sábado, 28 de dezembro de 2013

Duas voltas

O Sol permanece no mesmo lugar, eu acho
Nada é certeza
Um mesmo quarteirão
mudou a minha vida
Dois anos
Duas vidas atrás
Duas piscadas de olhos
O som da sua risada lateja na minha cabeça
Às vezes eu rezo
Pra todos os santos e deuses

pra que você esteja bem
esteja onde estiver
Queria só te olhar refletindo sobre a vida
sobre músicas antigas, sobre marcas de cigarro
Queria te olhar enquanto você olha pro nada
E mosca
E sonha
Divide segredos
Um cigarro
Um copo de uísque barato
Manter um silêncio santo enquanto alguém bate na porta
Risos abafados
Deixa bater
Agora sou eu quem bato
na porta de um Deus que me disseram que
responderia minhas perguntas
resolveria minhas nostalgias
Ninguém atende a porta
nada resolve
não há respostas
Duas voltas
E o Sol ainda lá
Mas não brilha como antes
Nós enlouquecemos
Mas eu fiquei aqui
Delirando sozinha

sexta-feira, 8 de novembro de 2013

O amor não é para os equilibrados. Não somos feitos para nos encaixar, mas para arrebentar as caixas. Mesmo quando não tenho razão, eu teimo. (...) Seduzir é cutucar, esbarrar, encher o saco, expor as fantasias, ensaiar aproximações novas, não desistir da personalidade, contrariar as expectativas, fazer drama para despencar na comédia. A tara pede exclusividade. O sexo depende do conflito. Ser a melhor pessoa é uma ofensa para mim, desejo ser a pessoa predileta, a pessoa necessária. 



Fabrício Carpinejar

sábado, 28 de setembro de 2013

Elegerit

Liberdade. Liberdade. Liberdade. Repetindo como um mantra. Liberdade. Liberdade. Todo mundo quer ser livre. O que é ter liberdade? Acho que me deparo com a escolha da liberdade aqui e agora. Talvez eu esteja tecendo uma corda pra me enforcar depois, eu sei que tudo tem consequências. Mas cansei de apagar textos por medo das consequências que eles trariam. Liberdade pra dizer, pra escrever e pra publicar. Liberdade pra ser quem eu quiser ser. Liberdade pra ir onde me dar na telha sem ter que avisar ninguém. Liberdade. Liberdade pra fazer o que eu quiser, isso cause ou não danos a minha saúde ou me traga os riscos, aliás, liberdade pra assumir os riscos por mim mesma. Liberdade. Eu não me sinto livre.

Ontem observando o céu eu percebi que meu sonho é viajar o mundo. Na verdade a palavra que eu procuro é mochileira. Sim, mochileira. Eu queria ser mochileira. Falando no assunto ouvi em resposta "Eu prefiro uma cama quentinha pra dormir toda a noite." Bem, tá ai o drama: Eu não. Eu sou do tipo que dorme na grama mesmo, de cansada. Sou do tipo que gosto de ficar olhando as estrelas, gosto de me enfiar em aventuras fodidas com meus amigos, de passar frio e dormir ao ar livre, suja e cansada demais pra reclamar. Eu gosto disso, então, se eu precisasse fazer uns bicos por aí de qualquer coisa e viajando o país todo ou o mundo, pouco me importaria. Ok, infantil. Ok. Talvez depois parei pra pensar. Nas sensações que tenho tido. Na vida que tenho levado, embora ache mais certo dizer que quem me leva é ela. Eu quero o mundo todo. Aliás, quero mais que isso. Quero o senhorio de mim mesma. Latejava na minha cabeça o tempo todo que eu tinha muitas escolhas na vida, duas pareciam mais eminentes.

Uma era a liberdade.
Liberdade pra viajar pra algum lugar e dormir onde tivesse lugar pra mim. Num gramado, num hotelzinho barato ou num banco de praça. Liberdade pra ter a vida mais louca que pudesse ou quisesse, pra quando fosse morrer eu pensasse que vivi tudo o que tinha pra viver. Pra morrer com a ilusão de que talvez minha vida não tenha sido desperdiçada em ser só mais uma vida comum de dona de casa, que sinceramente eu não sei se gostaria. E eu me enfado tão fácil. Eu queria era chupar a até a última gota da vida e depois comer o bagaço que restasse, mesmo que o gosto não fosse tão bom, só pra saber como é, só pra saber que cheguei lá onde sempre quis chegar. Só pra ter o gosto de assumir por conta e risco o que tinha feito no fim. Não ter ficado no marasmo de ir deixando me levar. Eu quero toda a culpa ou glória de ter sido eu e feito tudo o que eu quis no fim. É a mesma velha Francine, que dormiu um bom tempo, aconchegada e confortável. Você já esteve tão cansado que deitou e pensou que não levantaria mais da cama? Eu já. E depois ficou na cama só mais um pouco, só mais um pouco. Mas chega uma hora em que não dá. Chega uma hora em que levantar é a única opção pra não começar a enlouquecer e se arranhar. A verdade é que eu, depois de desperta, não consigo ficar mais na cama.

A outra escolha é o amor.
É cruel da minha parte cogitar uma outra hipótese? Eu acho. Eu sinto até um pouco de remorso. Remorso por aliviar o peito aqui, pela sinceridade que pode ser exagerada. Mas chega, chega de escrever até chorar e depois apagar tudo porque ninguém pode saber. Chega de desviar de mim mesma, só um pouco. Eu preciso respirar. Você já se sentiu sufocar mesmo querendo ficar ali? Bem, eu me sinto às vezes. Eu nunca gostei de ficar muito tempo entre paredes. Acho que sou um pouco claustrofóbica. Mas, não posso ser injusta. É uma escolha que eu queria fazer de coração completo. Uma casa linda, um quintal cheio de animais de estimação, filhos e um marido que me ame. Eu quero isso, ou pelo menos uma parte de mim quer. Mas uma escolha é pra sempre. E eu não sei estar presa a uma situação. Filhos são pra sempre e um casamento é uma grandiosa escolha. Eu o amo. E eu queria de todo meu coração ser dele pra sempre. Mais quanto tempo esse pra sempre pode durar?
A verdade é que existe e sempre existirá uma parte de mim que não sabe e nem nunca saberá pertencer. Mas existe uma outra parte que já o pertence e que sempre pertencerá à ele, ao amor.

Eu me sinto uma criança diante da pergunta "Você gosta mais do papai ou da mamãe?"
Uma criança sonhando em ser adulta e fazer grandes escolhas.
E de repente, uma velha.

Uma velha dona de casa, que ama seus netos, seu marido, seus filhos. Uma velha feliz. Mas nunca livre. Rasgara a alforria há anos. Viveu a vida toda entre as grades que forjou com as próprias mãos. Mas não sei. Não sei se foi feliz. Não sei se teve êxito. Tudo o que sei é que deu orgulho aos pais e viveu pra amar. Será que foi o bastante?

Uma velha porra louca. Talvez não tenha sido velha, talvez tenha morrido antes. Viajou um bocado, usou o que quis, escolheu o que quis, viveu como quis. Não sei se foi a escolha certa, não sei se foi feliz. Não sei se teve êxito. Tudo o que sei é que deu desgosto para quem mais amava. Mas amou-se primeiro e mais. Foi uma pessoa livre. Será que foi o bastante?

Sei que ambas as velhas questionavam-se por suas escolhas.
Nenhuma escolha é fácil.
Toda escolha é pra sempre.

Uma criança calada porque não sabia o que responder.

quarta-feira, 4 de setembro de 2013

Teoria da calma no caos

Você me pede calma. Calma enquanto eu temo. Calma enquanto eu enlouqueço. Calma na desordem. Calma. Eu não sei ser calma. Eu não sei ficar calma. O máximo que eu posso ficar é quieta. E quieta não é calma. Estar quieto é aparentar estar calmo. Mas por dentro o caos ainda está instalado - talvez dessa forma ainda seja pior. Talvez no silêncio os maus pensamentos se reproduzam mais rápido. De quieta à inquieta. Volto a falar sem pausas ou resoluções e você volta a me pedir: Calma.
Eu nunca entendi esse seu jeito de mantê-la. Não é que ajo no desespero. Mas eu não sei fingir não estar desesperada. Não sei fingir não ter medo. Não sei mais engolir meu choro. Você me abraça. Sussurra que vai ficar tudo bem. E fica. Pelo menos naquele instante tudo fica no seu devido lugar. E eu esqueço tudo, porque eu, pelo menos eu tô no meu lugar. Fecho os olhos e respiro fundo. Ouço seu coração dentro da minha cabeça. Calma, meu amor. O cheiro de almíscar selvagem entope minhas narinas, você enlaça os dedos nos meus cabelos. Vai ficar tudo bem, meu bem. Calma. Minha alma agora flutua alta e leve. Que importância teria todos os problemas do mundo enquanto eu tenho você? É bobagem. É tudo bobagem. Nós somos um só. Vai dar tudo certo. Nós podemos resolver isso. Você é minha calma. Acalma minha alma, alma da minha calma.

segunda-feira, 26 de agosto de 2013

quarta-feira, 21 de agosto de 2013


Daqui há 5 horas eu tenho um jogo de handebol. Mas meu lugar é na arquibancada. Veterana. É um adjetivo legal eu acho. Bom, eu sempre observei minhas veteranas como mestras. E elas eram. Pareciam voar no salto pro gol e ninguém conseguia segurá-las na linha pontilhada. Ninguém. Meu primeiro campeonato foi incrível. Tinha um time de Gapira que era muito bom, muito bom mesmo. E embora a cidade fosse pequena, as meninas arrebentavam. Treinavam 5 horas por dia, todos os dias da semana. Enquanto nós treinávamos 1 hora por dia, duas vezes na semana. Nessa época nosso técnico era o Roberto, e ele era um treinador excepcional. Os dois primeiros jogos foram razoáveis. Um contra o Cícero, também de Votuporanga e outro contra o Epa, de Cardoso, mas a final, ah.. ralamos contra Gapira. Chegamos praticamente dando o jogo por vencido e o Roberto tratou de xingar todas até que finalmente entendêssemos que estávamos ali porque merecíamos e se jogássemos confiantes tínhamos chance. Perdendo de lavada no primeiro tempo demos conta de virar, na verdade não exatamente demos, porque eu não fiz nenhum gol nesse jogo e fiquei no banco a maioria do tempo, visto que era uma das jogadoras mais pequenas. Ganhamos o campeonato. Foi incrível. Disputamos os Regionais contra Santa Fé, e perdemos por um gol. Embora desanimadas o Roberto tratou de dar o sermão habitual e levando em consideração o adversário, fomos muito bem. No outro ano, a equipe era formada por nós e novas meninas, as maiores mudaram de categoria e essas eram nossas referências de como queríamos jogar. O Roberto se aposentou e nosso técnico novo chegava, dava a bola e saía pra fumar. O legal do Roberto é que ele continuou indo aos jogos, e ficava xingando da forma engraçada dele do lado de fora da quadra. Pegamos o 2º lugar naquele ano, e Gapira ficou com o 1º. Nada glorioso mas também nada envergonhador. Do lado do Roberto haviam as meninas da Categoria Infantil e umas outras que não jogavam mais: As veteranas. As veteranas gritam até passar mal o jogo todo e se seguram pra não entrar na quadra. As veteranas são praticamente técnicas, pq explicam de uma forma mais fácil e menos palavrenta que o técnico (no caso o Roberto que o outro nem abria a boca pra nada). Os anos se passaram e eu continuei jogando até meu último ano. Com um punhado de técnicos que não merecem citações, mas o Roberto sempre esteve lá, com algum palavrão pra dizer e um olhar sério e atento ao jogo. Eu penso em cada arremesso, penalidade, aquecimento dolorido, contusão, atropelamento e queda com uma saudade que não consigo descrever. Amanhã serei uma delas. Não será a primeira vez, mas será a mais especial. Porque será a última. Eu poderei ir nos jogos do meu time antigo ficar berrando na grade feito uma louca, mas ninguém vai saber das histórias. O que eu tenho pra contar para aquelas meninas é que ser veterana no último ano é um saco. Dói. Dói ver que aquilo acabou. Aquela inocência de que em quadra o mundo gira mais devagar e que ganhar o campeonato é o mais importante. Principalmente pra Thalia, que tá com a minha camiseta, com A camiseta. Porque "Camisa 10 joga até na chuva" e dói saber que nunca mais vou vestir aquele uniforme azul com aquele shorts de lycra horrível, o que ela pode e tem que fazer é me dar um gol amanhã. E eu vou sorrir. Vou estar feliz por elas. Feliz por saber que é uma fase gostosa da vida, que sair dessa fase é péssimo mas que ficar nela pra sempre seria pior ainda. Amanhã vou levantar cedo e caminhar até o outro lado da cidade, pra sentar ao lado do Roberto e gritar com toda a força dos meus pulmões: Lobo Raça!

domingo, 18 de agosto de 2013

No fundo, no fundo  
bem lá no fundo, 
a gente gostaria
de ver nossos problemas 
resolvidos por decreto 
a partir desta data,  
aquela mágoa sem remédio 
é considerada nula  

e sobre ela - silêncio perpétuo.  



Paulo Leminski





quinta-feira, 15 de agosto de 2013

A pior morte é a diária, com as palavras que você nunca disse entaladas na sua garganta enquanto você observa as consequências da sua própria covardia, inerte à sua própria ruína. E você pode sorrir e viver a vida que quiser, mas no fim você vai perceber que você desmorona sozinho no escuro com os erros que não pode reparar. 

domingo, 11 de agosto de 2013

Sua garotinha

Perdi as contas de quantas vezes digitei um texto sobre o dia dos pais aí. Sobre suas escolhas, sobre como eu me sentia, sobre nossos silêncios, sobre como eu gostaria que fossemos e sobre o dia dos pais. Nada. É engraçado como qualquer coisa que me faça escrever sobre você me faça chorar de um modo que na segunda linha eu já soluce e não consiga respirar sem ficar assoando o nariz, daí já não consigo escrever nada. Eu queria que falar fosse tão difícil quanto escrever, mas é trilhões de vezes pior. E escrever só serve pra aliviar porque eu duvido muito que você vai se importar com o quadrinho que diz "Diário" sempre que você vai entrar na merda do site do banco. Não. É sempre a labuta o que importa mais, e eu não tiro sua razão. Talvez com um pouco mais de amor nós hoje seríamos pessoas que vivem com o mínimo e que você sempre trabalhou tanto pensando em nós, no nosso conforto. Eu entendo que alguns sacrifícios foram necessários, eu entendo. Mas não acho que todos eram vitais, porque não existe conforto nesse silêncio incomodo que a gente produz todo santo dia, depois da desistência dolorosa que foi desistir de tentar, porque cada tentativa gerava uma discussão imensa.
Eu me lembro de quando eu tinha uns 5 anos e você me levava com você no bar. Então era eu e você sozinhos numa mesa, com salgadinho, coca e cerveja e você conversava comigo durante umas 2 horas e a íamos embora felizes, você era meu melhor amigo. O tempo foi passando, eu fui crescendo, o trabalho não parava de vir e quando eu me dei conta um abismo tinha se aberto. Pai, eu sinto sua falta. Eu te amo. E vou te amar sempre. Me perdoa se eu não correspondi aos seus planos. Na minha cabeça vou ser sempre aquela garotinha do bar.

Com amor,

Tibambã


sexta-feira, 9 de agosto de 2013

Epifania

Uma velha sentou-se na minha calçada, acendeu um baseado e começou a falar, na verdade não sei se notou minha presença e falava pra mim ou se falava pra si mesma. "Quando eu era jovem me sentava nessa calçada de madrugada e fumava. Meus pais sabiam que eu fumava, mas nunca fumei na frente deles. Uma vez eu fiquei imaginando que era uma velha sonhando que era jovem. Eu nunca soube se tinha razão. Eu sempre tive essas ideias incompreendíveis, mas nunca desisti delas. Sempre que fumava aqui lembrava de que essa rua tinha sido minha vida. Morei em 3 casas nessa mesma rua, nesse mesmo quarteirão. Ali eu fui uma criança que aprendia a andar e a falar. Ali uma mocinha que brincava de bonecas numa toalha estendida na calçada. E aqui eu fui uma moça problemática que sentava na calçada e fumava. Aqui um dia eu sonhei que era velha e fumava um cigarro. Aqui eu questionava a existência de Deus e de mim mesma. Aqui eu questionava a vida. Eu costumava pensar que a vida era um sonho. Que dentro de cada cabeça tinha um universo inteiro e que sonhávamos viver eternamente, por isso a vida não morria. Nós humanos nos julgamos espertos, mas nós não sabemos de nada. Nós não sabemos nem onde estamos. Victório Cavalleri, São João, Votuporanga, São Paulo, Brasil, América do Sul, Terra, Sistema Solar, Braço de Órion, Via Láctea, Cosmo... Onde? Onde é que nós estamos? Nós não sabemos quem somos, de onde viemos e nem pra vamos. Mas nós fingimos saber. Nós respiramos e isso é tudo. Uma fibrilação atrial por exemplo, pode acontecer a qualquer momento a qualquer pessoa e nos causar a morte mas nós vivemos sempre pensando que vai haver mais tempo. E geralmente, não temos. Nós nos preocupamos com o futuro, como se nunca fossemos chegar a ele. Eu cheguei aqui, mas sempre pensei que não chegaria. O cheiro daqui ainda é de dama da noite. Eu sempre achei que flores cheirassem a velório. E sempre que sentia esse cheiro cogitava a hipótese de já ter morrido. Mas dentro da minha cabeça ter continuado vivendo. Como é que você sabe que não é um espermatozóide que não fecundou? Ou que morreu naquele acidente que, por acaso, você estava ausente no momento exato? Como é que você sabe que alguém que morreu por estar na hora errada no lugar errado não imaginou que estava em outro lugar e, dentro da cabeça dele continuou vivendo? Não há como saber, achava. E continuo achando. As pessoas riam, algumas entendiam e achavam genial. E eu sempre pensei em escrever sobre isso. Loucuras epifânicas não são levadas a sério, mas isso não quer dizer que sejam mentira. Talvez nós estejamos todos mortos. Quando eu era jovem eu cogitava a hipótese de ser uma velha lembrando da sua vida, sonhando ainda ser jovem. E hoje velha, eu cogito a hipótese de ser uma criança imaginando como será sua vida dentro do útero de sua mãe, quem pode saber?
Talvez eu devesse ter passado uns anos fazendo terapia, mas a claridade demais cega, menina. E verdades possíveis viciam. E quando eu nascer e ser um bebê que aprende a andar naquela casa de novo, você decidirá ser como sou ou ser qualquer uma outra, porque existem milhões de possibilidades. Mas talvez um dia, você seja uma velha que conseguiu falar com você mesma anos mais jovem que vai ficar te olhando meio assustada meio querendo sorrir, que vai entender toda a sua loucura, porque ninguém te entende melhor que você mesma. E vai te dar a ponta e te desejar boa sorte." E estendeu a ponta pra mim.

terça-feira, 6 de agosto de 2013

Limbo

No limbo se faz silêncio. Sem passos, respiração ou lamento. Só silêncio. Só vazio. Há meses.
Não faço nada. Nada pra sair daqui, embora eu não sei se aguento mais. Nos cantos, no sofá, na cama ou estirada no tapete. E os dias passam. Dá agonia sentir o tempo passar assim, sentada durante 45 minutos na frente do espelho. Nada muda. Leitura me enfada e meus textos, como já deve ter dado pra perceber estão uma merda. Anestesiei. E ainda, aquela ferramenta nova do Facebook. "Como você está se sentindo?" Não sinto. E eu sigo respirando. Sem criatividade, sem paciência, sem ânimo e vontade. Eu me lembro bem quando li Estorvo, do Chico. Eu sentia vontade de escrever uma crítica ao personagem e ao autor. Como alguém como Chico poderia escrever aquele conformismo encadernado? Se a vida fosse um mar, o personagem era do tipo que sabia nadar, mas ia sendo levado, levado, levado até finalmente amolecer e se deixar afundar pra afogar. Em alguns momentos do livro o cara até tentou fazer qualquer coisa mas cada tentativa era um esbarrão e adivinha? Mais merda. No fim ele é esfaqueado se não me engano. E embora sente vontade de pedir ajuda monta num ônibus e fica olhando pela janela. Parou de estorvar. Só não queimei aquele livro porque ele era da biblioteca. Hoje confesso meu erro. O livro é genial. Demorei muito pra entender toda essa dinâmica da capa preta escrita sem frescuragem, do cara que perdia tudo e não se importava, e continuava sem nada e não reclamava mas que ficava pensando em como poderia ter sido "se" mas nunca era porque já havia sido, que tentava dar um jeito e ferrava com tudo e embora tivesse mais do que muita gente, mas não era feliz. Eu queria dizer que me sinto como aquele personagem sem identidade, do qual nem lembro o nome. Acho que até seja provável que ele nem tenha tido um nome no livro. E as luzes ao redor insistem em tentar convencer de que foi feito o que podia. Meu peito fecha os olhos e chora. Mas  por dento sigo sem sentir, afinal no limbo não se chora, só se silencia.

segunda-feira, 29 de julho de 2013

Lista das coisas que amo em você

Eu amo esse seu jeito sério de me olhar cerrando os olhos. Eu amo a forma como você debocha de mim, as piadinhas petulantes e os apelidos que você me coloca. Gosto da forma como você abotoa suas camisas xadrez e o modo como coloca as gírias numa frase. Eu amo o jeito como você dorme, de boca entreaberta feito criança de colo. Eu gosto a forma como você reclama e debate por aquilo que acha, mesmo quando eu discordo. Amo seu cheiro de almíscar misturado com suor. Amo até a forma como você zomba das minhas músicas gays e amo sua cara de criança arteira quando eu peço pra botar Birdy e você bota Brujeria, a propósito estou ouvindo Birdy agora. Eu amo suas cartinhas e bilhetes. Amo olhar a Lua e lembrar de todas as vezes que nos pegamos olhando ela. Amarela, enorme, em forma de riso ou no céu azul claro de uma tarde. Eu amo vestir suas roupas, principalmente quando você já as usou e ficar sentindo seu cheiro como se você me abraçasse o tempo todo, embora eu prefira que você fique mesmo me abraçando o tempo todo. Amo nossas conversinhas engraçadas e os planos que a gente faz. Eu gosto até desse seu bigode, sim, embora eu implique com ele, na maioria das vezes é só pra te irritar um pouquinho. Aliás, eu gosto de irritar você, e gosto ainda mais de te tentar te fazer rir quando você tá irritado. Gosto da forma como você acende o isqueiro pra mim e da forma como você dirige. Eu gosto de te olhar nu e da forma como você cora e sorri sem jeito quando me percebe muda te olhando. Amo a forma como você me aconchega no seu corpo pra eu dormir e a forma solícita como vela meu sono. Eu amo as viagens que a gente fez. Gosto do seu café meio avermelhado e de como você se preocupa em me trazer café na cama. Gosto da forma safada que você sorri quando fica me olhando trocando de roupa e amo deitar a cabeça no seu peito e ficar ouvindo seu coração batendo. Eu gosto dos seus pés, das suas sardas e da cor da íris do teu olho. Gosto de te espiar enquanto você está entretido vendo um filme. Gosto da forma como me acorda e gosto mais ainda quando você vem deitando se entrelaçando com cuidado pra eu não acordar pra dormir comigo. Eu amo a forma como me sinto livre pra falar sobre qualquer assunto com você, chorar na sua frente e dividir segredos, mesmo os mais sórdidos. Eu amo sua força, sua disciplina, seu jeito protetor. Eu amo amar você.. Estranho seria se eu não te amasse tanto, com tanta coisa pra amar..

quinta-feira, 27 de junho de 2013

Primeira translação

Eu queria escrever um texto do tipo que eu nunca escrevi pra você. Talvez algum que contasse nossa história todinha de uma forma nova e também os detalhes que poderiam ter passado despercebidos. Algo que descrevesse melhor o que eu sinto por você ou explicasse melhor como você me faz ver o mundo de uma forma muito mais bonita.
Vou tentar começar do início.
Nós, em algum lugar (não sei se muito distante) nos despedimos e você partiu. E, alguns dias depois, eu nasci. Esquecida de tudo, mas quem é que pode saber, predestinada. Tantos caminhos, tantas cidades, tantos desencontros, tantas pessoas. E eu esbarrei em você. Mas ainda assim não me lembrei. Precisávamos de mais algum tempo. E tivemos. Coisas e pessoas em comum. Reencontro. Eu lembro que tocava Engenheiros. E você acabou se tornando meu amigo, meu melhor amigo aliás. Você me entendia de uma forma que nunca ninguém tinha feito. E, no meio de todas aquelas cantadinhas canalhas (admito, eu gostava e sabia, sim) eu conseguia perceber alguém incrível, mas eu ainda não sabia exatamente como agir. Eu sabia que queria, bem lá no fundo. Mas já haviam cicatrizes demais, pessoas demais. Você foi paciente comigo. Alguma coisa mudou enquanto a gente ria sob as luzes da igreja, eu não lembro bem da conversa só sei que em um determinado ponto eu quis beijar você. Mas ainda haviam tantas dúvidas. E optei por me segurar. E o tempo que cicatrizava minhas feridas passou sem que eu visse enquanto eu passava com você. Eu sempre perdia a noção da hora lembra? Todas aquelas conversas e aquelas madrugadas rindo. E quando eu via já ia amanhecer e embora o sono me tomasse eu ainda queria ficar ali vendo você olhar tímido pro teclado e sorrir enquanto digitava. E então você me pedindo conselhos pra conquistar uma garota e, puta, foi um choque pra mim. Eu não sabia se era exatamente ciúmes porque ainda tava um bocado em cima do muro e de lá não conseguia ver bem as coisas. E blá blá blá. Só de lembrar dessa fase de vai-não-vai me dá uns calafrios. E então o primeiro beijo. Eu ainda posso ouvir meu coração batendo e ver você mexendo no meu cabelo parado na minha frente. Eu ainda posso sentir o cheiro do seu perfume e se me esforçar um pouco até ouvir a chuva batendo no toldo. E você com aquele jeitinho todo tímido botando uma mecha de baixo do meu nariz. "Eu nunca beijei uma garota de bigode" com o sorriso mais lindo que eu já vi. "Então beija". E foi assim. Eu me senti tão grandiosa sobre o mundo todo. Foi no momento que os seus lábios encostaram nos meus que eu me apaixonei de verdade por você. Na verdade foi até meio como uma sensação de choque, foi êxtase, foi como renascer ou reencontrar alguma coisa que havia perdido há muito, muito tempo. Depois, quando a gente parou eu imóvel me sentia a pessoa mais idiota e frágil do mundo. E, juro, eu cogitei a possibilidade de ir embora antes que admitisse pra mim mesma que eu tava gostando de você. Mas eu fiquei, provavelmente porque minhas pernas estavam bambas demais pra ir pra qualquer lugar. Mas não posso fingir que esse medo de me machucar ainda mais sumiu rápido. Tudo acontecia tão rápido. Foi a minha alma que fez amor com você naquela quinta-feira. Céus, dentro de mim eu debatia comigo mesma sobre o que estava fazendo. Foi incrível. Eu tive que travar os maxilares pra não dizer que eu estava te amando. Mas como eu poderia explicar tudo isso com tão pouco tempo? Esse amor todo me atingiu na velocidade de uma bala, talvez até um pouquinho antes do beijo. E os dias foram passando e eu ainda tinha um medo danado de você decidir que não estava pronto pra tentar de novo ou algo assim. Primeira semana. Aquele seu bilhetinho com um trecho de Comigo, do Zeca em pleno Rock On Street me deu uma vontade louca de te pedir em namoro ali mesmo, mas me controlei. O pedido de namoro mais foderoso do mundo (aprendi as piadinhas infâmes contigo). Primeiro mês. Primeira viagem: Clementina. Eu não dormi a noite inteira, o que é uma informação inútil já que passamos a noite toda no telefone. Conversar com você me distraiu muito, porque pra ser sincera eu tava em pânico. Eu mal conhecia seus pais e já gostava da sua irmã mas conhecer uma família toda era um passo novo. E eu amei. Foi uma sensação de conhecer pessoas que fariam parte da minha vida pra sempre. Foi esquisito e lindo. Então vamos dar uma volta pela cidade a noite com aquela baita Lua alaranjada.. Você cantarolando aquela música do bilhete "Como o Sol se vai e a Lua amarela, fica colada no céu cheio de estrelas.. Se essa Lua fosse minha" e parou. Eu sabichona sobre Zeca virei toda presunçosa pra terminar a parte que você não lembrava  "Eu mandaria escrever Eu te amo, Francine nela". Eu achei que fosse explodir. Eu sempre me sinto assim com você, como se houvessem aqueles fogos de artifício daqueles bonitos de flor prestes a explodirem no céu da minha boca (tenho quase certeza que são acendidos na boca do meu estômago). E o tempo foi passando leve, risonho e fácil. Parece que tudo foi ontem e ainda assim parece que faz uma vida toda. Nós compartilhamos tantas coisas. Tantas descobertas, intimidades só nossas, sonhos que compartilhamos, viagens maravilhosas, risos até perder o ar, conversas longas e beijos mais longos ainda. Você foi a primeira pessoa além dos meus pais que me viu chorar. Eu tenho essa sensação com você de não ter neuras ou vergonha de nada. Eu tenho essa liberdade de qualquer coisa com você, de dizer pra você coisas que eu teria vergonha de dizer em voz alta sozinha, sabe? É como se você fosse eu também. Um pedaço de mim que sempre faltou. Embora, apesar de tudo isso, ainda existir uma parte de mim que se mostra tímida e quer sempre conquistar você. E embora eu sempre achei meio impossível te amar mais do que já amo, acabo te amando mais um pouquinho sempre. Você mudou minha forma de ver o mundo, de ter expectativas, de sorrir. Você trouxe luz pra minha vida, me deu vontade de sonhar de novo, você cuida de mim, é o meu anjo, é meu homem, meu grande amor, meu melhor amigo, meu tatuador e meu músico favorito. Eu queria tanto te agradecer por tudo isso. Te agradecer por me fazer a mulher mais feliz do mundo e por ter me dado o melhor ano da minha vida e a certeza de que esse é apenas o primeiro de todos os outros pelo resto das nossas vidas. Eu queria te dizer que você é a melhor pessoa que eu já conheci. Que tudo em você é milhões de vezes melhor do que eu sonhei um dia. Seu sorriso, sua voz, seu cheiro, seus olhos, seu corpo, seu modo de pensar, tudo. Eu amo tudo em você. Amo até os defeitos, as implicâncias, as neuras, os cuidados exagerados, as piadinhas infames, o deboche que faz de mim quando eu tô falando sério, eu amo tudo. Amo os silêncios e as longas conversas por olhares e sorrisos de canto. Amo nossas músicas e os sons que a gente faz. E queria te agradecer por estar na minha vida, por não ter desistido de mim, de nós. Por não ter me mandado por inferno todas as vezes que eu mereci. Te agradecer pelas insistências. Pelas cócegas e até pelas mordidas. Pelos sussurros e pelos cafunés. Te agradecer pelas noites mal dormidas e pelas que me fez dormir. Eu quero te agradecer pelos cafés da manhã na cama e pelas vezes que você me ajudou a cozinhar. Eu já te agradeci pela paciência? É que é necessária muita paciência comigo, você sabe.. Meu amor, um ano. Trezentos de sessenta e cinto dias incríveis. Obrigada por cada segundo de cada um deles. Eu sempre quis morrer jovem, sabia? E a cada vez que eu te olho penso em como quero que minha vida seja longa, muito longa, só pra ficar mais tempo ao teu lado. Dois velhinhos se olhando e sorrindo de canto sentados numa varanda, cheios de netos e animais de estimação fazendo bagunça pela casa. O homem, um magricela rabugento ensina os netos maiorezinhos a atirar com chumbinho. E todas as noites segurar sua mão e te dizer que é você e que sempre foi você. E todas as noites dormir se entrelaçando nos espaços que você deixa na cama. Eu não acreditava em vida após a morte antes de conhecer você. Hoje, tudo isso que eu sinto me faz pensar que é impossível não existir. Que é maior, muito maior que qualquer outra coisa. Que é a vida diante de tudo isso? Se a eternidade não existir eu invento uma só pra nós dois..



quarta-feira, 8 de maio de 2013

Eu amo desorganizado, desenvergonhado. Tenho um amor que não é fácil de compreender porque é confuso. Não controlo, não planejo, não guardo para o mês seguinte. A confusão é quase uma solidão adicional. Uma solidão emprestada. Sou daqueles que pedirá desculpa por algo que o outro nem chegou a entender, que mandará nova carta para redimir uma mágoa inventada, que estará se cobrando antes de dizer. Basta alguém me odiar que me solidarizo ao ódio. Quisera resistir mais. Mas eu faço comigo a minha pior vingança. Amar demais é o mesmo que não amar. A sobra é o mesmo que a falta. Desejava encontrar no mundo um amor igual ao meu. Se não suporto o meu próprio amor, como exigir isso?
Um dia li uma frase em Hegel: "nada de grande se faz sem paixão". Mas nada de pequeno se faz sem amor. A paixão testa, o amor prova. A paixão acelera, o amor retarda. A paixão repete o corpo, o amor cria o corpo. A paixão incrimina, o amor perdoa. A paixão convence, o amor dissuade. A paixão é desejo da vaidade, o amor é a vaidade do desejo. A paixão não pensa, o amor pesa. A paixão vasculha o que o amor descobre. A paixão não aceita testemunhas, o amor é testemunha. A paixão facilita o encontro, o amor dificulta. A paixão não se prepara, o amor demora para falar. A paixão começa rápido, o amor não termina.
Não me dou paz sequer um segundo. Medo imenso de perder as amizades, de apertar demais as palavras e estragar o suco, de ser violento com a respiração e virar asma. Até a minha insegurança é amor. O pente nos meus cabelos é faca enquanto é garfo para os demais. Sofro incompetência natural para medir a linguagem das laranjas, acredito desde pequeno que tudo o que cabe na mão me pertence. Minha lareira não dura uma noite, esqueço da reposição das achas, do envolvimento da lenha no jornal, de assoprar o fundo. Brigo com o bom senso. Ou sinto calor demais ou sinto frio demais. Uma ânsia de ser feliz maior do que a coordenação dos braços. Um arroubo de abraçar e de se repartir, de se fazer conhecer, que assusta. Parece agressivo, mas é exagerado. Conto tragédias de forma engraçada, falo de coisas engraçadas como uma tragédia. Nunca o riso ou o choro acontece quando quero. Cumprimento como se fosse uma despedida. Desço a escada de casa ao trabalho com resignação, mas subo na volta pulando os degraus. Esse sou eu: que vai pela esperança da volta.


Fabrício Carpinejar

segunda-feira, 6 de maio de 2013

Você acredita que cada indivíduo na Terra tem uma alma gêmea?


Se me perguntassem isso há uns 10 meses atrás eu iria dizer que não, que nós estamos aqui pra encontrar alguém que nos faça bem e feliz e que é perda de tempo procurar a "pessoa certa. Bem, admito, eu estava errada. Sim, surpreendam-se com uma garota que não acredita em deus dizer que acredita em almas gêmeas, é meio patético dizer que se acredita em almas gêmeas né? Pois bem, eu acredito sim. Acredito porque ele não só me faz a garota mais feliz do mundo, ele me completa em tudo, me entende antes mesmo que eu tente explicar, ele sente como eu sinto mesmo de longe. Nós temos umas coisinhas nas nossas histórias iguais, como se nossas infâncias tivessem sido até a mesma. Ambos somos irmãos mais velhos e tivemos nossos irmãos na mesma faixa de idade, ambos assistíamos Rei Leão todos os dias enquanto éramos crianças, ambos temos as falas decoradas até hoje. Ambos preferimos nos entupir de purê de batata do que de qualquer outra comida. Nossas manias, nossas neuras. Tudo em nós se encaixa de alguma forma. E não, eu não tô sendo romântica apenas, isso é sério. No começo eu não queria ficar com ele e, depois de muita enrolação, quando ele finalmente me beijou eu senti uma coisa que não tinha sentido antes, nunca. Foi só um beijo no centro da cidade mas eu senti uma coisa como "achei". Meu coração batia no meu corpo todo e a sensação que tenho é que aquele beijo durou muito, muito, muito mais tempo do que ele realmente durou. Depois quando eu olhei pra ele de novo foi como se ele fosse diferente, aliás foi como se nós fossemos diferentes. Depois de dois dias eu era tão dele como nunca tinha sido de mais ninguém. Quando ele teve meu corpo, nem podíamos perceber porque eram nossas almas que faziam amor, não tenho como explicar mais eu sabia que era ele e sempre será ele. Se cada indivíduo na Terra tem uma alma gêmea? Não sei. Mas eu tenho a minha. 



segunda-feira, 1 de abril de 2013


Infinito

Não te parece uma coisa boba eu ter tanto medo de morrer agora? Não que eu não tivesse medo de morrer antes mas agora é diferente. Tenho medo da dor que isso causaria em você, tenho medo de te deixar aqui sozinho. E principalmente, tenho medo que depois eu não te encontre nunca mais. Que, sei lá, nós virarmos seres puros que não tem mais esse tipo de relação ou que nós renasceríamos de novo e nas próximas outras vidas e não nos lembremos disso que vivemos juntos nessa, um medo absurdo de simplesmente nos desencontramos. Sabe, pensar nisso me dói um bocado. Dói pensar que eu posso renascer e depois não me lembrar das coisas que vivemos juntos, sabe? Também penso que talvez nós já tenhamos vivido tanta coisa, em outros tempos e outras vidas e não nos lembramos hoje também me incomoda um pouco. É tão estranho pensar nisso, não é? Pense em todas as mínimas coincidências que aconteceram pra gente se conhecer. Você, desde pequeno, mudando de cidade e se eu nunca tivesse terminado aquele namoro nem você? Nós ainda estaríamos envolvidos com outras pessoas e passaríamos despercebidos lado a lado na rua, ou pior, nós nunca nos conheceríamos. Eu tenho medo de morrer e renascer em algum lugar e perder todas essas memórias e nunca mais encontrar você. Céus, me enlouquece pensar nisso. Eu nunca contei pra você mas meu maior medo é que a gente se desencontre, Lucas. A morte, agora, me assusta tanto que você não imagina.Talvez só seja mais uma das minhas bobagens. Às vezes eu me pego orando. O problema da minha falta de fé não é minha ira pelas desgraças injustas do mundo, não. O problema da minha falta de fé é só um vazio que não consigo preencher mesmo que eu tente com todas as forças do meu coração e, acredite em mim, eu já tentei muito. Ainda assim, de vez em quando, eu oro sem perceber. E eu peço pra Deus por nós, seja onde for e seja como for. Mas Ele continua sem responder. A vida parece tão pequena perto do que eu sinto por você. Parece poético, não é? É bobagem sentir um medo bobo de não ser enterrada com você? Céus, nunca achei nada disso necessário mas hoje sinto vontade de fazer um bilhete de despedida pra ser aberto quando eu morrer e nele estar escrito em letras maiúsculas "me enterrem numa cova onde possa caber esse magricelo também." E embora não seja poético e até parece um pouco assustadoramente obsessivo, e é real. Eu tenho pensado em tanta coisa que minha cabeça parece querer explodir. Penso em nós, na nossa casinha, nos filhos que vamos ter. Penso no futuro, nas comidas que vou cozinhar pra você e num jeito legal de colocar os móveis (mesmo não tendo ideia de como serão os móveis). Penso nas conversas, na convivência, em te ouvir roncar e velar teu sono todas as tardes. Penso na gente descobrindo juntos fios brancos na cabeça um do outro e trocando memórias na vida que passamos juntos. Penso nisso sem nem ainda ter vivido nada, amor. Penso no teu sorriso intacto no teu rosto sendo mudado pelo tempo, mas teu sorriso continuando a coisa mais linda que eu já vi. Quando penso em tudo isso penso em quanto tempo demorei pra encontrar você. E me pergunto como é que eu consegui viver 17 anos sem você. Penso em como seria bom se nossas mães tivessem se conhecido em alguma coisa para grávidas e no dia em que tive alta na maternidade você estivesse esperando lá fora. E dividirmos um berço, e os brinquedos do parquinho, caçoar de você quando seus dentes caíram e te ouvir caçoar dos meus, também. Queria você em cada segundo e ainda seria pouco. Pra nós, eu só aceito a eternidade.
É sempre mais simples quando é com o outro. Quando a poesia já vem pronta dentro da gente e a gente sabe o que sente. É sempre mais bonito quando é dito inteiramente com o coração, e sempre mais difícil de dizer também, não nego. E é sempre melhor quando você está, mesmo quando não há nenhum sentido entre as palavras que dizemos, parece que acaba fazendo sentido pra gente. Você me trouxe a fé que talvez seja possível continuar olhando o mundo com meus olhos cheios de curas imaginárias pra tudo, e o que não for possível a gente pode sempre dar um jeito. "Pra nós todo o amor do mundo" cantarolo, como se já não fosse nosso.

segunda-feira, 18 de março de 2013

Harmonia do desequilíbrio

Eu sou infantil demais. E você se irrita com muita facilidade. Eu te tiro do sério. E você grita como se me esbofeteasse. Eu me magoo fácil e você se arrepende do grito. Silêncio. Você pede desculpa e eu te ironizo. Você fica sério e eu aceito as desculpas. E dai te xingo e você me abraça. Sorrimos. Nós não fomos feitos um pro outro e não, definitivamente nós não temos tudo pra dar certo. Mas eu amo você e você me ama também. E por mais que a gente se atrite às vezes, não se atritar doeria bem mais. Por aí, num lugar por onde eu cometesse meus erros invisíveis e você cercado de gente menos irritante a vida seguiria simples e vazia. Sem briguinhas mas também sem reconciliações. E ah, eu amo nossas reconciliações. Você me disse que queria paz. E eu pensei tanto sobre isso, amor. Até me dar conta de que a paz que a gente procura só pode ser encontrada no caos que a gente provoca um no outro. Nessa euforia que acontece quando a gente se olha e se toca e na calmaria que encontramos abraçados nos olhando em silêncio. Você é meu caos e minha paz. E é por isso que eu amo você.

quarta-feira, 13 de março de 2013

Tatuagem


"E se vocês largarem? Se vocês largarem você vai ficar com a marca dele pra sempre." Se nós largarmos, amor, toda vez que eu olhar no espelho vou me lembrar de você. Sim, eles tem razão. Mas se nós nos largássemos toda vez que eu ouvisse música lembraria de você, também. Lembraria de você reclamando da música ou tentando me convencer que a música é boa, lembraria da gente cantando-a desafinadamente juntos e não importa que música seria porque praticamente toda vez que ouço música penso em algum momento em que estávamos juntos. Se nós nos largássemos, toda vez que eu cozinharia lembraria de você. Da sua impaciência em terminar logo e também seus palpites dizendo "minha mãe faz assim". E toda vez em que eu visse alguém cozinhando lembraria de você não me deixando ver o que você estava cozinhando pra depois botar tudo num prato e dizer "adivinha o que é que eu botei aí." Se nós nos largássemos amor, toda vez que eu deixasse a toalha molhada em cima da cama, quando alguém me fizesse cócegas, quando assistisse um filme, quando comesse pizza e tomasse um refrigerante de laranja, quando acendesse um incenso eu lembraria de você. Sentiria saudade em cada coisa que eu fizesse, porque não importa o que fosse, eu lembraria de você. Lembraria de você porque você tá dentro de mim. Tão lá dentro que eu não poderia tirar nunca mais. E não existe um removedor pra esse tipo de coisa, amor. Hoje eu tenho uma coisa sua marcada em mim que não vai sair nunca mais e, mesmo antes dessa, já tinha tantas outras. É você é quem não vai sair nunca de mim, porque nós somos uma coisa só.

domingo, 24 de fevereiro de 2013

Rompendo o silêncio

Foi embora sem dar prévio aviso ou ao menos dizer adeus. E eu nem notei. Achei que tivesse sido mais umas de suas idas e vindas, haviam tantas desde o ano em que eu havia começado. Mas foram dias e noites batucando no teclado e apagando dezenas de palavras. Talvez o dom tenha se cansado de mim ou talvez eu é que tenha me cansado de mim mesma, das minhas mesmices infames e criado essa história de 'abandono da inspiração'. Talvez seja só uma fuga pra não dizer mais o que disse milhares de vezes, pra não dizer que falhei, que sou uma fraude, que a meta nunca foi ser lida na verdade. Mas a verdade é essa. Que eu só queria dizer tudo que estava entalado na minha garganta, que só queria vomitar tudo que sufocava dentro de mim e foi isso que fiz. Então começaram a vir leitores, mas ainda tinha tanta coisa pra desentalar. Desentalei. Mas então comecei a selecionar coisas que não podia dizer. E fui trancando dentro de mim até tudo o que eu escrevia era só a camada superficial do que e sentia, mas eu ainda assim adorava alguns dos meus textos, aqueles em que eu podia ser um pouco sincera comigo mesma independente de quem pudesse lê-lo depois. "Todo bom escritor tem uma crise de criatividade em um certo ponto" - Me disse um amigo dias atrás. Mas não sei se sou escritora, muito menos se sou boa escritora. Só sei que gosto de escrever e, que quando eu simplesmente abria o coração e batia os dedos nas teclas parecia que tirava uma bigorna de dentro do peito. Talvez a resposta pra voltar esteja aí: Abrir o coração e escrever. Sem reler dezenas de vezes e achá-lo um pouco mais ridículo a cada vez até chegar num ponto onde desistir de dizer seria melhor. Talvez a resposta seja apenas parar de desistir. Não sei. Nem sei se amanhã continuo limpando todo esse ferrugem dos dedos, do blog e da alma, espero que sim, espero que sim de todo meu coração. Essa sensação de ir montando as palavras e deixando a alma mais leve. É normal isso? É bobagem isso? Não sei. Mas hoje, pelo menos hoje, isso não me importa.

quarta-feira, 2 de janeiro de 2013


E toda a vez que eu olho fundo no teu olho, eu penso nossa, eu amo esse homem, é com ele que eu quero passar o resto da minha vida. Quero que ela seja longa, muito longa, só pra poder ficar mais tempo ao teu lado.


ClarissaCorrêa

"Nunca compreendi muito bem o conceito de morte. Sei que todos nascemos e morremos e que essa é a única certeza da vida. A questão é a forma com que isso acontece. Pessoas morrem todos os dias, em todo o mundo, questão de segundos. Em jornais, manchetes de assassinatos se espalham diante de páginas diversas. Na rádio, se escuta a mais nova vítima. Na televisão, estão gráficos do número de mortos do dia, do mês ou do ano. Números e mais números. É assim que são lembradas algumas pessoas. Quando uma pessoa morre por estar em uma idade avançada, ou por uma doença. Por mais doloroso que seja, já estamos preparados para o pior. O sentido de se envelhecer, é saber que de brinde vem dificuldades, e possivelmente, a morte. O sentido de uma doença grave, é lutar para sobreviver mais um dia que for, e não o de se curar. Mas e quando é tirada a vida de alguém? Ninguém espera por isso. Uma pessoa está voltando da escola ou trabalho, e um carro em alta velocidade, sem ter tempo de frear, a atropela. E ela morre. Não foi apenas uma vida tirada, foi anos de luta por essa vida. Foi deixado uma família ou amigos em prantos. E o pior de não se esperar uma morte, é viver se perguntando: “O que eu poderia ter feito para evitar?”. Semana passada um amigo meu faleceu. E o curioso, foi o jeito com que isso aconteceu. Ele estava em uma festa com seus amigos, em um final de semana como outro qualquer, mas que não terminaria da mesma forma, infelizmente. Havia amigos com ele, amigos que eu conhecia há anos, tal como também o conhecia a muito tempo. Assim que a festa terminou, todos voltavam juntos, quando ele parou e disse “Podem ir, eu vou voltar para conversar com aquela garota que estava na festa”. Ninguém disse nada, afinal, o que tinha demais nisso? O problema é que ele não voltou. Não se sabe ao certo o que de fato aconteceu. Alguns dizem que ao voltar com a garota, ele foi parado por um assaltante, mas por não ter nada de valor, levou um tiro a queima roupa no rosto. Outros dizem que foi por ciúmes de algum ex namorado. A verdade é que não importa, pois agora ele está morto. E não se encontrou um culpado. Basicamente ele voltou para morrer. Ao pensar nisso, imagino como me sentiria se estivesse naquele dia, naquele mesmo momento. Sem dúvidas eu me perguntaria: “E se tivesse falado que era bobeira e que ele deveria voltar com todos? Teria feito alguma diferença?”. Antigamente, quando alguém dizia que era assim que deveria ser, que uma pessoa morre porque foi chegada a hora dela, eu usava isso como conforto. Porque é mais fácil acreditar em algo que possa te confortar do que enfrentar uma dor que te enlouqueça. Porém ao pensar melhor hoje em dia, não enxergo dessa maneira. Um segundo pode não significar nada, mas é capaz de mudar futuros e reconstruir vidas. Por mais que possamos nos culpar por não termos tomado certas atitudes em momentos que poderia ter sido essencial, nada vai mudar o acontecido. Devemos apenas aceitar e seguir em frente. Com uma dor no coração e lembranças que jamais serão esquecidas ou apagadas. A morte faz e vai continuar fazendo parte de nós. Não importa quantas vezes vamos ter de enfrentar ela, e sim, quantas vezes vamos superar a perda de alguém. A parte mais difícil de perder alguém que se ama, é cair a ficha de que não vai ter como essa pessoa voltar. De vez em quando, vamos acreditar que isso não aconteceu, que foi apenas um sonho ruim, e que ela vai aparecer para nós como se nada tivesse acontecido e vamos abraça-la e fazer valer a pena. Mas não é assim que acontece, por mais que queremos isso. Depois que a vida de alguém termina, a única alternativa é aceitar que a nossa continua. Outro dia pensei, que a gente só perde alguém especial para nos lembrarmos que existem pessoas incríveis a quem não damos valor. E que podemos reverter isso enquanto há tempo, antes que seja tarde demais. Apesar de não compreender a morte, e de ter a certeza que ela sempre vai existir. Acredito na vida após a morte. Porque podem levar o corpo de uma pessoa, a alma dela e tirar a chance de ela continuar. Mas nunca, jamais, tiraram as lembranças e o amor que ela deixou. Aprendi que as pessoas morrem no mundo lá fora, mas vivem dentro de nós." 


Allax Garcia


terça-feira, 1 de janeiro de 2013

Mais um ano. Sensação de recomeço. Uma nova dança da Terra ao redor do Sol começa e eu não sei se rio ou se choro. Os fogos de artifício da virada do ano sempre me atordoam os ouvidos e estasiam os olhos então nunca sei dizer se os amo ou os odeio.. provavelmente um pouco dos dois. O ano não me promete nada mas eu prometo a mim mesma um bocado de coisas. 365 oportunidades de ser feliz. Que venham.