quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

2012

Lembro exatamente de como comecei o ano desejando apenas que dois mil e doze fosse dois mil e doce. Que seja doce. Repetia como um mantra a frase de Caio Fernando que acabou se tornando bem clichê, mas nada mais cabia tão perfeitamente no que eu desejava.
Mas dois mil e doze começou me chacoalhando pelos ombros, me esbofeteando e me jogando no chão. Transformando toda a ideia que eu tinha de força em fraqueza. Dois mil e doze me mostrou como o mundo é cruel. Como a vida é cruel e principalmente de como as pessoas podem ser cruéis. E a sensação que eu tinha era como se alguém segurasse com força meu cabelo e me deixasse ainda vendo, mesmo quando já tinha sido demais pra mim. Mesmo quando já tinha doído o suficiente. Desgraçadamente devagar. Arrancou minha inocência pelas entranhas, não se esquecendo de arrancar também a minha fé nas pessoas e talvez até minha razão de fazer qualquer coisa. O suicídio latejava na minha cabeça todos os dias. E mesmo quando eu não o fazia a sensação era que eu já o tinha feito. Talvez eu tenha mesmo morrido esse ano. Porque sem dúvida nenhuma eu renasci nele.
Dois mil e doze foi o ano que passou mais lentamente por mim. E, em um certo ponto dele achei que ficaria nele pra sempre. Vi tudo desmoronar enquanto todo mundo ainda comemorava e esbarrei em um punhado de erros, o que pra mim pode ser tratado como uma grande ressaca. A sensação que tenho é que é dois mil e doze há muito, muito tempo. Eu senti cada segundo como se fossem dias. Senti tudo esse ano. Comecei por sentir que já era a hora de tentar entrar nos trilhos, embora comecei entrando nos trilhos errados, me senti feliz por uns dias, depois me senti usada, enganada e em seguida fui atropelada. O que eu podia fazer? Eu vi que a vida é assim. Não importa o que você faça, não importa quem você seja, não importa o quanto você se esforça pra ter um pouco de fé e pedir a Deus, porque ele não vai ajudar. Aquela coisa que a gente tem desde criança de acreditar é inatingível, sabe? Bem, a minha vai embora com esse ano. Na verdade já foi há muito, muito tempo. Ele se foi. E não importa o quanto eu gritasse, chorasse, xingasse, remoesse ou esperasse. Ele não voltaria mais. Ele se foi e eu acabei indo um pouquinho também. Hoje eu vejo as estatísticas de um modo diferente. Antigamente a estatística era um monte de números significando um bando de desconhecidos e hoje eu enxergo cada número como alguém e esse alguém vai deixar vários vazios dentro de um punhado de pessoas que também vão sentir como se morressem. O mundo não é um lugar bonito de se viver, mas é a única opção que temos. Talvez eu tenha perdido mais coisas do que eu possa contar, o que não significa que não tenha ganhado coisas, também. Tudo mudou esse ano. Meus pais mudaram. E hoje eu sinto falta de ser a criança deles, mas nunca mais vou voltar a ser. Me dei conta de que nunca mais vou assistir meus desenhos como antigamente, pelo menos não com a mesma visão ingênua. Descobri que as brincadeiras se perdem e alguns dos amigos inevitavelmente se distanciam. E que crescer é isto mesmo: Ir deixando algumas coisas pelo caminho. Nem tudo que é deixado é por vontade própria. Dois mil e doze doeu, doeu tanto que anestesiou. E anestesiada eu passei um bom tempo. E eu achei que o ano tinha finalmente acabado pra mim. Talvez heróis existam e os contos de fada foram deturpadamente exagerados. O fato é que o meu apareceu no momento exato em que eu caía. E me salvou. Vocês podem não acreditar em super heróis, fadas, anjos, guias ou sei lá o que, mas eu fui salva por um anjo esse ano. E ganhei um amigo. Eu não sei ao certo quando é que eu me tornei tão dele. E ele fez das minhas ruínas um castelo. Me mostrou os prós de crescer. Me fez rir de novo. Me mostrou o êxtase que é ser apenas ser feliz por ter alguém em quem realmente se pode confiar. Talvez tenha até me ensinado a realmente confiar. E se manter feliz. Me fez acreditar de novo. Me fez amar. Amá-lo. Amar a vida. Assim são os anos. Passam. Uns ficam, uns chegam. Infinitamente. Dois mil e doze passou por mim como uma vida toda e ao mesmo tempo ainda acho que não foi o suficiente. Dois mil e doze passou por mim como uma ventania devastadora e um sopro gostoso num dia de calor, não sei ao certo. Talvez tenha sido eu que tenha passado por ele e ele tenha a mesma impressão de mim. 

segunda-feira, 10 de dezembro de 2012


Quando me perguntava se sonhara com ela na véspera, e eu dizia que não, ouvia-lhe contar que sonhara comigo, e eram aventuras extraordinárias, que subíamos ao Corcovado pelo ar, que dançávamos na lua, ou então que os anjos vinham perguntar-nos pelos nome, a fim de os dar a outros anjos que acabavam de nascer. Em todos esses sonhos andávamos unidinhos. Os que eu tinha com ela não eram assim, apenas reproduziam a nossa familiaridade, e muita vez não passavam da simples repetição do dia. Alguma frase, algum gesto. Também eu os contava. Capitu um dia notou a diferença, dizendo que os dela eram mais bonitos que os meus, eu, depois de certa hesitação, disse-lhe que eram como a pessoa que sonhava…

Fez-se cor de pitanga.

Machado de Assis

segunda-feira, 3 de dezembro de 2012


Ás vezes quando você fica rindo e eu fico te olhando eu penso em como é que nós nos cruzamos por ai. Meu único plano era viver como se não houvesse mais nada na vida além de aproveitar e morrer não importava quanto tempo depois, provavelmente logo. E então eu me olho hoje e penso em como quero que minha vida seja longa, muito longa pra viver com você até te olhar rir daqui muitos anos. Então eu me imagino num vestido de noiva, eu que odiava essa baboseira toda, me imagino sorrindo pra você enquanto você diz qualquer coisa sobre viver comigo pra sempre. Indo e vindo entre o que fomos, o que somos e o que seremos enquanto te ouço rir.
O ano quase no fim. Dizem que talvez até no fim dos tempos. Sempre acreditei que todo dia fosse o fim do mundo pra um bocado de pessoas. Um dia, sem data prevista será o meu e o seu também. Mas e se eles tivessem razão? E se fosse mesmo?
Toda briga, toda burocracia, todas as obrigações foram perda de tempo. Mas pelo amor que eu tenho dentro de mim e pelas coisas que vivi acho que estaria satisfeita. No dia em que o Sol amanheceria pela penúltima vez observaria-o enquanto listo coisas que gostaria de fazer no dia seguinte e o observo. Sem medo ou tristeza, apenas contemplaria-o como o fiz muitas vezes durante todos esses anos. Esqueceria a dieta, outra coisa que não é novidade pra mim e abraçaria meus amigos e passaria o dia todo com a minha família observando fotos antigas e rindo. E dormiria, abarrotada de comida e tudo que gosto de beber. Botaria meu vestido de festa logo pela manhã, talvez a última manhã do mundo e me produziria como se fosse à uma ou talvez sairia por ai de pijama por não querer perder tempo com bobagens, não sei. Isso de fim do mundo me faz pensar no contraste de quanto o tempo pode ser precioso e quanto o desperdiçamos com bobagens. Talvez não restasse muito tempo. Sempre vi nos filmes que era bem mais fácil dizer as coisas quando tudo parecia estar no fim. E diria. Deixaria-os cientes que os amei um amor que nunca vou saber explicar. Me tranco num quarto com ele. Ali imóveis fazemos amor sem pensar no próximo segundo. Talvez o mundo acabe e nós nos acabamos juntos. Se não, acordamos e contemplamos o Sol nascendo um dia depois do fim do mundo. As pessoas se sentem tão próximas do fim do mundo porque não querem aceitar a ideia de que vão morrer e, nesse dia o mundo acabará apenas pra ela e mais um punhado de pessoas, mas não para todas. O mundo continuará seguirá rodopiando no espaço. Talvez isso nos ensine a viver de verdade. Até agora, não vi ninguém listar nas coisas de "fazer-antes-de-morrer" nada como "ganhar dinheiro, ter sucesso, ter um trabalho chato e próspero". Talvez não um fim, apenas recomeço.

segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Foi menina que amou as estrelas,
Foi moça que amou os poemas,
Foi mulher que amou marido e filhos.
E no jeito torto de amar tanto estas coisas,
Fez de tudo arte,
Fez do amor caminho.

Marianna Correia

O silêncio dominava a sala e a vida dela. Ali, na mesma sala mas muito distantes. Ele jantando enquanto ela lia, sem trocar de página. Não posso dizer com exatidão o que se passava na mente dela. Acho que um misto de uma saudade do que nunca aconteceu mas que ela queria muito que tivesse acontecido e de uma raiva por tanta indiferença. Nada havia acontecido senão o tempo. Que cada dia construía um muro de diferenças entre os dois. As lembranças de um tempo feliz latejavam na cabeça dela. Talvez na dele também, mas não há como saber. Daquele tempo nada havia restado. Tentou puxar um assunto mas depois da interrogação o silêncio voltou a reinar. Nada lhe doía mais do que quando ele fingia que não a tinha ouvido. De repente seus olhos ficaram vazios e ela voltou a encarar o livro. Os olhos ardiam secos mas não havia nenhuma lágrima neles. Não chorava duas vezes pela mesma coisa. E, por aquele motivo já havia chorado muito, mas sempre depois que ele saía apressado. Ele terminou e se levantou, saindo sem se despedir, ela cortou o silêncio:
- Pai?
- Não é uma boa hora. - Enquanto fechava a porta.
Talvez nunca fosse.

quarta-feira, 21 de novembro de 2012


Não se afobe, não
Que nada é pra já
O amor não tem pressa
Ele pode esperar em silêncio
Num fundo de armário
Na posta-restante
Milênios, milênios
No ar.

 Chico Buarque

terça-feira, 20 de novembro de 2012


Eu soube que ele era o certo quando nós ficamos em silêncio deitados depois da primeira vez que fizemos sexo. Não fazia muito tempo que nós tínhamos nos beijado pela primeira vez e nós nem namorávamos. Eu podia ver metade do rosto dele e os olhos na altura dos meus. Eu estava tímida mas ele parecia estar tanto quanto eu, o que achei incomum para um garoto da idade dele. Não foi um sexo comum de duas pessoas que apenas tem vontade de fazer, sabe? Foi mais que aquilo. Nós ali em silêncio e ele não dizia nada. Minha boca pinicava pra dizer 'eu te amo' mas realmente era muito, muito cedo. O que não fazia com que a minha boca pinicasse menos e então reformulei a frase e tudo que saiu foi um "você é.. lindo". Uma semana depois em uma situação não menos íntima ele me pediu em namoro (ou foi levado a isso). Mais um namoro. Realmente eu ficaria falada. Era o terceiro namoro em um período de seis meses. Danem-se. Era um namoro e eu estava feliz.   Duas semanas depois ele me disse que me amava e eu finalmente disse à ele que o amava também. Depois de dizer isso de "eu te amo" fiquei meio atordoada. Não era a primeira vez que alguém me dizia que me amava e eu dizia de volta mas dessa vez era diferente. Na verdade eu queria desesperadamente que desta vez fosse diferente. Da última vez que um cara tinha dito eu te amo pra mim, era só o começo de uma sucessão de mentiras. Um dia, daqueles em que substâncias conectam sua mente com a sua boca sem que antes você possa raciocinar, eu parei diante dele muito séria e repetia "Cara, eu te amo mesmo. De verdade" não em um tom de alguém que quer convencer alguém mas em um tom que alguém está surpreso e assustado de algo que soube de si mesmo. Era real. Então eu o amava. E percebi isso assim que a ideia de perdê-lo me apavorava. Eu nunca tinha tido ciúmes de ninguém, eu nunca tinha chorado na frente de alguém e as coisas que nós dizíamos um ao outro não são segredos que se divide com qualquer pessoa, talvez do tipo que não se divide com ninguém mas nós dividíamos como se fossemos a mesma pessoa, como se nós fossemos um extensão do outro. E era assim que nós nos sentíamos. Eu tinha mais certeza de que seria ele pra sempre a cada dia que eu acordava enquanto ele ainda dormia. Se os anjos dormissem, teriam aquela aparência. Eu sabia que era ele porque mesmo irritado ele ainda era sensível. Mesmo sendo odiável ele ainda me fazia amá-lo mais ainda. Eu soube que ele era o cara certo quando ele saía pra pegar alguma coisa no cômodo ao lado e me dava uma saudade absurda e dos planos que fazíamos juntos. Eu sabia que era amor quando ele dizia alguma coisa que me fazia querer socar a cara dele e mesmo assim eu não conseguia ficar brava. Eu sabia que ele era ele todas as vezes que ele me lembrava meu pai. E inventávamos dezenas de apelidos bobos e desenhávamos um ao outro. Eu sabia que ele era o cara certo porque eu sabia que eu era a garota certa pra ele. Quando for o cara certo não vai deixar a impressão de que os outros eram errados, vai deixar a impressão de que os outros nunca existiram. Quando for o cara certo, meu bem, você vai saber.

Para minhas futuras filhas e netas.

segunda-feira, 19 de novembro de 2012


Que a vida é linda como você 
Eu que era louco 
Eu que era triste 
Deixei de ser 
Até parece 
Que só existe eu e você.

Vinícius de Moraes

quarta-feira, 14 de novembro de 2012


Nunca me recupero totalmente das coisas que eu perdi. Dos amigos de anos que já não conheço mais, de mim que não sou mais a mesma e da vida que vai nos tirando as coisas. Tudo acaba uma hora. A eternidade é utópica e acredite, eu queria acreditar nela também. Queria acreditar em um punhado de coisas que não acredito. Queria acreditar em um Deus que nos cuidasse e amasse e queria, assim como muitos, deixar suas crueldades invisíveis aos meus olhos. Queria acreditar que quando morremos nós acordamos em outro lugar e hora ou outra todos nós acabamos nos esbarrando lá, mas não acredito nisso. Queria acreditar que qualquer fim pode ser um recomeço de outra coisa, mas não acredito. De qualquer forma, todo dia que acaba é um fim. Pessoas morrem, relacionamentos acabam e a gente, inevitavelmente, morre um pouquinho.

domingo, 4 de novembro de 2012

A Terra gira tão rápido em torno de si e rodopia em torno do Sol enquanto a gente nem sente. A gente vive na vertical e nem percebe. Talvez seja esse o motivo das minhas vertigens: perceber e sentir demais.
Jeová, Javé
Buda, Maomé,
Thor, Jesus, Alá,
Afrodite, Iemanjá,
Huracán, Zeus, Bital,
Mama Cocha, Rei Pelé,
Eros, Ades, Nike, Orfeu,
Dentre eles qual é o seu?
Pacha Mama, Tom Jobim,
Quem é que há por mim?
Aúra Mastra, Arimã, 
Xandoré, Xamã
Caapora, Aruanã,
Exu, Oxossi, Obaluauê,
Quem existe pra você?
O Alcorão,
A Bíblia,
O Bagavadguitá,
A Cabala,
O Zend Avesta,
E só existe o seu…
Todos nós somos ateus,
Com qualquer outro Deus.
Eu acredito em apenas um Deus
A menos que você!

Marcos Biesek

sábado, 3 de novembro de 2012

500 dias com ela e 127 dias com ele

Na cena do filme, um micro-documentário sobre o amor. Ele pausou o filme me perguntando se eu havia entendido. Não, não entendi. Pelo menos não aquela hora. Criei teses e minhas hipóteses pareciam não serem ouvidas por ele. Não, eu não tinha entendido. Talvez ele não tivesse dito nada porque não a amava? Não, olha o estado emocional que o cara tinha ficado quando ela tinha o abandonado. É, ele amava ela sim. E ainda assim não soube o que dizer. Acabou o filme e olhe, já que estou falando sobre ele já lhes aconselho que não gastem dinheiro alugando-o. É a comédia mais triste que já vi. E, no final ele recomeça a contagem  com uma outra moça. Ela casa com outro cara. Pronto, contei o final no filme. Um cara que se apega numa garota que não quer nada sério e o cara topa na hora mas depois acaba se apaixonando. Atenção, tô falando da droga do filme. Parece que conhecemos essa história né? Já aconteceu comigo e já deve ter acontecido com você ou com alguém que você conhece. Fim do filme. Eu falando asneiras como sempre e ele tentando arrancar minhas verdades. E eu digo, sem mistério nenhum meus medos e ele fica ali, pasmo com a minha capacidade de ser uma criança tão inocente no corpo da mulher que ele conheceu. Ele, por fim, me convence de que é uma bobagem temer e que me ama de verdade. Me acho um bocado clichê e óbvia e ele  ainda ali, sorrindo e mexendo nos meus cabelos. Não é mentira. Ele me ama também. Ele me ama mesmo. Ele não sabe mentir e mesmo que soubesse, nem o melhor dos mentirosos mentiria tão bem. O coração espalhado e batendo no meu corpo todo, eu queria dizer o que eu sentia naquele momento mas não saiu. E nem sairia se eu tivesse um teclado pra digitar ou uma caneta pra escrever. Não sabia o que dizer, talvez as palavras certas não haviam sido inventadas ainda. Ele era meu e eu era tão dele que era até um pouco dele, de certa forma. Entendi o que a moça dos olhos azuis diz no fim do filme sobre "ter certeza". Eu tive. E, depois, me lembrei de mim dizendo assim como ela de que 'não saberia pertencer'.. Talvez só seja necessário ter certeza e ali eu tive. Nunca mais haveria uma contagem nova. Eram os 127 de uma contagem que só acabaria se a vida acabasse, talvez nem assim..

segunda-feira, 29 de outubro de 2012


"Sabe, Wendy, quando o primeiro bebê riu pela primeira vez o riso dele quebrou em milhares de pedaços e todos eles saíram pulando, e esse foi o começo das fadas."


Peter Pan - J. M. Barrie
O fato é que alguma daquelas estrelas que brilhava dentro de seus olhos, assim como as do espaço, já havia morrido a milhões de anos. Em uma noite em que as luzes dos postes se dispensa eu vi uma estrela se apagando. Mas ela já não existia mais muito antes que eu mesma existisse.

não facilite com a palavra amor
não a jogue no espaço, bolha de sabão
não se inebrie com o seu engalanado som
não a empregue sem razão acima de toda a razão (e é raro)
não brinque, não experimente, não cometa a loucura sem remissão 

de espalhar aos quatro ventos do mundo essa palavra 
que é toda sigilo e nudez, perfeição e exílio na terra 
não a pronuncie

carlos drummond de andrade

sábado, 27 de outubro de 2012


A vida toda havia sido assim. Tragédias acontecendo sem parar e, quanto mais ela fugisse, de uma forma ou outra, acabava acontecendo mais uma vez. "É a vida" sempre dizia. Tentava se consolar ou se manter conformada e talvez até matar suas próprias ânsias de lutar contra algo vencido. "É a vida" falava baixinho entre um gemido, um suspiro ou um bocado de dores. "É a vida" repetia como um mantra infinitas vezes, sem saber o que dizia, nem o que queria dizer.

terça-feira, 16 de outubro de 2012

macarronada

cozinhe o macarrão
deixe o molho comigo
não sei cozinhar
mas me deixe tentar
pose  de cheff
me abraça enquanto mexo nas panelas
faz piadinha
ri da minha cara
deixa que eu tempero
uma pitada de amor
duas ou três
acho que ficou bom
experimenta você
- de comer lambendo os beiços
eu os seus
você os meus
Falei hoje com um amigo sobre amor. Ele me contou suas dores e eu contei as minhas também. Enquanto ele falava, eu via seus olhos brilharem. Contou de um amor que teve e que ainda estava ali apesar do tempo. Contou das lembranças que guarda e da saudade que sente. E eu o questionei sobre o porque do fim. 
- Acabou porque tinha que acabar. - E olhando prum ponto perdido continuou. Nem tudo é tão simples, sabe? Tem coisas que não são pra ser.
Talvez seja mesmo.
Talvez algumas histórias não foram feitas pra acontecer, talvez.. E talvez haja uma vida além dessa, e um dia possamos recuperar tudo que deixamos ir. E todos aqueles que se perderam entre os caminhos se reencontrem um dia. Mas, talvez isso seja um defeito ou uma qualidade, - não sei bem, eu não sei deixar ser, sabe? Se é pra ser, vai ser e se não é, também vai. Talvez meu romantismo transbordante me impeça de ter medo, porque acho que é milhares de vezes melhor se quebrar mais uma vez com a certeza de que não daria e o contentamento de ter tentado de novo do que viver a vida toda com o sentimento de frustração pelo que poderia ter sido e não foi. Quantos amores se perderam pela covardia daqueles que deixaram nas mãos do destino?


Para meu querido A.

segunda-feira, 15 de outubro de 2012


Eu ali, tão bobinha, acordando todo dia e esperando amanhecer um dia em que tudo mudasse. Hoje eu sei, que as coisas mudam todos os dias. Uma madrugada só é necessária pro teu mundo desabar e, em apenas uma madrugada você pode morrer e nascer de novo. Talvez tudo morra e renasça no outro dia pela manhã, existe sempre o que não renasce. Não são apenas as pessoas que morrem dormindo. A Terra gira e nós ficamos tão tontos que não percebemos que até nossa posição no universo não é mais a mesma, porque nós seríamos?

quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Talvez fosse comum ter medo e insegurança. Mas não tanto a ponto de querer chorar, voltar e abraçá-lo toda vez que ele vira as costas. Meu medo é que em alguma dessas pequenas despedidas, nós nos percamos um do outro, não sei. Ele me disse que vai ficar e eu confio nele. Mas a vida pode ser tão cruel e tem tanta gente tão interessante por ai. Não sei. Essa paranoia de procurar defeitos em mim mesma. Eu sou muito irritante, falo muito e sem parar e minhas inseguranças e paranoias devem cansá-lo tanto. Gostaria de ser até diferente, eu juro. Ser uma menininha confiante o suficiente pra acreditar que todos os dias nascerão lindos e que a vida continuará sendo boazinha. Queria ser, mas não sou. A vida é uma história que não acaba com finalzinho de novela, sabe? A gente se fode, se fode, se fode e aproveita os espaços de tempo entre uma fodidinha e outra e é feliz, depois a gente se fode de novo até que morre. Eu gostaria de não me lembrar de todas as tragédias que eu vi na tv e naquelas que me mataram um pouquinho e o que mais me dói é saber que a vida vai continuar me tirando coisas que amo, dia ou outro. A vida é um eterno perde-e-ganha. A felicidade que transborda em mim também me assusta. Antes, eu me protegia de qualquer dor. Talvez porque eu não tivesse muito a perder. Tinha a minha vida, que naquele momento já não tinha tanto valor assim. Eu achei que já estava calejada, mas não estou. Nunca me senti tão vulnerável e amedrontada. As vezes me pego pedindo, não sei se pra alguma divindade ou até pra Vida, como se fosse alguém, que não me destrua. Permaneça feliz, permaneça feliz, permaneça feliz. Vai ficar tudo bem.

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Bilhetes para mim mesma, 07 de outubro às 1:15a.m

Tá cansada, senta
Se acredita, tenta
Se tá frio, esquenta
Se tá fora, entra
Se pediu, aguenta
SE PEDIU, AGUENTA!

Se sujou, cai fora
Se dá pé, namora
Tá doendo, chora
Tá caindo, escora
Não tá bom, melhora
Não tá bom, MELHORA!

Se aperta, grite
Se tá chato, agite
Se não tem, credite
Se foi falta, apite
Se não é, imite!

Se é do mato, amanse
Trabalhou, descanse
Se tem festa, dance
Se tá longe, alcance
Use sua chance
USE SUA CHANCE!

Se tá puto, quebre
Tá feliz, requebre
Se venceu, celebre
Se tá velho, alquebre
Corra atrás da lebre
Corra atrás da lebre!

Se perdeu, procure
SE É SEU, SEGURE
Se tá mal, se cure
Se é verdade, jure
Quer saber, apure
Quer saber, apure!

Se sobrou, congele
Se não vai, cancele
Se é inocente, apele
Escravo, SE REBELE
Nunca se atropele!

Se escreveu, remeta
Engrossou, se meta
E quer dever, prometa
Pra moldar, derreta
Não se submeta
NÃO SE SUBMETA!

Lenine

quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Ele dormia de boca entreaberta, feito a criança que um dia quero ter. Dormia enquanto meus olhos a poucos centímetros tentavam enxergar o que ele sonhava. Nunca vi um sono tão sereno como aquele. Titubeei um beijo rápido pois tive receio de acordá-lo. Passeei com os dedos sobre as costelas dele. Quis niná-lo. Se mexeu, passou o braço ao me redor e eu me aconcheguei nos espaços que o corpo dele tinham deixado no colchão. Eu ainda ali, velando sobre seu sono, admirada em amá-lo ainda mais a cada vez que ele respirava. Talvez nesse momento eu também já estivesse dormindo abraçada a ele. Enquanto eu sumia devagar, beijei-o novamente, dessa vez encostei os lábios nos dele com força, depois escorreguei a cabeça até encostar no peito na altura do coração, eu podia até ouvir as batidas se diluindo enquanto eu adormecia. Quando acordei, ele imóvel velava meu sono com um sorriso.

sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Mas duas pessoas não se equilibram muito tempo lado a lado, cada qual com seu silêncio; um dos silêncios acaba sugando o outro, e foi quando me voltei para ela, que de mim não se apercebia. Segui observando seu silêncio, decerto mais profundo que o meu, e de algum modo mais silencioso. E assim permanecemos outra meia hora, ela dentro de si e eu imerso no silêncio dela, tentando ler seus pensamentos depressa, antes que virassem palavras.

Chico Buarque
Estive pensando um pouco sobre esse lance de talento, sobre ter talento ou não saber exatamente qual seu talento, porque pode acreditar todos nós temos algum.. Não que eu nunca tenha pensado não ter nenhum, já que ouço a alguns anos que só sei comer, dormir e falar sem parar. Talvez muita gente esteja assim, pensando que não é bom em nada. Me disseram que o talento vem do que você gosta de fazer e faz naturalmente. E eu escrevo assim, naturalmente. Escrevo porque preciso limpar o peito e o canal da garganta. Preciso dizer o que eu penso e sinceramente, por mais estranho que seja (até pra mim) eu me sinto confortável pra abrir meus sentimentos pra uma tela branca. Mas é assim, super natural, eu vou pensando e meus dedos dançando no teclado, meio em ritmo de música. Nem sempre é simples. Eu já perdi as contas de quantas vezes fiquei olhando pra tela branca do blogger sem saber o que escrever porque por mais que eu soubesse o que estava sentindo eu me sentia tão perdida nisso que não achava um jeito de começar ou talvez só não soubesse exatamente o que eu tava sentindo, já perdi as contas de quantas vezes precisei parar por uns dias ou em quantas vezes pensei em parar pra sempre porque achava que não conseguiria mais escrever nada e também já perdi as contas de quantas vezes apaguei um texto por achar bobagem o relato dos meus próprios sentimentos ou por ter medo de expor tanto assim os meus medos. Não vivo em um país onde escrever dê algum futuro e também acho que nunca me daria bem tirando algum lucro das coisas que escrevo, não sou boa com prazos, não sei sentir em datas previstas. Mas tá ai uma coisa que faço e que apostaria meus talentos: Escrever. O que, convenhamos, não põe comida na mesa nem dinheiro no meu bolso, mas de qualquer forma me faz sentir tão bem comigo mesma que me deixa mais aliviada pra escolher um caminho pra ganhar o pão de cada dia. Eu notei que sempre que alguém me diz que me leu e o que achou do texto eu me sinto entendida e até recompensada. Alguém me disse que o fim do texto lhe causou vertigem e foi exatamente a sensação que eu tive quando terminei então hoje, mais do que qualquer outra vez, decidi que mesmo que eu só precise escrever duas linhas que deixem registrado o que eu sentia, por mais simples, monótono ou anti-poético que possa ser, eu ainda vou escrever. E não é apenas porque alguém lê. É porque escrever é um dos itens essenciais que me compõem e, pra ser bem sincera, acho que só fica atrás de sentir, mas eu não saberia onde deixar meus sentimentos quando eles começassem a transbordar senão aqui. E concluí que só deixaria de escrever quando deixasse de sentir e eu só vou deixar de sentir quando deixar de respirar.

terça-feira, 25 de setembro de 2012

Maioridade

Sempre imaginei na expectativa que ficaria nesse dia, aliás, sempre sonhei com esse dia. O dia em que eu seria livre pra fazer o que quisesse. Sempre achei que ficaria muito ansiosa, talvez meio ansiosa e dificilmente pouco ansiosa. Mas nunca pensei que não haveria ansiedade nenhuma. O tal dia é amanhã mas hoje eu já me sinto um bocado frustrada e não tem nada a ver com a sensação de ficar velha só com tudo que já ouvi durante a vida toda e agora me faz sentir idiota por ter acreditado. A única coisa que martela na minha cabeça com a data de amanhã é que preciso arranjar um emprego. Dezenas de pessoas vão me desejar felicidades amanhã e eu desejo com todas as minhas forças de que o desejo delas aconteça apesar que, serão poucos aqueles que realmente vão se importar e dizer de coração, do resto será apenas uma mensagem aleatória colada ou dita de qualquer jeito me desejando uma felicidade qualquer, quase como um "permaneça vivo até o ano que vem". 
Eu estou feliz, mas sempre achei que hoje mudaria minha vida. Sempre achei que hoje eu estaria me despedindo da menina que eu fui mas hoje quando procurei por ela, não a encontrei. Ela se foi de dentro de mim a muito, muito tempo. E isso não tem a ver com idade, menarca ou virgindade. Ela se foi dentro de mim quando eu a expulsei. E acredite em mim, em um determinado momento, eu fui tomando o espaço dela. Cada dia eu a via menos e agora não sei ao certo quanto tempo faz que eu não a vejo mais. Queria até poder dizer que sinto falta de quem eu era, mas não sinto não. Pra ser sincera pouco me lembro da garotinha do papai que eu fui. Da criança doce e bobinha que chorava por qualquer coisinha. Eu só lembro assim, um esboço mal feito e um punhadinho de histórias. Mas eu não me lembro de que eu sentia exatamente e nem de como eu via o mundo, sei que não era assim. Havia uma esperança maior em tudo e até nas pessoas. Ontem comi doce de banana e me lembrei de quando minha vó sempre fazia pra mim. Aquele mesmo gosto me trouxe lembranças tão antigas que as vezes pareciam até de outra vida ou de outra pessoa. De qualquer forma, eu conheci essa garota mais do que conheci qualquer outro. Me lembro de alguns medos, das maiores inseguranças, de quando deu seu primeiro beijo numa esquina e tinha gosto de cocada, eu me lembro das mãos suadas que ela tinha naquele dia e sempre sorrio quando lembro disso. Eu lembro das dores que sentiu e das que ainda compartilhamos. Eu lembro de quando ela se moldou e desistiu de muito de si mesma por algo que nunca tinha sentido e lembro do choro desesperado parecido com asma que a fez se perguntar se um dia faria dezoito anos, e eu lembro do fim nitidamente que a dor dela dói em mim também. Foi então que eu nasci entre esses espaços, me fortalecendo nas fraquezas dela. Foi então que, meio sem perceber, renasci. Não sei se melhor ou apenas diferente de quem era. Mais preparada, mais resistente ou talvez apenas tenha guardado a fragilidade no bolso. Talvez, daqui a muitos anos eu me lembre de hoje como me lembro hoje de quando era criança, talvez tudo se torne apenas um punhado de histórias e um esboço mal feito de mim mesma de que eu senti. Mas não importa. Como Lucas me disse "há coisas em nós que não mudam nunca". E a Terra completa 18 translações desde que eu chorei pela primeira vez.

domingo, 23 de setembro de 2012

"A primavera chegará, mesmo que ninguém mais saiba seu nome, nem acredite no calendário, nem possua jardim para recebê-la."


Cecília Meireles

sexta-feira, 14 de setembro de 2012

Achei que fosse ódio o que eu tinha mas hoje eu notei que não era. Achei uma foto perdida aqui e olhei e ri. Antes eu falaria qualquer palavrão mas eu ri antes de apagar a bendita foto. Não acabou com o meu dia e não me fez perder meu bom humor. E eu tinha tanta certeza de que era ódio, não era não.. Se fosse eu sentiria alguma coisa. Mas eu não sentia nada. Não senti nem uma pontinha de ódio. Foi só uma pontinha de desprezo mas a gente faz uma forcinha pra desprezar alguém, tem uma raiva por trás disso e eu não tinha nada. Eu mal sentia alguma coisa. Acabou que percebi que tudo se tornou insignificante demais pra ser considerado alguma coisa até. 
Me lembrei que na pré adolescência eu gostei muito de um cara e chorei muito quando ele me fez de idiota. Hoje se alguém me dissesse o nome dele eu demoraria uns segundos até me lembrar direito de que fosse deste indivíduo, mas naquela época eu sofri. Depois de uns anos eu encontrei ele na rua e ele foi atrás de mim e me parou na esquina, me pediu desculpas, disse o quanto eu tinha crescido (creio que se referiu aos meus peitos, mas não tenho certeza) e perguntou se tinha uma nova chance.. Eu caí na risada na frente dele. Não, ele não tinha. E eu nem sabia como ele tinha tido a primeira. 
Depois vieram outros e as histórias foram todas parecidas. Até que cheguei no babaca mais recente. Hoje, quando vi a bendita foto eu notei que pensei nele e nos outros como se fossem o mesmo até. Sabe aquela sensação de olhar pra você mesmo numa foto com um vestido amarelo gema de listras roxas e sapato verde limão e pensar: Mas que porra eu estava pensando? É assim, exatamente assim. 

Aí lembro daquela do Los Hermanos. Canto ela um pouco, baixinho, fitando nada. Você grita que adora essa. Eu me assusto. Não por gostar dessa, mas pelo grito. Eu já sabia. Agora vai lembrar de mim sempre que escutar. Ou seja, quase sempre. Aí eu canto como quem não quer nada, querendo tudo “…até quem me vê lendo o jornal na fila do pão sabe que eu te encontrei…”. Você finge não entender.

Gabito Nunes


Eu não fecho portas. Elas estão lá, todas abertas. Eu não aprisionaria nem se pudesse, talvez por umas horas na esperança de te convencer a ficar, mas não posso nem um pouquinho. Você é livre. Livre pra ir quando quiser ir. Isso é inegável. Você é livre pra ir e levar um pouco de mim. Mas caso queira saber, eu te faria o cara mais feliz do mundo se você ficasse, porque eu sinto que te conheço tão bem quanto conheço a mim. Conheço teus dramas, tuas preferências e teus medos tanto quanto conheço os meus. Então fica. Fica porque quer ficar, mas fica. E queira ficar. E deita aqui pra eu te olhar bem e tentar contar como eu me sinto perto de você. Você é a coisa mais linda do mundo, sabia? De uma lindeza tão rara que ficaria olhando por horas sem cansar. Teu caráter é lindo assim como teu rosto e eu ainda não sei dizer se você é mais lindo por dentro ou por fora porque até agora não descobri nada que não amasse em ambos os lados. Amo esse homem que as vezes parece uma criança de colo que quero ninar enquanto dorme com os lábios entreabertos sobre o meu peito. Amo esse menino que sabe o que fazer e sabe me dizer o que fazer. Amo você e amo seus detalhes. Amor, se você soubesse o quanto isso é intenso e grande dentro de mim, você não pensaria nem por um segundo que eu o deixaria ir.

quinta-feira, 13 de setembro de 2012


Cada um de nós mereceria ao menos uma reportagem para homenagear nossos dons mais secretos, aqueles que acontecem bem longe dos holofotes. O dom de viver sem aplauso e sem platéia. O glorioso e secreto dom de vencer os dias.

Martha Medeiros 

Todos nós sentimos falta de alguma coisa que não temos mais. Pessoas, momentos e acredite, até sentimentos. Eu, por muito tempo senti uma falta enorme da minha capacidade de demonstrar o que eu sinto, mas a reencontrei debaixo da cama, dia desses. De todas as saudades talvez essa seja a pior: Sentirmos falta de quem éramos e não somos mais. E acredite, na maioria nas vezes não dá pra voltar não. Na maioria das vezes a gente nem sabe o que falta e talvez falte tanta coisa que é preferível fingir que não nos falta nada. Dá certo por um tempo, não muito longo mas dá. Depois fica aquele vazio, a cara oca e irreconhecível te olhando na frente do espelho. Se maquia e sorri forçadamente pra si mesmo. A vida muda todos nós, talvez seja necessário mas dificilmente acho que seja bom. São sonhos, sentimentos e juramos que fizemos a nós mesmos que quebramos o tempo todo. Quando eu era criança eu queria mudar tudo no mundo, queria mudar o modo das pessoas se verem e se cumprimentarem na rua de manhã, andei observando que pouca gente deseja bom dia e que alguns até não me respondem quando eu lhes desejo, quando eu era criança não me lembro de ninguém não ter me respondido, mas me lembro de como os maiores passavam indiferentes entre si, talvez uma criança poderia mudar isso com mais facilidade que um adulto e olhe, é difícil pensar sobre ser adulta agora. Logo vou fazer 18 anos e eu sempre pensei nisso. Quando eu era criança e via meus primos maiores fazerem 18 anos eu os achava tão grandes, sensatos e decididos e eu ainda me vejo querendo um pote de sorvete, sentar no sofá e assistir desenhos. Mas sabe, talvez seja isso que faça as pessoas nessa mesma fase que eu crescerem: Nós somos forçados. Pela falta de colo, de mimos e pela independência que nós lutamos tanto para ter na adolescência e agora me parece um tchau frio. As vezes eu me sinto severamente observada aqui dentro e tudo o que eu faço, não importa o quê e nem com qual intenção, está errado. Agora sou crescida. Observo meu album na parte com uns 7 ou 8 anos.. Observo a expressão dos meus pais e me lembro das conversas na hora da janta, quase não há mais diálogos por aqui, evito os diálogos para evitar discussões. Eu sempre vi todos os adultos dizendo incansavelmente que tinham uma saudade enorme da infância, e eu os achava tão bestas por desprezarem a vida adulta que me parecia tão livre de ordens e regras. Hoje eu senti uma saudade tão absurda de mim mesma pequena, do meu cabelo cacheadinho que minha vó sempre arrumava e eu detestava, eu senti saudade do sorriso que eu tinha e de brincar com as minhas primas, mas nada se comparou a saudade que eu senti das conversas, dos carinhos e de sentar no colo da minha mãe e dormir pensando que talvez o tempo não passasse. Aqui, chorando de soluçar, sem ninguém pra esquentar meu leite ou me abraçar eu penso nas crianças que me achariam tão besta quanto eu achava os adultos e talvez como se eu mesma pudesse me ouvir. Agora foi que eu entendi aquela frase de que a pior saudade é a que a gente sente da gente mesmo. E eu sinto absurdamente.

quarta-feira, 12 de setembro de 2012

As asas ainda tinham sede de céu, nem que fosse um vôo rápido , mas não baixo. Nunca soube como voar baixo.. ou ganhava os céus ou permanecia no chão. Um dia, decidiu-se que jamais se permitiria engaiolar e noutro cortou as próprias asas. 

segunda-feira, 10 de setembro de 2012


Em um certo ponto percebi que estava sentindo vontade de andar ereta e arrumar mais o cabelo. Tentei até abandonar as neuras e falar menos gírias. Eu quis ser uma princesinha de filme, eu juro que quis. Mas não é assim, não é? Não é apenas querer ser algo e assim se torná-lo. Quem é doce, já nasce assim ou aprendeu desde muito pequeno. E, de repente eu era um praticamente um moleque sujo de salto, maquiagem e coroa, o que não fazia de mim uma princesa. Sempre chegando atrasada e com aquela cara de quem se arrumou correndo pra não se atrasar ainda mais, deixando as coisas pela metade ou nem começando. Tentei até parecer uma menina organizada e responsável mas minha vasta lista de fugas me denuncia. Minha bagunça me denuncia. Tem gente que expele tristeza, não tem? Aquela gente que você olha que já fica se sentindo um pouco melancólico, sei lá. Eu exalo bagunça e desordem mas só agora foi que descobri que não era proposital.
Ele, nobre. Um príncipe talvez, se príncipe não me trouxesse a imagem de um almofadinha chato, eu o chamaria de príncipe. Mas ele era muito melhor. Às vezes eu o chamava de príncipe porque queria que uma imagem como a dele ficasse na minha mente sempre que eu dissesse essa palavra, mas sinceramente nunca ficaria. Ele é definitivamente melhor que isso. Também não era rei porque não tinha nenhuma pompa. Ainda bem, já que odeio pompas. Odeio esses homens que sorriem arregalando os olhos pra ver a reação das pessoas em volta, odeio esses caras que se acham no topo do mundo, esses sim fazem jus a imagem tosca de um monarca besta que tenho em mente, ele não. Ele tinha uma beleza que estava lá, mesmo enquanto ele deitava no chão sujo do meu lado pra olhar as luzes do teto ou quando ele dormia de boca aberta, ainda permanecia intocavelmente belo.
Então se qualquer um analisasse a situação, pareceria bobagem pra um cara como ele permanecer com uma garota como eu, até pra alguém que me ama mas me conhece bem parece assim tão óbvio, como pra minha mãe.
Talvez ele tenha se apaixonado pela amiga palhaça que o fazia rir ou se admirou com a minha capacidade em não ter habilidade pra nada, talvez tenha sido curiosidade pelas inúmeras estranhezas ou talvez tenha sido sem explicação. O fato é que, até mesmo eu, que tinha um emocional de robô acabei por amá-lo e hoje observando-o perguntei a mim mesma se seria possível não amá-lo, acho que não. Ele é uma lista ambulante das coisas que eu amaria ou de que qualquer pessoa no mundo amaria. E eu o amava mais ainda a cada segundo que passava perto dele. E nós ríamos como bobos olhando um pra cara do outro enquanto nos viciávamos um no outro. Amá-lo jamais fará de mim uma princesa, mas depois de pensar um pouco percebi que ele nunca me amaria se eu fosse uma. Eu ainda sou um adorável molequinho sujo  com uma coroa na cabeça, e a coroa é só por ironia.

segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Essa é mais uma das minhas paranoias. Todos sempre precisando de alguma coisa ou sempre te perguntando se você precisa de alguma coisa. Eu preciso de muito. Eu não preciso de mais nada ou talvez só precise parar de contradições. Não sei se preciso e nem de que preciso quando acho que precise. Preciso do meu namorado aqui agora, me abraçando e me mandando calar a boca ou me fazendo uma piada besta que ocupe a minha mente ou simplesmente parado assim, me olhando como se me estudasse e me fazendo tentando e querendo adivinhar o que ele está pensando. Preciso sair de casa, talvez não precise definitivamente mas queria um espaço só pra mim. Minha mãe diz que preciso ter responsabilidade e eu preciso de um emprego. Preciso de grana e nesse momento preciso pensar em coisas das quais preciso pra me convencer que preciso de alguma coisa. 
As vezes eu queria precisar de alguma coisa absurda e urgentemente. Alguma coisa que me seja vital e seja rara no mundo. Algo que explique essas bobagens, essas tristezas repentinas e sem motivo sem que pareça um draminha imbecil. Tudo que digo não tem o peso certo das palavras que quero dizer, qualquer coisa que eu diga não vai fazer ninguém me entender ou nem mesmo explicar como é que eu me sinto, até porque nem eu mesma sei ao certo. Me sinto uma estranha perto de mim que outrora conhecia o mundo e agora, sozinha, não conhece nem a si mesma e os próprios desejos. Que saco. O mundo todo me parece um saco. A rotina e a semana toda passando por mim. E o fim de semana que e parece tão longe. Acho que estou com saudade e isso explica esse mal humor e essa tristeza e talvez até essa crisezinha existencial. Talvez, pensando com calma, ninguém saiba realmente o que quer. Talvez todos se confundam pensando que podem saber porque cada momento é um momento então se eu quero um copo de leite agora provavelmente não vou querê-lo depois e isso não é uma metáfora é apenas uma conclusão de que talvez eu saiba mesmo como mentir pra mim mesma ou como sou péssima tentando me confundir, talvez seja isso que eu precise: Um beliscão que me traga pra fora do meu mundinho turbulento e de um abraço e um beijo quente que me tire o ar. Preciso do cara que amo me fazendo ficar irritada por bobagens pra não me irritar com as minhas próprias bobagens psicológicas.

quarta-feira, 29 de agosto de 2012


Poeminha pro meu bem

Se eu te dissesse, meu bem
que você me tem
você me desperdiçaria?
Se eu te perguntasse, meu bem
se você me ama também
o que você me diria?
E se eu te contasse, meu bem
os meus defeitos porém
você ainda me amaria?
Se eu dissesse, meu bem
que não quero mais ninguém
você acreditaria?
E se eu me mostrasse de verdade, meu bem
você não desistiria?
Se eu quisesse ir além, meu bem
Você também iria?

quarta-feira, 22 de agosto de 2012


Milhões de pessoas que você nunca vai conhecer e outras milhões que nunca te conhecerão. Planetas, satélites, galáxias, constelações e todo um universo desconhecido. Teorias. Será que já existiram outros de nós em outras galáxias? Alienígenas. Pessoas. Histórias.
Será que morrer dói mais que a dor de uma vida inteira? 
As vezes me sinto tão diferente de quem eu fui, e sinto coisas tão diferentes das que costumava sentir. As vezes eu me sinto tão forte que poderia lutar contra qualquer coisa no mundo e em outras me sinto tão vulnerável que não poderia lutar nem comigo mesma. Talvez eu esteja enlouquecendo. Tudo hoje me parece absurdamente maior e exagerado. Eu sinto medo de tanta coisa que as vezes, me pego sozinha abraçada as minhas pernas chorando no escuro sem nem saber o motivo e as vezes eu rio enquanto os pensamentos vão passando livres pela minha cabeça e depois de rir feito uma idiota eu nem me lembro do motivo do riso. Embora talvez eu devesse, a insanidade não me assusta, talvez porque eu saiba que todos nós temos um nível de loucura e que os mais loucos talvez sejam aqueles que ignoram a própria loucura, que embora misteriosa às vezes parece a única coisa que nos permite pensar em alguma realidade escondida. Será que nós somos mesmo evolução de um punhado de bactérias ou criação de uma divindade que nos esqueceu aqui? Será que já morremos e isso é só uma projeção da mente sobre a continuidade ou repetição da vida? Será que eu fiquei lúcida enquanto todos enlouqueciam e agora parece que eu é que enlouqueci? Talvez todos os dias, ao acordar, enlouquecemos com tudo que vai acontecendo um pouquinho, como morrer lentamente ou uma masturbação matinal da mente. Talvez pareça um desvaneio meu, mas acredite, talvez você não entenda porque já a loucura já te dominou.

terça-feira, 21 de agosto de 2012

Queria que fosse mais simples explicar, mas nem eu mesma sei as respostas. Eu carrego meus erros e não os escondo de ninguém, é verdade. E eu já menti muitas vezes. Todos nós mentimos não é? Talvez muita gente se esqueça, mas quem não demonstra muito também costuma sentir. Eu não posso segurar nos teus ombros, te chacoalhar com força e te convencer a acreditar que eu te amo. Também não posso dizer que nunca amei - ou achei que amei- ninguém. E te mostrar um fato concreto pelo qual poderia provar que dessa vez seja mais real. Ninguém tem uma fórmula exata pra convencer e provar pra ninguém. Eu acredito que a maior prova de amor seja o bom tempo de convivência, a tolerância com os defeitos do outro, a vontade de vê-lo feliz mais do que a si. Não acredito que pintar uma faixa e colocar no centro da cidade, pixar uma mensagem no muro de algum lugar ou comprar um megafone e gritar pra todo mundo que te amo vai provar que amo de verdade, mas acredite, se você me dissesse que isso te faria feliz, eu faria agora mesmo. Eu prefiro aqueles bilhetinhos escondidos no meio das coisas do outro, os presentinhos sem data prevista, os carinhos trocados com ou sem segundas intenções. Se eu não te amasse não mudaria por você, nem ficaria tão ansiosa pra te ver, minhas mãos não suariam e eu conseguiria parar de sorrir sozinha feito uma boba. Não me preocuparia com o que você pensa e sente sobre tudo ou em parecer menos louca e controlar-me um pouco. Talvez seja nisso que erro, mas não sei ser diferente. Meu amor, preciso que você saiba que eu te amo mesmo, muito e além do que achei que poderia. Que te amo transbordantemente e que nunca tinha sentido isso da forma que sinto hoje, não posso te obrigar a acreditar em mim, mas independente da tua crença ou não, eu te amo.
Olho o céu com paciência. O azul não me cansa. Uma ave voando não significa que está partindo. Uma ave voando pode estar regressando.

Fabrício Carpinejar

quinta-feira, 16 de agosto de 2012


Preciso me organizar entre quem sou agora e quem eu fui e acredite, depois do clarão que foi perceber todas as mudanças, sinto que eu mesma preciso me adaptar com as coisas que sinto agora. Me lembrei de que, há um bom tempo atrás eu podia sentir livre de minhas próprias barreiras e, em um determinado momento eu me tornei essa estátua de gelo, prática e dispensando cenas. Mudava de caminho assim que percebia que podia topar com alguém e, mesmo quando trombava eu desviava antes que pudesse vê-lo com nitidez. Eu tive medo quando me vi assim, até me rejeitei, seria muito mais fácil continuar seguindo assim: Fugindo antes de nascer o dia, indo embora antes que desejasse ficar. Talvez eu não tenha tido escolha, talvez quando eu quis ir embora percebi que teria que deixar uma grande parte de mim. Talvez eu tenha me atrasado um pouco na vontade de ficar só mais um pouquinho e quando pensei em ir, minhas pernas não me obedeceram mais. Eu talvez tenha me descuidado um instantinho e, só então percebi que não iria embora nunca mais, mesmo que pudesse não o faria. Não haviam mais jogos, nem truques e nem saídas. Sob o calor da pele dele eu derreti.

terça-feira, 14 de agosto de 2012


Na cama, à noite, enquanto penso em meus muitos pecados e em meus defeitos exagerados, fico tão confusa pela quantidade de coisas que tenho que analisar que não sei se rio ou se choro, dependendo do meu humor. Depois durmo com a sensação estranha de que quero ser diferente do que sou, ou de que sou diferente do que quero ser, ou talvez de me comportar diferente do que sou ou do que quero ser.

Anne Frank
O fato é que as vezes me deixo tão à tua mercê que parece que toda a força que eu quis passar antes era mentira. Mas afinal, se você pudesse acreditar em mim, te diria de novo que eu sou uma garota que não sente ciúmes, que não chora em público e que não briga por coisas bobas. Te diria se eu mesma pudesse acreditar que ainda sou essa garota mas em um instante, quando olhei de novo pra mim eu era essa bomba emocional, esse problema insolúvel um nível mais chato.

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Insone. Senti vontade de escrever cartas e enviá-las todas antes que o Sol pudesse nascer. Quis desejar formalmente bom dia pra um punhado de gente, mas não pra você, amor. Pra você quis aparecer cedinho no portão com pão de queijo e café quentinho, uma caixinha de incensos e um pijaminha na bolsa. Senti vontade de sentar na grama e conversar contigo agora, de te abraçar bem apertado e te ouvir fazer piadinhas e rir. Me deu uma vontade danada de você agora. E, juro, se você não morasse do outro lado da cidade e o mundo não estivesse tão perigoso eu a atravessaria agora e dormiria nos espaços que você deixa no teu colchão, sem reclamar. Aspirando teu perfume enquanto cheiro compulsivamente tua jaqueta. Está me dando sono e terei que levantar tão já que nem vou dormir, às vezes minhas pálpebras fecham sozinhas e eu tenho a impressão de que talvez ainda seja ontem, talvez ainda esteja dormindo com o rosto no teu peito. (...) Estou arrumando minha mochila, perdida em tanta bagunça. Como alguém tão organizado como você foi se interessar pela desorganização em pessoa? Sorte a minha, e segundo a minha mãe, azar o teu. De qualquer forma, orgulhe-se disto, quando penso em você eu tento arrumar melhor. Pensando em tudo que eu já te disse antes sobre as coisas que eu fiz ou sobre minha relutância em mudar qualquer coisa em mim, percebi que é inevitável não querer ser melhor. Porque sempre vou querer o melhor pra você, sempre vou querer te fazer sentir melhor, entende? Talvez seja o meu autoritarismo saindo ou talvez seja apenas efeito de Birdy, não saberei até botar os olhos em você. Acho que estou realmente com sono, de qualquer forma vou lutar muito comigo mesma pra pelo menos salvar esse texto nos rascunhos pra te mostrar depois. Não sei porque pensei nisso agora mas quero ter ao menos um ipê amarelo quando a gente tiver nossa casinha, não me deixa esquecer? Zeca Baleiro agora, tua foto aqui na mão. Acho que vou levá-la comigo. É impressionante como eu me sinto muito mais calma quando eu olho pra tua foto, me uma paz semelhante a que eu sinto quando você está por perto. Naturalmente eu diria "comigo" ao invés de "por perto", mas você SEMPRE está comigo, de uma forma ou outra. Queria teu beijo estalado na minha testa agora, enquanto acaricio teu cabelo e você me faz dormir. E mais: Queria dormir dentro de um ofurô mas acredite, um colchão no chão já seria ótimo. Pensando com as minhas caraminholas: Qual será a minha reação ao ler isso daqui alguns anos? Acho que vou me achar retardada, ou seja, não haverá tanta mudança, não. Percebeu que meu texto/carta só tem um parágrafo? É porque é tudo um assunto só: Eu insone e meus pensamentos sobre/para você. De tudo que eu queria que você soubesse e acreditasse com toda certeza e sem sombra de dúvidas é que tudo que eu mais quero é te fazer feliz e que eu te amo. Acredita em mim? Não deve ser difícil. Como não amar você e todas as suas façanhas? Como não amar teus defeitos adoráveis e qualidades indiscutíveis? Eu amo. E vou continuar amando daqui anos, e vou continuar te acordando com cócegas nos pés e te irritando também, você sabe como sou. Vou me arrumar antes que acabe ficando atrasada pra aula mesmo sem ter dormido. Bom dia, meu amor.


domingo, 12 de agosto de 2012

Ele me parece um pedaço daquilo que a vida tem de mais charmoso. Ela estava ficando instigada. Que mais restava àqueles dois senão, pouco a pouco, se aproximarem, se conhecerem, se misturarem? Pois foi o que aconteceu. Ela diria que ele salvou sua vida se não soasse tão dramático. Ele não faz planos ou promessas, só surpresas, te ensinou a gostar de surpresas. Ele é diferente. De repente ela percebeu que o amor era o instante em que o coração fica a ponto de explodir.

 Tati Bernardi 
No filme um cara perguntava de uma antiga namorada e a vizinha dizia-lhe que saíra em lua-de-mel.
- E se um dia você for na porta da minha casa e minha vizinha te disser que tô em lua de mel? - Ele me disse.
- Isso não vai acontecer. - E voltei os olhos para o filme.
- E se acontecesse? - Ainda me olhando sério.
- Eu estaria na lua-de-mel com você. - Fixando os olhos nele.
Ele sorriu e me beijou.
"Não esperava outra resposta." Resmungou enquanto voltava os olhos para o filme.

quinta-feira, 9 de agosto de 2012

Eu, por exemplo, gosto do cheiro dos livros. Gosto de interromper a leitura num trecho especialmente bonito e encostá-lo contra o peito, fechado, enquanto penso no que foi lido. Depois reabro e continuo a viagem. Gosto do barulho das paginas sendo folheadas. Gosto das marcas de velhice que o livro vai ganhando: a lombada descascando, o volume ficando meio ondulado com o manuseio. Tem gente que diz que uma casa sem cortinas é uma casa nua. Eu penso o mesmo de uma casa sem livros.

Martha Medeiros
Você já imaginou como seria sua vida se você fosse filho de um casal de moradores de rua? 
Imagine como deve ser crescer vendo o sofrimento dos seus pais por não poderem te dar nada, e o medo pela falta de proteção, imagine tua linda infância tendo a sensação de não poder querer nada além do básico e saber que na maioria das vezes o básico nem vem. Crianças que sonham em ter uma casa e brinquedos. No Natal algumas instituições até doam alguns, mas as crianças nunca tem tempo pra brincar. As crianças que estão sempre ali no cantinho da calçada tão desprezada que parece ser invisível, na cabeça dela ela se pergunta porquê não ela. Imagino que se perguntando o que foi que ela fez. Dói imaginar, dói se colocar no lugar. Quanto tempo se passou desde que você começou a ler isso? 3 minutos? Imagine se fosse por uma vida inteira. Agora pense no salário absurdo dos deputados, nas lavagens de dinheiro, nas contas na Suíça, no imposto que você paga, nas obras públicas desnecessárias. O que te diferencia daquela criança? 

As vezes eu fico assim olhando pra ele e tenho a sensação de que eu me perdi no tempo. Eu olho nas curvas do rosto, na boca carnuda e macia, nos olhos sonolentos. Toco de leve a pele quente e penso em tudo que passamos juntos. Nas risadas, nos conselhos, na saudade que eu sinto assim que ele me diz tchau e nas coisas que só pertencem a nós. Na forma em que eu me vejo hoje muito mais mulher, menos turrona, menos teimosa (mas ainda teimosa, que fique claro). Eu observo e concluo que tenho um melhor amigo, um cúmplice, um namorado e que eles são a mesma pessoa e que de uma certa forma ele me faz sentir como se eu fosse além de namorada. As vezes tenho sentimentos tão maternais e outrora tão devassos sobre ele, é meio estranho explicar sobre como ele me faz me sentir. É como se alguém chegasse com um pacote gigante de Doritos, uma barra de chocolate branco e uma garrafa de refrigerante de laranja bem geladinho enquanto coloca uma música boa pra tocar e massageia meus pés, entende? Dá vontade de dançar quando ele chega perto. Quando eu sei que vou vê-lo, minha ansiedade se assemelha com a de uma criança quando você diz que vai levá-la ao parque mais tarde, sabe? Aquela coisa de ficar olhando o relógio e tal. Ele me faz sentir tão adulta e como uma criança pequena ao mesmo tempo. Ele me traz uma paz que eu nem sabia que existia. Ele me abraça e me dá força e coragem pra enfrentar qualquer coisa no mundo, se ele segura minha mão eu sou invencível, entende? Eu fico imaginando nosso futuro juntos e sabe, talvez eu esteja enlouquecendo mas eu até posso ver. Nossas crianças, nossas rugas aparecendo, além daquelas que se formam quando sorrimos. Eu até posso sentir o tempo passando sem passar através dos nossos dedos entrelaçados. Eu, por fim, penso que observando tudo isso seria impossível não amá-lo. E o amo ainda mais. Depois percebo que cá estou eu, olhando pra ele com um sorrisinho besta sabe-se lá por quanto tempo.

domingo, 5 de agosto de 2012


Ontem, enquanto eu sorria sem saber porquê. Pensei em todo um futuro pra nós talvez como se já estivéssemos lá. Quis te fazer cócegas, te fazer rir, quis fazer amor. Pensei na gente. Na luz que produzimos juntos, as vezes eu sinto irradiar. Pensei na paz que você me traz e pensei se eu também te trazia a mesma sensação - terminei por concluir que sim. Minhas pupilas ainda dilatadas e eu tinha a sensação de que nada mais existia além de nós, aquele momento e aquele colchão. Sabe aquilo de se perguntar se tudo é irreal? Eu estava assim. Pensando se tudo isso não fosse apenas um sonho ou um delírio. Mas ali, te observando com os olhos quase fechados eu pensei que poderia ser qualquer coisa. Se a vida fosse um filme, uma lembrança ou apenas um desvaneio, não importaria. Eu estava ali com você. Nosso colchão era um planeta e quando eu respirava fundo podia sentir seu perfume. Querido, eu ficaria ali imóvel te olhando por horas se você não tivesse lábios tão irresistíveis. "Me beija" eu disse quase inaudivelmente enquanto avançava com a fome de dez leões. (...) 
Ofereço dois ombros e um abraço sincero e bem apertado. Ofereço lealdade, paciência e compreensão. Ofereço até mais do que devo ou mais do que me ofereceriam, mas ofereço aquilo que desejaria que me oferecessem. Quem quiser minha amizade, aqui está. Só não pensem que é assim, tão simples, não é. É necessário além de dizer que é, ser. É necessário permanecer apesar das coisas e necessário escolher estar. Não suporto meios termos, não aguento gentinha que fica em cima do muro. Comigo é assim: Ou você está ou não está. Acho muito fácil sair abrindo a boca por ai dizendo que ninguém é amigo de ninguém e que é muito difícil encontrar bons amigos, mas dai eu te pergunto: Você está sendo um bom amigo tal como gostaria de ter? Não preciso responder por ninguém. Por mais que neguem, a resposta está estampada em tudo ao redor. Depois de pensar em tanta gente que passou apenas por passar e naqueles que tiveram tanto valor e não se importaram, fecho os olhos e penso naqueles que estão sempre. Apesar do tempo, apesar das coisas bobas, das picuinhas e são por eles que eu penso que os outros que se danem. Eles que se percam nos próprios labirintos emocionais e nos próprios mundos falsos que criaram. Os verdadeiros eu sei quem são. E eles também sabem.

terça-feira, 31 de julho de 2012



Ela sabia que precisava dele. Pelo menos naquela noite chuvosa e sem grandes esperanças. Mas tinha medo da compulsão. De querer ele sempre e sempre e pra sempre. E amanhã e depois. E de dia, e tarde, de madrugada. E não saber digerir tanto amor e tanto amor acabar lhe fazendo mal. Só mais um pouquinho, pensou. Uma lasquinha. Pra dormir feliz. Amanhã era amanhã. Depois ela resolvia.


Tati Bernardi.
Não devia ser assim, não é? Não deveríamos nos decepcionar tanto com tudo. As máscaras se tornaram a última moda da estação e as pessoas se tornaram adoradores fanáticos do próprio umbigo. Sabe o que importa? Conveniências. Enquanto convém é amigo. Apenas enquanto convém. Todo mundo tá disponível pra dividir bebida e cigarros, mas quem quer dividir problemas? Ninguém. No máximo um conselho aqui, que também tá custando caro, viu? Tá custando o preço de saber que aquilo que te dói ou aflige será usado contra você e jogado na tua cara mais cedo ou mais tarde. Todo mundo quer ser amigo de todo mundo e ao mesmo tempo ninguém é amigo de ninguém, sabe? É só casca, só status, só mimimi fajuto. Pensei nos amigos que tive durante minha infância e adolescência. Lembrei das vezes em que precisei de alguns deles, das decepções, das saudades. Tantos que chamei de irmãos de hoje nem sei onde estão. Outros  sumiram quando eu realmente precisava deles. Do que mais sinto falta é daquilo que havia. Aquela coisa de confiar nas pessoas cegamente e saber que elas confiam em você também. Aquela coisa de comprar as brigas, se botar na frente. De sair de casa na chuva, se meter em enrascadas e rir depois, nesse momento me lembrei de uma minoria preciosa. Dos que permaneceram. Dos que se mantêm verdadeiros independente do tempo que passe e das coisas que aconteçam. Depois de lembrar dos reais sorri de olhos fechados e pensei que azar é de quem não sabe o que é ter amigos de verdade e principalmente ser um amigo. Amigos são irmãos que não tem o mesmo sangue que o nosso.