segunda-feira, 29 de outubro de 2012


"Sabe, Wendy, quando o primeiro bebê riu pela primeira vez o riso dele quebrou em milhares de pedaços e todos eles saíram pulando, e esse foi o começo das fadas."


Peter Pan - J. M. Barrie
O fato é que alguma daquelas estrelas que brilhava dentro de seus olhos, assim como as do espaço, já havia morrido a milhões de anos. Em uma noite em que as luzes dos postes se dispensa eu vi uma estrela se apagando. Mas ela já não existia mais muito antes que eu mesma existisse.

não facilite com a palavra amor
não a jogue no espaço, bolha de sabão
não se inebrie com o seu engalanado som
não a empregue sem razão acima de toda a razão (e é raro)
não brinque, não experimente, não cometa a loucura sem remissão 

de espalhar aos quatro ventos do mundo essa palavra 
que é toda sigilo e nudez, perfeição e exílio na terra 
não a pronuncie

carlos drummond de andrade

sábado, 27 de outubro de 2012


A vida toda havia sido assim. Tragédias acontecendo sem parar e, quanto mais ela fugisse, de uma forma ou outra, acabava acontecendo mais uma vez. "É a vida" sempre dizia. Tentava se consolar ou se manter conformada e talvez até matar suas próprias ânsias de lutar contra algo vencido. "É a vida" falava baixinho entre um gemido, um suspiro ou um bocado de dores. "É a vida" repetia como um mantra infinitas vezes, sem saber o que dizia, nem o que queria dizer.

terça-feira, 16 de outubro de 2012

macarronada

cozinhe o macarrão
deixe o molho comigo
não sei cozinhar
mas me deixe tentar
pose  de cheff
me abraça enquanto mexo nas panelas
faz piadinha
ri da minha cara
deixa que eu tempero
uma pitada de amor
duas ou três
acho que ficou bom
experimenta você
- de comer lambendo os beiços
eu os seus
você os meus
Falei hoje com um amigo sobre amor. Ele me contou suas dores e eu contei as minhas também. Enquanto ele falava, eu via seus olhos brilharem. Contou de um amor que teve e que ainda estava ali apesar do tempo. Contou das lembranças que guarda e da saudade que sente. E eu o questionei sobre o porque do fim. 
- Acabou porque tinha que acabar. - E olhando prum ponto perdido continuou. Nem tudo é tão simples, sabe? Tem coisas que não são pra ser.
Talvez seja mesmo.
Talvez algumas histórias não foram feitas pra acontecer, talvez.. E talvez haja uma vida além dessa, e um dia possamos recuperar tudo que deixamos ir. E todos aqueles que se perderam entre os caminhos se reencontrem um dia. Mas, talvez isso seja um defeito ou uma qualidade, - não sei bem, eu não sei deixar ser, sabe? Se é pra ser, vai ser e se não é, também vai. Talvez meu romantismo transbordante me impeça de ter medo, porque acho que é milhares de vezes melhor se quebrar mais uma vez com a certeza de que não daria e o contentamento de ter tentado de novo do que viver a vida toda com o sentimento de frustração pelo que poderia ter sido e não foi. Quantos amores se perderam pela covardia daqueles que deixaram nas mãos do destino?


Para meu querido A.

segunda-feira, 15 de outubro de 2012


Eu ali, tão bobinha, acordando todo dia e esperando amanhecer um dia em que tudo mudasse. Hoje eu sei, que as coisas mudam todos os dias. Uma madrugada só é necessária pro teu mundo desabar e, em apenas uma madrugada você pode morrer e nascer de novo. Talvez tudo morra e renasça no outro dia pela manhã, existe sempre o que não renasce. Não são apenas as pessoas que morrem dormindo. A Terra gira e nós ficamos tão tontos que não percebemos que até nossa posição no universo não é mais a mesma, porque nós seríamos?

quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Talvez fosse comum ter medo e insegurança. Mas não tanto a ponto de querer chorar, voltar e abraçá-lo toda vez que ele vira as costas. Meu medo é que em alguma dessas pequenas despedidas, nós nos percamos um do outro, não sei. Ele me disse que vai ficar e eu confio nele. Mas a vida pode ser tão cruel e tem tanta gente tão interessante por ai. Não sei. Essa paranoia de procurar defeitos em mim mesma. Eu sou muito irritante, falo muito e sem parar e minhas inseguranças e paranoias devem cansá-lo tanto. Gostaria de ser até diferente, eu juro. Ser uma menininha confiante o suficiente pra acreditar que todos os dias nascerão lindos e que a vida continuará sendo boazinha. Queria ser, mas não sou. A vida é uma história que não acaba com finalzinho de novela, sabe? A gente se fode, se fode, se fode e aproveita os espaços de tempo entre uma fodidinha e outra e é feliz, depois a gente se fode de novo até que morre. Eu gostaria de não me lembrar de todas as tragédias que eu vi na tv e naquelas que me mataram um pouquinho e o que mais me dói é saber que a vida vai continuar me tirando coisas que amo, dia ou outro. A vida é um eterno perde-e-ganha. A felicidade que transborda em mim também me assusta. Antes, eu me protegia de qualquer dor. Talvez porque eu não tivesse muito a perder. Tinha a minha vida, que naquele momento já não tinha tanto valor assim. Eu achei que já estava calejada, mas não estou. Nunca me senti tão vulnerável e amedrontada. As vezes me pego pedindo, não sei se pra alguma divindade ou até pra Vida, como se fosse alguém, que não me destrua. Permaneça feliz, permaneça feliz, permaneça feliz. Vai ficar tudo bem.

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Bilhetes para mim mesma, 07 de outubro às 1:15a.m

Tá cansada, senta
Se acredita, tenta
Se tá frio, esquenta
Se tá fora, entra
Se pediu, aguenta
SE PEDIU, AGUENTA!

Se sujou, cai fora
Se dá pé, namora
Tá doendo, chora
Tá caindo, escora
Não tá bom, melhora
Não tá bom, MELHORA!

Se aperta, grite
Se tá chato, agite
Se não tem, credite
Se foi falta, apite
Se não é, imite!

Se é do mato, amanse
Trabalhou, descanse
Se tem festa, dance
Se tá longe, alcance
Use sua chance
USE SUA CHANCE!

Se tá puto, quebre
Tá feliz, requebre
Se venceu, celebre
Se tá velho, alquebre
Corra atrás da lebre
Corra atrás da lebre!

Se perdeu, procure
SE É SEU, SEGURE
Se tá mal, se cure
Se é verdade, jure
Quer saber, apure
Quer saber, apure!

Se sobrou, congele
Se não vai, cancele
Se é inocente, apele
Escravo, SE REBELE
Nunca se atropele!

Se escreveu, remeta
Engrossou, se meta
E quer dever, prometa
Pra moldar, derreta
Não se submeta
NÃO SE SUBMETA!

Lenine

quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Ele dormia de boca entreaberta, feito a criança que um dia quero ter. Dormia enquanto meus olhos a poucos centímetros tentavam enxergar o que ele sonhava. Nunca vi um sono tão sereno como aquele. Titubeei um beijo rápido pois tive receio de acordá-lo. Passeei com os dedos sobre as costelas dele. Quis niná-lo. Se mexeu, passou o braço ao me redor e eu me aconcheguei nos espaços que o corpo dele tinham deixado no colchão. Eu ainda ali, velando sobre seu sono, admirada em amá-lo ainda mais a cada vez que ele respirava. Talvez nesse momento eu também já estivesse dormindo abraçada a ele. Enquanto eu sumia devagar, beijei-o novamente, dessa vez encostei os lábios nos dele com força, depois escorreguei a cabeça até encostar no peito na altura do coração, eu podia até ouvir as batidas se diluindo enquanto eu adormecia. Quando acordei, ele imóvel velava meu sono com um sorriso.