
Eu trago a dança que me inspirou o café sem açúcar e tal
Analise o fundo da xícara, a esperança é igual.
Eu confesso só me resta a vida inteira.
Só me resta vida em mi maior e lá



Tiê
Ainda é outubro? Pois é. Os dias tem passado longa e dolorosamente. O ano ainda é o mesmo. E tudo está uma merda. Tenho me sentido sozinha, tenho tido vontade de brigar com todos sem motivo. Aliás tenho tido vontade de não conversar com ninguém ultimamente. Tenho sido rude com pessoas que não tem culpa. Tenho feito coisas autodestrutivas. Tive até vontade de morrer, mas acho que agora estou melhor quanto a morrer. Se bem que no ponto em que andam as coisas, bem.. Tudo tem parecido tão chato e eu tenho vontade de chorar durante meu almoço, mas só consigo chorar quando vou dormir, e choro com toda força mas a vontade de chorar ainda continua quando acordo. Por mim eu deitaria e dormiria por meses, mesmo quando acordo eu não quero sair de cama. Mas mesmo assim eu levanto e sorrio sem vontade, acho que qualquer dia desses eu acredito nessa mentira toda de estar bem. Acho que qualquer dia desses tudo fica bem, tudo se resolve, para de doer. Enquanto lembro os momentos e releio conversas antigas, olhando o sorriso verdadeiro da fotografia eu engulo seco e me contenho. Chega gente. E me perguntam como estou "estou bem" sai mecanicamente. Volto pro quarto. Sei que vou estar sorrindo na janta, falando pouco, afinal não sou tão boa atriz. Mas ainda assim sorrindo, dizer que saí e jurar que estou feliz. Não tenho escrito muito sobre o que tem acontecido porque é sempre exatamente assim. Igual. Doído. Me deixando dilacerada, completamente exausta, embebida de lágrimas no escuro. "Ninguém precisa saber que você está mal" minha mãe me disse. Foi um conselho bom. As pessoas não gostam de ouvir lamúrias, principalmente as minhas de romântica incurável, que são ainda piores porque não me seguro e choro. Minha mãe disse pra eu não falar mais sobre isso, pra não chorar mais, pra não correr mais atrás e pensar nisso o mínimo possível e eu tenho tentado segui-los. Mas tem sido difícil. Sou difícil de abrir o coração assim. Da ultima vez que contei como me sentia e meus segredos pra alguém, esse alguém teve que me deixar ir, em outras palavras: se afastou. Mas como diria Caio Fernando Abreu "Talvez eu só precise de férias, um porre e um novo amor". As férias eu aceito, o porre eu já tive e ainda não adiantou. E o novo amor, bem. Eu ainda queria tanto o atual sabe. Mesmo depois de tudo. Mesmo assim eu queria dizer que queria continuar com aquele, mesmo que isso seja idiota e masoquista. Pelo visto eu sou mesmo muito idiota e masoquista. 
‎"Imagine-se consigo mesmo em um barco em um rio
com árvores de tangerina e céus de marmelada
Alguém te chama, você responde muito lentamente
Uma garota com olhos de caleidoscópio
Flores de celofane amarelas e verdes
Elevadas sobre a sua cabeça
Procure pela garota com o sol em seus olhos
E ela se foi
(...) Siga-a abaixo em uma ponte através de uma fonte
Onde pessoas de balanço de cavalinho comem tortas de marshmallow
Todos sorriem enquanto você é levado através das flores
Que crescem tão inacreditavelmente alto
Táxis de jornal aparecem à margem do rio
Esperando pra te levar
Suba na traseira com sua cabeça nas nuvens
E você se foi
(...) Imagine você mesmo em um trem numa estação
Com porteiros de massa-de-modelar com gravatas de espelho
De repente alguém está lá na catraca
A garota com olhos de caleidoscópio
Lucy no céu com diamantes
Lucy no céu com diamantes
Lucy no céu com diamantes"

(The Beatles)

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

‎"Se você tivesse frio, eu te abraçaria bem forte até te aquecer.
Se você tivesse sono, eu acariciaria os teus cabelos até você dormir.
Se você perdesse o juízo eu te aconselharia, te cuidaria.
Se você tivesse interesse eu te contaria todos meus segredos.
Se você tivesse medo, eu seguraria sua mão e enfrentaria qualquer coisa com você e qualquer coisa que te entristecesse, eu te faria feliz em dobro."

terça-feira, 25 de outubro de 2011

Ainda a ideia de que nunca mais vou te ver ou te tocar não desse pela garganta. Parece mentira sabe? Parece que qualquer dia desse vou estar em algum lugar e e você vai vir com um copo na mão, me oferecer e eu vou aceitar, dai a gente vai andar junto e você vai comentar cada vez que passar uma menina bonita, vou dizer que estava com saudade e você então vai reclamar da distancia de ir pra casa e vai reclamar muito por não morar mais perto de casa pois pediria carona. Parece que qualquer dia vou te ver por ai e você vai falar meu nome com a voz mole, meio puxando o 'e' no final, meio mascando chiclete, malandro como sempre. Dai vou rir e te beijar o rosto, dizer que tô com saudade, que você sumiu. Vou perguntar o que você anda fazendo, por onde anda dando role, se está namorando e onde está morando. Vou dizer pra aparecer mais por ai, falar dos eventos que vão ter, e dizer pra você ir pra gente lembrar dos velhos tempos. Descanse em paz Renan.

Armas químicas e poemas

Eu me lembro muito bem, como se fosse amanhã:
O Sol nascendo sem saber o que iria iluminar.
Eu abri meu coração como se fosse um motor
e na hora de voltar sobravam peças pelo chão..
Mesmo assim eu fui à luta... Eu quis pagar pra ver.

Aonde leva essa loucura
Qual é a lógica do sistema
Onde estavam as armas químicas
O que diziam os poemas

Afinal de contas
O que nos trouxe até aqui, medo ou coragem?
Talvez nenhum dos dois.
Sopra o vento um carro passa pela praça e já foi... Já foi.
Por acaso eu fui à luta... Eu quis pagar pra ver. 


Engenheiros do Hawaii



(...) Mas agora lá fora tudo parece mecânico demais, falso demais, passageiro demais. Durante algum tempo achei que o auto-destrutivo fosse o caminho mais divertido, depois achei justamente o contrário. Mas ainda assim de alguma forma acabou sendo auto-destrutivo também. Então o silêncio total, inclusive de mim mesma, que não soube o que dizer. E tudo o que eu mais quero agora é que o tempo passe rápido pra que eu possa voltar pra casa. Queria mesmo de verdade algo que permanecesse. Mas depois de tantas idas me sinto idiota por ter acreditado que ficaria. Se todos foram embora porque dessa vez seria diferente?
Me diga como você pode
viver indo embora
sem se despedaçar?



Zélia Duncan 

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

O máximo que eu espero da vida é que ela tenha quatro letras, duas sílabas, duas vogais e duas consoantes.
Segunda-feira é mais difícil porque é sempre a tentativa do começo de vida nova. Façamos cada domingo de noite um reveillon modesto, pois se meia noite de domingo não é começo de Ano Novo é começo de semana nova, o que significa fazer planos e fabricar sonhos.

Clarice Lispector

domingo, 23 de outubro de 2011

Como se dá a alguém um pedaço do céu?
 Markus Zusak
Continua com os movimentos cotidianos. Veste um sorriso falso. Senta-se à mesa no almoço de domingo, mantem a postura. Jura mil vezes que está tudo bem, que o rosto triste é apenas cansaço, espera acreditar na própria mentira. Que está tudo bem, que vai passar rápido. Agora agradece pela dor física enquanto se contorce sem remédio, enquanto isso a distrai pra ela não pensar em mais nada, ocupada demais pra qualquer outro tipo de dor. Chora até não conseguir respirar como se quisesse gastar todas as lágrimas hoje, mesmo sabendo que é em vão. Que tudo é em vão. 
"..uma palavra na tua camiseta, um planeta na tua cama."

Engenheiros do Hawaii
Aquele sentimento que era passageiro
Não acaba mais
Quero explodir as grades
E voar
Não tenho pra onde ir
Mas não quero ficar


Engenheiros do Hawaii
"Porque a vida segue. Mas o que foi bonito fica com toda a força."

Caio Fernando Abreu

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Corro perigo
Como toda pessoa que vive
E a única coisa que me espera
É exatamente o inesperado



Clarice Lispector

domingo, 16 de outubro de 2011

Vários perguntam se eu tô bem
Mas poucos se importam com a resposta

━ emicida
Entre soluços no escuro, com uma mão na boca tentando abafar o choro e outra no teclado digitou "muito feliz". Quem poderia saber?

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

- Olá querido, se lembra de mim? Já fazem tantos anos. Eu costumava rir das suas piadas bobas, falar muito, fazer caretas pra te ver rindo. Eu costumava conversar com você a madrugada toda e você costumava me falar sobre as coisas do seu dia. Nós costumávamos contar nossos segredos, nossos medos, nossos sonhos, inclusive o sonho de vivê-los juntos. Mas a distância foi forte demais ou nós fomos fracos, ou mesmo nunca daria certo, mas alguma coisa sempre me dizia pra continuar tentando, até que um dia vi que estava sozinha nisso. Até que um dia vi que o destino vence. Que nem tudo era real, então o vão entre nós foi crescendo, eu desisti e você nem lutou pra que eu ficasse, você assentiu como se desse por dentro graças por eu ter finalmente desistido. Você não se lembra? 
Chorava como se quisesse que o sentimento saísse junto com as lágrimas, toda frustração, toda saudade, todo silêncio e frieza que ficou depois. "Nunca mais será como antes" sussurrava; mas nem ela mesma podia ouvir. Degustava o sal das lágrimas que paravam nos lábios e lavavam o rosto como lava-se uma ferida pra ela cicatrizar mais rápido e não infeccionar. "Essa sempre irá doer" sabia. Algumas escolhas são pra sempre.



Ela teimou e enfrentou
O mundo
Se rodopiando ao som
Dos bandolins
Como fosse um lar
Seu corpo à valsa triste
Iluminava e à noite
Caminhava assim

Um significado interessante:

Amor:¹Afeição profunda 
²Zelo, cuidado.

Dia das crianças, pra sempre.

Quando eu era criança, contrariava muito Peter Pan, pois queria logo ser adulta. Isso de ser criança era chato demais pra mim, sabe. Ter que obedecer, todo mundo cuidando de você é algo chato. Dai as coisas que eu mais amava foram ficando chatas, tipo brincar de boneca, barbie, comidinha e minhas brincadeiras foram sendo deixadas de lado. Achei que estava adulta até. Bem, tempo, tempo, tempo, tempo. E cá estou. Ouvindo todos dizerem que responsabilidade é uma merda e que eu agora tenho que tê-la, que cresci. Agora tenho que trabalhar, dentro ou fora de casa. A maioria das minhas bonecas ficou decepada no lixo e talvez até já derreteu, ou ainda brinca com alguma garotinha que ganhou de alguém, que ganhou de alguém que ganhou de mim, mas muitas delas já deve estar derretida. Na minha infância quis ser professora, médica, estilista, veterinária, trabalhar em fábrica de sorvete ou chocolate. Enfim, cada coisa que eu via era uma profissão que queria ter.  Acho que sinto um bocado de saudade dessa época. Só não é mais porque eu não escondo que quem eu fui ainda está em quem eu sou, sabe? É como se  tivesse mudado muito mas ainda assim continuasse a mesma coisa. Ainda gosto de brincadeiras bobas, piadas sem graça, ainda brinco de cozinhar com comidinhas de verdade agora, ainda brinco de casinha com uma casa de verdade, com crianças de verdade. Ainda quero várias profissões, ainda não me decidi. Ainda gosto das coisas que comia quando era criança. Não entendo quem acha que tal comida é para crianças. As comidas que são taxadas assim são as mais gostosas - sim as menos nutritivas mas ainda assim as mais gostosas. - Salgadinhos (de isopor ou não), suspiros, algodão-doce, paçoca, maria-mole, danoninho, aquelas chupetinhas de açúcar, sorvete, pipoca, sacolé, pirulito etc. (se não minha vasta lista de comidinhas saudáveis vão dar um texto sozinhas) Bem, para resumir a ideia queria dizer pra nesse dia das crianças cada um olhar pra dentro de si e observar a criança que ainda vive ali, pra quem demorar pra encontrá-la tirá-la do cantinho da disciplina, e ser feliz como criança eeee \o/

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Roendo as unhas. Vento do ventilador vai secando o rosto. Se cobre até estar molhado de suor. Vinho barato e cigarros no cinzeiro. Ciclo vicioso. Música melancolicamente clichê, cena clichê, quase-amor clichê. Suspira. Rodando inútil por esse labirinto sem saída. No escuro ninguém me vê, ninguém percebe. Sem nada ao redor. Nem dor, nem arrependimento, nem tristeza, melancolia, alegria, ódio ou nada. Nada mesmo. Um vazio enorme. Por dento, por fora. 
Talvez seja covardia ou medo. Mas já arrisquei tanto e no fim o que aconteceu? Nada. Nadinha mesmo, nem algo que desse esperança. Fiz incêndios inutilmente e do outro lado, nenhuma fagulha sequer. E agora eu sem muito o que dizer, isso me deixou tão frágil por dentro e tão fria por fora. Eu fui o chão para dar apoio e me tornei o chão pra ser pisada, sabe? Mas aprendi, e agradeço por isso. E por mais que doa a vida vai seguindo e vai faltando espaço, e se é pra tirar que seja algo que não faz bem. Acho que valeu a pena de alguma forma, rendeu bons textos, boas histórias. E eu desejo que seja bom pra ele, que ele seja feliz lá no canto dele, na cidade dele, na vida que ele nunca deixou nem sequer um minuto, que na verdade eu nunca cheguei entrar. Termino com o pensamento que ouvi na novela das seis "um amor impossível não acaba porque ele nunca começa realmente".
Depois, cantou “se mil vezes você me deixar e voltar, eu aceito”.
— Carlos Drummond de Andrade 

terça-feira, 4 de outubro de 2011

Saibas desde já, que dessa forma sou eu.
Nua e crua,
Pequena e sem rumo,
Vulgar, ambígua e suja.
Sou.
- Kill rock'n'roll. *-*
- É, muito foda.
In the end it all goes away.
- Como se eu não soubesse.
 Para sempre é sempre por um triz.


Chico Buarque
"Quando você sente saudade demais de uma pessoa, então começa a vê-la nas outras, em todos os lugares, de costas, por um jeito de andar, de sorrir ou virar a cabeça de lado."
Caio Fernando Abreu

segunda-feira, 3 de outubro de 2011



Basta-me um pequeno gesto,
feito de longe e de leve,
para que venhas comigo
e eu para sempre te leve.


Cecília Meireles
Eu pago meus pecados, carrego meus bocados, cumpro minhas promessas, amenizo minhas pressas. Eu me torno singular e quase em paz. Quase, quase. 
Só para depois começar a viver com o coração e estragar tudo.

Zazuleijos
Prefiro assim com você
Juntinho, sem caber de imaginar
Até o fim raiar.

— Marcelo Camelo
Enquanto houver você do outro lado, aqui do outro eu consigo me orientar.


O teatro mágico.

 Seus lábios são labirintos que atraem meus instintos mais sacanas.
— Engenheiros do Hawaii
"Aí fico sem dizer nada, porque o silêncio enobrece e evita, mas machuca. Tem lá seus prós e contras, como toda medicação que se toma por doença ou outra coisa. Mas vicia. Leva umas dores embora, trás outras consigo. Amordaça a voz que de tão amassada dentro do corpo, já não quer mais sair." 
"Uma pessoa não é um doce que você enjoa, empurra o prato, não quero mais."


Caio Fernando Abreu

domingo, 2 de outubro de 2011


Tu eras também uma pequena folha
que tremia no meu peito.
O vento da vida pôs-te ali.
A princípio não te vi: não soube
que ias comigo,
até que as tuas raízes
atravessaram o meu peito,
se uniram aos fios do meu sangue,
falaram pela minha boca,
floresceram comigo.
                    Pablo Neruda


O meu amor tem um jeito manso que é só seu
E que me deixa louca quando me beija a boca
A minha pele toda fica arrepiada
E me beija com calma e fundo
Até minh'alma se sentir beijada

O meu amor tem um jeito manso que é só seu
Que rouba os meus sentidos, viola os meus ouvidos
Com tantos segredos lindos e indecentes
Depois brinca comigo, ri do meu umbigo
E me crava os dentes
Eu sou sua menina, viu? E ele é o meu rapaz
Meu corpo é testemunha do bem que ele me faz
O meu amor tem um jeito manso que é só seu
Que me deixa maluca, quando me roça a nuca
E quase me machuca com a barba mal feita
E de pousar as coxas entre as minhas coxas
Quando ele se deita
O meu amor tem um jeito manso que é só seu
De me fazer rodeios, de me beijar os seios
Me beijar o ventre e me deixar em brasa
Desfruta do meu corpo como se o meu corpo
Fosse a sua casa
Eu sou sua menina, viu? E ele é o meu rapaz
Meu corpo é testemunha do bem que ele me faz.

Chico Buarque

Entre por essa porta agora
E diga que me adora
Você tem meia hora
Pra mudar a minha vida
Vem, vambora
Que o que você demora
É o que o tempo leva

Adriana Calcanhoto
(...) E mesmo sabendo que ele não voltaria, mesmo sabendo que nunca mais tornaria a vê-lo a menina abriu a gaiola, passou o dedo entre suas penas e tirou o braço pra que ele percebesse que havia espaço pra sair. Então ele olhou com cara de interrogação, mas saiu apressado antes que ela mudasse de ideia. Ganhou os céus. Doeu, mas ela sabia que ali nunca seria feliz. Doeu muito, mas estava feliz por ele. A saudade antecipada já doía pelo dobro, mas não se arrependeu. Secou as lágrimas, abraçou as pernas e sussurrou para si mesma de olhos fechados "deixo livre as coisas que amo" e um sorriso brotou-lhe molhado entre as lágrimas.

sábado, 1 de outubro de 2011


Eu usei todos os truques
Mas me esqueci
Que todo mundo ama
Exagera tudo
Mas depois disfarça
Foge pelos fundos

(Cazuza)
Pendura o coração ao sol, menina, que é de luz que se alimenta esse músculo que estica e rasga e se arrebenta. Sangra, arde, dói, mas não aguenta bater sem cor, sem lágrima, sem céu, sem nuvem, sem vento. Levanta o olhar e vê. E, quando você menos perceber, tum tum tum tum tum tum tum. Ele vive.


André Gonçalves 
Parece incrível ainda estar vivo quando já não se acredita em mais nada. Olhar, quando já não se acredita no que se vê. E não sentir dor nem medo porque atingiram seu limite. E não ter nada além deste amplo vazio que poderei preencher como quiser ou deixá-lo assim, sozinho em si mesmo, completo, total.

Caio Fernando Abreu
Sinto falta dele. Sendo que posso vê-lo ali, na varanda sentado. Sinto uma falta enorme dele. Falta das conversas, dos conselhos, de dizer o que queria, sinto falta da presença por completo e do interesse nas minhas opiniões, da época em que cada gesto meu não fosse frustrante, e que tudo o que eu fizesse estaria errado. Falta de ser a garotinha do papai, que não sou a tantos anos. Cada dia o silêncio me afasta mais, e o que é ainda pior, as palavras que vem entre os silêncios são apenas murmúrios pra me lembrar de que eu decepciono. E talvez decepciono mesmo, talvez o meu melhor não seja mesmo suficiente, talvez seja difícil ver que eu me esforço, talvez me esforce pouco demais. Eu já me sinto seca, sabe. Mesmo que eu tente, já não encontro um caminho pra me reaproximar, talvez seja até melhor pra evitar feridas maiores. A prova disso é que você está ali, diariamente, agora, a uns dez metros de mim, eu posso te ver pela janela, eu posso te chamar e eu posso ir até ai. Mas eu não vou, sei que não vou. Sei que prefiro escrever sobre o que sinto comigo mesma num blog, desabafar pra um bando de gente que eu nem sei ao certo quem é que vai ler do que simplesmente ir e dizer. Complicado, dolorido. Talvez essa fantasia de pai e filha superpróximos já não nos cabe mais. Talvez isso melhore com o tempo, ou piore. De todos os assuntos, de todas as rejeições essa é a que mais me dói. De todos os silêncios esse é o que me faz chorar com mais facilidade. Quase instantâneo. Mas ele nunca vê, mas ele nunca nota. Porque assim como ele, eu me escondo pra chorar, assim como ele eu escondo os vestígios que isso me causa. Assim como ele eu sorrio discreta e falsamente quando passo por perto, em silêncio. E então o meu riso infantil das piadas que ele contava soam na minha cabeça e eu penso se soam na dele também. Mas isso é uma coisa que eu nunca vou saber. E nem ele. 
Vence quem passa por essa vida rindo. E se o preço que se paga por ser um pouco feliz é ser um pouco idiota, dane-se.




Tati Bernardi
E eu tenho medo de perder o que não me pertence, e eu desejo o que não existe, eu vejo as coisas como elas são, mas também vejo da forma que queria que elas fossem. Eu ainda gosto de coisas que gostava a anos, e algumas eu nem sei de como gostei. Eu tenho medo do futuro, de perder quem eu amo, das ausências, das decepções. Isso me aflige muito, mas então eu deito e durmo, sabendo que não tenho nada mais que o agora. E a certeza que tenho é que não tenho tempo nenhum pra desperdiçar temendo ou me lamentando.