segunda-feira, 26 de agosto de 2013

quarta-feira, 21 de agosto de 2013


Daqui há 5 horas eu tenho um jogo de handebol. Mas meu lugar é na arquibancada. Veterana. É um adjetivo legal eu acho. Bom, eu sempre observei minhas veteranas como mestras. E elas eram. Pareciam voar no salto pro gol e ninguém conseguia segurá-las na linha pontilhada. Ninguém. Meu primeiro campeonato foi incrível. Tinha um time de Gapira que era muito bom, muito bom mesmo. E embora a cidade fosse pequena, as meninas arrebentavam. Treinavam 5 horas por dia, todos os dias da semana. Enquanto nós treinávamos 1 hora por dia, duas vezes na semana. Nessa época nosso técnico era o Roberto, e ele era um treinador excepcional. Os dois primeiros jogos foram razoáveis. Um contra o Cícero, também de Votuporanga e outro contra o Epa, de Cardoso, mas a final, ah.. ralamos contra Gapira. Chegamos praticamente dando o jogo por vencido e o Roberto tratou de xingar todas até que finalmente entendêssemos que estávamos ali porque merecíamos e se jogássemos confiantes tínhamos chance. Perdendo de lavada no primeiro tempo demos conta de virar, na verdade não exatamente demos, porque eu não fiz nenhum gol nesse jogo e fiquei no banco a maioria do tempo, visto que era uma das jogadoras mais pequenas. Ganhamos o campeonato. Foi incrível. Disputamos os Regionais contra Santa Fé, e perdemos por um gol. Embora desanimadas o Roberto tratou de dar o sermão habitual e levando em consideração o adversário, fomos muito bem. No outro ano, a equipe era formada por nós e novas meninas, as maiores mudaram de categoria e essas eram nossas referências de como queríamos jogar. O Roberto se aposentou e nosso técnico novo chegava, dava a bola e saía pra fumar. O legal do Roberto é que ele continuou indo aos jogos, e ficava xingando da forma engraçada dele do lado de fora da quadra. Pegamos o 2º lugar naquele ano, e Gapira ficou com o 1º. Nada glorioso mas também nada envergonhador. Do lado do Roberto haviam as meninas da Categoria Infantil e umas outras que não jogavam mais: As veteranas. As veteranas gritam até passar mal o jogo todo e se seguram pra não entrar na quadra. As veteranas são praticamente técnicas, pq explicam de uma forma mais fácil e menos palavrenta que o técnico (no caso o Roberto que o outro nem abria a boca pra nada). Os anos se passaram e eu continuei jogando até meu último ano. Com um punhado de técnicos que não merecem citações, mas o Roberto sempre esteve lá, com algum palavrão pra dizer e um olhar sério e atento ao jogo. Eu penso em cada arremesso, penalidade, aquecimento dolorido, contusão, atropelamento e queda com uma saudade que não consigo descrever. Amanhã serei uma delas. Não será a primeira vez, mas será a mais especial. Porque será a última. Eu poderei ir nos jogos do meu time antigo ficar berrando na grade feito uma louca, mas ninguém vai saber das histórias. O que eu tenho pra contar para aquelas meninas é que ser veterana no último ano é um saco. Dói. Dói ver que aquilo acabou. Aquela inocência de que em quadra o mundo gira mais devagar e que ganhar o campeonato é o mais importante. Principalmente pra Thalia, que tá com a minha camiseta, com A camiseta. Porque "Camisa 10 joga até na chuva" e dói saber que nunca mais vou vestir aquele uniforme azul com aquele shorts de lycra horrível, o que ela pode e tem que fazer é me dar um gol amanhã. E eu vou sorrir. Vou estar feliz por elas. Feliz por saber que é uma fase gostosa da vida, que sair dessa fase é péssimo mas que ficar nela pra sempre seria pior ainda. Amanhã vou levantar cedo e caminhar até o outro lado da cidade, pra sentar ao lado do Roberto e gritar com toda a força dos meus pulmões: Lobo Raça!

domingo, 18 de agosto de 2013

No fundo, no fundo  
bem lá no fundo, 
a gente gostaria
de ver nossos problemas 
resolvidos por decreto 
a partir desta data,  
aquela mágoa sem remédio 
é considerada nula  

e sobre ela - silêncio perpétuo.  



Paulo Leminski





quinta-feira, 15 de agosto de 2013

A pior morte é a diária, com as palavras que você nunca disse entaladas na sua garganta enquanto você observa as consequências da sua própria covardia, inerte à sua própria ruína. E você pode sorrir e viver a vida que quiser, mas no fim você vai perceber que você desmorona sozinho no escuro com os erros que não pode reparar. 

domingo, 11 de agosto de 2013

Sua garotinha

Perdi as contas de quantas vezes digitei um texto sobre o dia dos pais aí. Sobre suas escolhas, sobre como eu me sentia, sobre nossos silêncios, sobre como eu gostaria que fossemos e sobre o dia dos pais. Nada. É engraçado como qualquer coisa que me faça escrever sobre você me faça chorar de um modo que na segunda linha eu já soluce e não consiga respirar sem ficar assoando o nariz, daí já não consigo escrever nada. Eu queria que falar fosse tão difícil quanto escrever, mas é trilhões de vezes pior. E escrever só serve pra aliviar porque eu duvido muito que você vai se importar com o quadrinho que diz "Diário" sempre que você vai entrar na merda do site do banco. Não. É sempre a labuta o que importa mais, e eu não tiro sua razão. Talvez com um pouco mais de amor nós hoje seríamos pessoas que vivem com o mínimo e que você sempre trabalhou tanto pensando em nós, no nosso conforto. Eu entendo que alguns sacrifícios foram necessários, eu entendo. Mas não acho que todos eram vitais, porque não existe conforto nesse silêncio incomodo que a gente produz todo santo dia, depois da desistência dolorosa que foi desistir de tentar, porque cada tentativa gerava uma discussão imensa.
Eu me lembro de quando eu tinha uns 5 anos e você me levava com você no bar. Então era eu e você sozinhos numa mesa, com salgadinho, coca e cerveja e você conversava comigo durante umas 2 horas e a íamos embora felizes, você era meu melhor amigo. O tempo foi passando, eu fui crescendo, o trabalho não parava de vir e quando eu me dei conta um abismo tinha se aberto. Pai, eu sinto sua falta. Eu te amo. E vou te amar sempre. Me perdoa se eu não correspondi aos seus planos. Na minha cabeça vou ser sempre aquela garotinha do bar.

Com amor,

Tibambã


sexta-feira, 9 de agosto de 2013

Epifania

Uma velha sentou-se na minha calçada, acendeu um baseado e começou a falar, na verdade não sei se notou minha presença e falava pra mim ou se falava pra si mesma. "Quando eu era jovem me sentava nessa calçada de madrugada e fumava. Meus pais sabiam que eu fumava, mas nunca fumei na frente deles. Uma vez eu fiquei imaginando que era uma velha sonhando que era jovem. Eu nunca soube se tinha razão. Eu sempre tive essas ideias incompreendíveis, mas nunca desisti delas. Sempre que fumava aqui lembrava de que essa rua tinha sido minha vida. Morei em 3 casas nessa mesma rua, nesse mesmo quarteirão. Ali eu fui uma criança que aprendia a andar e a falar. Ali uma mocinha que brincava de bonecas numa toalha estendida na calçada. E aqui eu fui uma moça problemática que sentava na calçada e fumava. Aqui um dia eu sonhei que era velha e fumava um cigarro. Aqui eu questionava a existência de Deus e de mim mesma. Aqui eu questionava a vida. Eu costumava pensar que a vida era um sonho. Que dentro de cada cabeça tinha um universo inteiro e que sonhávamos viver eternamente, por isso a vida não morria. Nós humanos nos julgamos espertos, mas nós não sabemos de nada. Nós não sabemos nem onde estamos. Victório Cavalleri, São João, Votuporanga, São Paulo, Brasil, América do Sul, Terra, Sistema Solar, Braço de Órion, Via Láctea, Cosmo... Onde? Onde é que nós estamos? Nós não sabemos quem somos, de onde viemos e nem pra vamos. Mas nós fingimos saber. Nós respiramos e isso é tudo. Uma fibrilação atrial por exemplo, pode acontecer a qualquer momento a qualquer pessoa e nos causar a morte mas nós vivemos sempre pensando que vai haver mais tempo. E geralmente, não temos. Nós nos preocupamos com o futuro, como se nunca fossemos chegar a ele. Eu cheguei aqui, mas sempre pensei que não chegaria. O cheiro daqui ainda é de dama da noite. Eu sempre achei que flores cheirassem a velório. E sempre que sentia esse cheiro cogitava a hipótese de já ter morrido. Mas dentro da minha cabeça ter continuado vivendo. Como é que você sabe que não é um espermatozóide que não fecundou? Ou que morreu naquele acidente que, por acaso, você estava ausente no momento exato? Como é que você sabe que alguém que morreu por estar na hora errada no lugar errado não imaginou que estava em outro lugar e, dentro da cabeça dele continuou vivendo? Não há como saber, achava. E continuo achando. As pessoas riam, algumas entendiam e achavam genial. E eu sempre pensei em escrever sobre isso. Loucuras epifânicas não são levadas a sério, mas isso não quer dizer que sejam mentira. Talvez nós estejamos todos mortos. Quando eu era jovem eu cogitava a hipótese de ser uma velha lembrando da sua vida, sonhando ainda ser jovem. E hoje velha, eu cogito a hipótese de ser uma criança imaginando como será sua vida dentro do útero de sua mãe, quem pode saber?
Talvez eu devesse ter passado uns anos fazendo terapia, mas a claridade demais cega, menina. E verdades possíveis viciam. E quando eu nascer e ser um bebê que aprende a andar naquela casa de novo, você decidirá ser como sou ou ser qualquer uma outra, porque existem milhões de possibilidades. Mas talvez um dia, você seja uma velha que conseguiu falar com você mesma anos mais jovem que vai ficar te olhando meio assustada meio querendo sorrir, que vai entender toda a sua loucura, porque ninguém te entende melhor que você mesma. E vai te dar a ponta e te desejar boa sorte." E estendeu a ponta pra mim.

terça-feira, 6 de agosto de 2013

Limbo

No limbo se faz silêncio. Sem passos, respiração ou lamento. Só silêncio. Só vazio. Há meses.
Não faço nada. Nada pra sair daqui, embora eu não sei se aguento mais. Nos cantos, no sofá, na cama ou estirada no tapete. E os dias passam. Dá agonia sentir o tempo passar assim, sentada durante 45 minutos na frente do espelho. Nada muda. Leitura me enfada e meus textos, como já deve ter dado pra perceber estão uma merda. Anestesiei. E ainda, aquela ferramenta nova do Facebook. "Como você está se sentindo?" Não sinto. E eu sigo respirando. Sem criatividade, sem paciência, sem ânimo e vontade. Eu me lembro bem quando li Estorvo, do Chico. Eu sentia vontade de escrever uma crítica ao personagem e ao autor. Como alguém como Chico poderia escrever aquele conformismo encadernado? Se a vida fosse um mar, o personagem era do tipo que sabia nadar, mas ia sendo levado, levado, levado até finalmente amolecer e se deixar afundar pra afogar. Em alguns momentos do livro o cara até tentou fazer qualquer coisa mas cada tentativa era um esbarrão e adivinha? Mais merda. No fim ele é esfaqueado se não me engano. E embora sente vontade de pedir ajuda monta num ônibus e fica olhando pela janela. Parou de estorvar. Só não queimei aquele livro porque ele era da biblioteca. Hoje confesso meu erro. O livro é genial. Demorei muito pra entender toda essa dinâmica da capa preta escrita sem frescuragem, do cara que perdia tudo e não se importava, e continuava sem nada e não reclamava mas que ficava pensando em como poderia ter sido "se" mas nunca era porque já havia sido, que tentava dar um jeito e ferrava com tudo e embora tivesse mais do que muita gente, mas não era feliz. Eu queria dizer que me sinto como aquele personagem sem identidade, do qual nem lembro o nome. Acho que até seja provável que ele nem tenha tido um nome no livro. E as luzes ao redor insistem em tentar convencer de que foi feito o que podia. Meu peito fecha os olhos e chora. Mas  por dento sigo sem sentir, afinal no limbo não se chora, só se silencia.