quarta-feira, 30 de maio de 2012


Sempre existe no mundo uma pessoa que espera a outra, seja no meio de um deserto, seja no meio das grandes cidades. E quando estas pessoas se cruzam, e seus olhos se encontram, todo o passado e todo o futuro perde qualquer importância, e só existe aquele momento.


  Paulo Coelho

Falam de tudo. Da moral, do comportamento, dos sentimentos, das reações, dos medos, das imperfeições, dos erros, das criancices, ranzinzisses, chatices, mesmices, grandezas, feitos, espantos. Sobretudo falam do comportamento e falam porque supõem saber. Mas não sabem, porque jamais foram capazes de sentir como o outro sente. Se sentissem não falariam.
Nelson Rodrigues
Certa vez me disseram que a gente é quem complicava tudo. Sabe quando você conta um problemão pra uma criança e ela te olha com a cara mais desentendida do mundo e te dá a resposta na lata? E ainda completa com algo muito parecido com um "como-você-não-sabia-o-que-fazer?" E então essa é a resposta mais óbvia, mas ainda assim procuramos um milhão de empecilhos, o que prova que nós não somos mais crianças. Sinceramente, tenho aprendido que pra quase tudo dá-se um jeito, tenho aprendido que os mais sábios não complicam, descomplicam. 

domingo, 27 de maio de 2012

Ele me olhou espremendo os olhos e com um riso nos cantos da boca, aquela cara que faz quando quer me prensar na parede. E eu ri, enquanto me jogava na armadilhazinha barata que ele tinha me feito, e depois, continuei ali por vontade própria. Não foi efeito do álcool, não foi efeito do thc, assumo que fui eu, só eu, mesmo que estivesse completamente lúcida, ainda assim olharia pra ele com aquela cara de quem está olhando pela janela do avião viajando por futuros ilusórios, porque não era nada além de mim mesma. Talvez seja acúmulo de erros, talvez seja a mistura da consequência de me apegar facilmente as pessoas e fazer tudo no impulso, quem sabe e quem poderia saber? Apenas sou eu, entregue. Deixando-me à mercê mais uma vez, sem medo de me quebrar de novo. Afinal, depois de se juntar e colar os cacos que sobram tantas vezes, é mais fácil decorar onde é que vai cada pedaço. 

sábado, 26 de maio de 2012


Consegui meu equilíbrio cortejando a insanidade,
Tudo está perdido mas existem possibilidades.
Tínhamos a ideia, mas você mudou os planos
Tínhamos um plano, você mudou de ideia
Já passou, já passou - quem sabe outro dia.


Legião Urbana

É difícil fazer sentido
Parece que eu estou vendo você através de uma lente
Se outro alguém chegar,
Eu apenas sentarei aqui escutando os tambores
Anteriormente eu nunca chamaria isso de solidão
E provavelmente você saberia todos as alardes obscenos que eu faria
Insensível e exausta como qualquer um
Honestamente, eu tentei evitar, honestamente
De volta quando éramos crianças, nós sempre sabíamos quando parar
E agora todas as boas crianças estão bagunçando
Ninguém ganhou ou realizou nada.


Birdy
Parecia verão, daqueles com o céu bem alaranjado. Balões, sorvetes, ursos de pelúcia, palhaços, dançarinas que voavam, estampas de bichinhos em praticamente todas as roupas e sorrisos em todos os rostos. "Como seria seu paraíso?" dizia um cartaz. E eu observei todos os detalhes daquele lugar, segurei na mão dos meus pais e tirei os pés do chão, fazendo aquele balancinho que toda criança faz. Meus pais sorriram pra mim e continuamos andando, e eu pensei que o paraíso era aquela tarde no circo. Muitos anos depois, numa madrugada de tempestade, eu dançava sob a fumaça de cigarros e ria ligeiramente bêbada, e me lembrei do cartaz, que aliás nunca vou esquecer, e pensei que aquele sim era o paraíso: um quarto, uma música, um maço de cigarros e um corpo, o corpo dele. E por mais incrível que foi, vi meu paraíso derreter sob meus olhos sem poder fazer nada pra impedir. Achei que talvez o paraíso não exista e nem nunca existiu. Talvez o paraíso tenha sido só um delírio. Então ontem, a frase do cartaz veio de novo na mente, sentada numa ponte no meio de uma praça de madrugada, um sorriso na boca de alguém com os olhos muito vermelhos e me abraçava e talvez o mundo tenha girado mais devagar por uns instantes, então descobri que o segredo está em nós: O paraíso é dentro da gente mesmo.
Ameaças de guerra com bombas de vidro, quem poderia imaginar que seria tão frágil assim? Coisas que nem atingiam, agora destroem. Eu costumava não me importar, meu bem. Mas, embora cause dor, fingir não é tão difícil. Não é pra ser forte? Fortaleza, esse é meu nome. Sempre ouvi minha mãe dizer que a gente "sorri na sala e chora no quarto" e de fato, não sei chorar em público, e muitos não sabem, infelizmente isso não significa que não choramos. Talvez seja apenas um caso pra um pouco de paciência comigo mesma, e como recadinhos espalhados por ai, encontro um milhão de bilhetes dizendo "apenas aguente".

Nasce o Sol,
nascem pessoas
nascem ideias
nascem sonhos
morrem pessoas
morrem ideias
os sonhos não morrem
a não ser quando morrem as pessoas
- morre o sol no horizonte
amanhã ele renasce.
As vezes sinto uma falta danada de um conselho de alguém que está aqui pra isso, sabe? As vezes quero gritar até estourar as cordas vocais porque não aguento mais esse silêncio aqui em casa, não aguento mais estar errada em tudo o que faço e ouvir dizer que reclamo à toa. Eu deveria estar satisfeita, sabia? Todos dizem o tempo todo que tem gente que não tem comida em casa, que passa necessidade de tudo, que tem gente lutando pra viver na cama de um hospital e eu vivo da forma que vivo e reclamo tanto. As vezes só queria que entendessem a merda que é a falta de esperança em tudo, a dor de uma saudade que nunca vai acabar. Na dor que é acordar um dia e perceber que nada mais tem nexo nenhum.

Devolva-me meu primeiro riso, 
e a primeira ideia de felicidade
a satisfação de achar que já tinha tudo que queria
e a saudade que passava rapidinho
Devolva-me a luz dos olhos, 
e as emoções infantis
a ingenuidade
as brincadeiras na rua
a fé nas pessoas
Devolve-me a esperança de que tudo ficaria bem
o porto seguro que havia dentro de mim mesma
o gosto de doces
a admiração pelos heróis
Devolva-me as promessas que fiz a mim mesma
de quem eu seria
de como viveria
de que desejaria
Te dou em troca essas ruínas que sobraram
um dia foram meu castelo
num dia que acreditei em contos de fadas.
É tudo o que sobrou
agora são apenas palavras desconexas
e a saudade de quem um dia eu fui.

segunda-feira, 21 de maio de 2012

(...) Ele estava naquele ponto em que não se consegue mais manter os olhos abertos. E eu observava a cena, não sei se com tom de riso ou apenas excesso de carinho, mas dai enfim ele dormiu, e eu automaticamente quando me vi já estava fazendo carinho na nuca dele. Céus, ele pensará que foi por maldade o tempo todo, mas que se dane. Foi um carinho puro, é lógico que tudo tem sua malícia, mas juro que naquele momento, ao menos naquele era um carinho de alguém que só queria fazer o outro se sentir confortável pra dormir. É lógico, não vou negar: Na minha testa tinha um recado estampado "deita do meu colo, se encosta aqui, neném" mas naquele escuro, quem poderia lê-lo? Não vou fazer referências ao eterno clichê de observar o outro dormindo, porque talvez passe uma ideia falsa de romantismo ou talvez falsa mesmo seja apenas eu negando isso agora aqui, no único lugar que exponho minhas verdades. Nada disso faria diferença nenhuma ali, nem os rótulos, nem os títulos, nem as palavras que poderia ter dito e preferi não dizer e acredite, não é a mesma situação das palavras que não disse porque tive receio, nesta situação não disse porque qualquer palavra que eu dissesse seria desnecessária, não havia nenhum recado que eu já não tivesse dado com sorrisos, olhares, brincadeiras e sobretudo, carinhos na nuca. Mas meus recados não bastaram. Ele acordou com o balanço do ônibus e me lançou um olhar de reprovação. Que menina idiota eu sou. Fingi tentar dormir. Não consegui. Meu peito queimava e eu só queria chorar. Será que eu seria apresentada a uma nova espécie de mim que chora em 
público? Segurei. Ali eu percebi que pra você o tempo nunca voltaria atrás. E a culpa era só minha. Eu me atrasei demais, mas meu coração se adiantou. Se fosse outro dia eu faria tudo diferente, mas nunca é o dia que já foi. O tempo passa e a gente fica. Imóvel. Com o coração na mão olhando pra trás. Me perdoa, amor, eu cheguei tarde demais pra nós..

(...) Não sou nem quero ser o seu dono
É que um carinho às vezes cai bem
Eu tenho meus segredos e planos secretos
Só abro pra você mais ninguém
Por que você me esquece e some?
E se eu me interessar por alguém?
E se ela, de repente, me ganha?


Quando a gente gosta
É claro que a gente cuida
Fala que me ama
Só que é da boca pra fora
Ou você me engana
Ou não está madura
Onde está você agora?


Caetano Veloso
Será que é apenas um bocado de orgulho ou será uma desistência real? Não sei, sinceramente essa dúvida tem martelado na minha cabeça. Hoje me empanturrei de sorvete e ouvi The Runaways antes de dormir e dormi sem sonhar, ainda bem, porque acordei com a mente limpa, tão limpa que até brilhava. Não tive minhas respostas, não importa. É só deixar-se levar,   então deitei-me no colo do tempo e, como se me dirigisse a um taxista disse "pra felicidade, por favor."

sábado, 19 de maio de 2012


(...) De ressaca eu me sinto feliz
De saber que eu não tenho onde ir
Eu não tenho ninguém me esperando
Eu não tenho mais relação pra discutir


Longe as coisas são como deve ser
E você mesma pode ver que a minha vida
Vai bem melhor, baby, sem você!


Eu me sinto bem onde estou
Passando minhas férias no bar
Hoje a noite eu não sei onde vou
Mas eu sei muito em onde vou parar..


Mas não pense que é fácil pra mim
Se ninguém me vê reclamar
Tudo que é bom chega ao fim
Sendo assim, quem sou eu pra discordar?


Matanza

sexta-feira, 18 de maio de 2012


Já que você não está aqui
O que posso fazer
É cuidar de mim
Quero ser feliz ao menos
Lembra que o plano
Era ficarmos bem?
Ei, olha só o que eu achei:
Cavalos-marinhos.


Legião Urbana
Vamos falar sobre esse povo que senta no rabo e fala dos outros. Desse tipinho de gente que acha que é superior aos outros, que varre a podridão da própria vida pra debaixo do tapete e procura os erros na vida dos outros. Dos infelizes que não acham graça na própria vida e por vaidade, falta do que fazer, maldade ou apenas por acreditar que diminuir alguém vai fazê-lo maior, ficam fazendo inferno na vida dos outros. E conseguem. Tragédias premeditadas acontecem todo o tempo no mundo, gente desgraçada existe mesmo, mas no fim, depois de todo mal que causam, acabam sozinhas com os próprios medos e o fedor da própria infelicidade. Poderia destruí-las, mas existe gente que não vale nem o tempo de se vingar. É aquele velho ditado clichê de "dê corda pro infeliz se enforcar sozinho". Então se enforque, maldito.

quarta-feira, 16 de maio de 2012

Alguém que ature minhas bobagens malucas, minhas manias sem explicação e minhas crises de incerteza sobre tudo que exite. Meus medos infantis e meus momentos sem paciência nenhuma, que não ache meus excessos não são tão maus assim. Suporte minhas teimosias inacabáveis e meus dramas, que não são poucos. Porque não precisa-se de alguém apenas pra rir, beijar, pra trepar a noite toda e pra encher a cara as vezes. É preciso alguém pra abraçar, confortar, trazer conforto e acalmar, pra estar junto nos momentos tristes, entende? Quando ninguém mais querer estar. Pra fazer amor, pra ajudar a curar a ressaca. Amar é permanecer.

E se eu fosse o primeiro
A voltar pra mudar o que eu fiz.
Quem então agora eu seria?


Los Hermanos

segunda-feira, 14 de maio de 2012


A verdade é que eu me perdi dentro da minha felicidade e até ela, que é tão almejada, tornou-se um fardo tedioso nas minhas costas. Eu sei que é difícil entender, mas sabe quando você finalmente vê tudo como devia estar e dai você não sabe mais o que fazer? E dai todos os sorrisos pelo mesmo motivo e depois de um tempo eles ficam igualmente forçados. Você sabia que sorriso forçado dói as bochechas? Pois é. A verdade é que eu estive pensando que se tudo que eu preciso é de um motivo pra estragar tudo e se na verdade eu não estou só me escondendo atrás dos meus medos, procurando um motivo pra não ser feliz - sei que isso é muito difícil de entender, é muito difícil de explicar também. Não sei, não sei. Talvez por pensar nos outros e por entender que todos nós carregamos nossas próprias dores e medos. E por, principalmente, não querer machucar ninguém. Então, todos fingimos que é bom, que basta, que é suficientemente felicitador, entende? Todos nós somos uma farsa do que queríamos ser. E eu, me preocupo em arrumar um milhão de desculpas igualmente esfarrapadas para mim mesma crer que eu não estou apenas me jogando de ponta cabeça num ponto de fuga apenas pra estragar tudo. Foder com tudo, como sempre. Me disseram que as pessoas gostam do que não tem e sabem que não podem ter e me disseram que talvez eu precise de um pouco de paz e  de uma boa dose de solidão.

quinta-feira, 10 de maio de 2012

Ideais sem ideias. E você acaba percebendo que tudo não passou de um punhado de máscaras uma em cima da outra. Cada dia cai uma quando penso que não poderia me decepcionar ainda mais, cai uma mascara nova e eu me surpreendo com mais espaço pra decepção dentro de mim. Sabe aqueles conselhos que você ouve e acaba não prestando atenção? Hoje descobri mais que nunca que eles são valiosos. "Não acredite no que os outros digam" e "ninguém conhece ninguém de verdade" são os que mais ressoam irritantemente na minha mente. E no fim, eu sou a vadia malvada. Mas que piada. Devia ter ouvido quando me disseram que não havia salvação para desgraçados, neste caso, você.

quarta-feira, 9 de maio de 2012


E de repente eu vi você cair
Não sei armar o que eu senti
Não sei dizer que vi você ali.
Quem vai saber o que você sentiu?
Quem vai saber o que você pensou?
Quem vai dizer agora o que eu não fiz?
Como explicar pra você o que eu quis


Legião Urbana


Já perdemos muito tempo 
brincando de perfeição
Esquecemos o que somos: 
simples de coração


Engenheiros do Hawaii

terça-feira, 8 de maio de 2012

As verdades são manipuladas, de sinônimo em sinônimo nós vamos nos perdendo no contexto, e até a tristeza parece mais poética e até bonita quando chamada de melancolia. Nos fizeram acreditar que todos os sonhos podem virar realidade, que o tempo é relativo e que talvez alguém possa até inventar máquinas para burlar-lo. Nos enfiaram garganta abaixo que nós todos somos filhos de um só deus e que todas as desgraças que acontecem por aqui tem um propósito divino. Nos fizeram acreditar que por mais podre que o congresso está é melhor deixar pra lá e que tentar mudar só vai piorar. Nos fizeram pensar que não precisamos pensar. Nos prometeram que melhoraria. Que o tempo cura as feridas. Nos socaram modismos, ideias sem ideais e doses diárias de mentiras. Todos os dias. É fétido, mas taparam nossos narizes.

Para quê serve uma relação?


Uma relação tem que servir para você se sentir 100% à vontade com outra pessoa, à vontade para concordar com ela e discordar dela, para ter sexo sem não-me-toques ou para cair no sono logo após o jantar, pregado.
Uma relação tem que servir para você ter com quem ir ao cinema de mãos dadas, para ter alguém que instale o som novo enquanto você prepara uma omelete, para ter alguém com quem viajar para um país distante, para ter alguém com quem ficar em silêncio sem que nenhum dos dois se incomode com isso.
Uma relação tem que servir para, às vezes, estimular você a se produzir, e, quase sempre, estimular você a ser do jeito que é, de cara lavada e bonita a seu modo. 
Uma relação tem que servir para um e outro se sentirem amparados nas suas inquietações, para ensinar a confiar, a respeitar as diferenças que há entre as pessoas, e deve servir para fazer os dois se divertirem demais, mesmo em casa, principalmente em casa. 
Uma relação tem que servir para cobrir as despesas um do outro num momento de aperto, e cobrir as dores um do outro num momento de melancolia, e cobrirem corpo um do outro quando o cobertor cair. 
Uma relação tem que servir para um acompanhar o outro ao médico, para um perdoar as fraquezas do outro, para um abrir a garrafa de vinho e para o outro abrir o jogo, e para os dois abrirem-se para o mundo, cientes de que o mundo não se resume aos dois.

Drauzio Varella
Tenho problemas que não posso explicar e sentimentos que não posso descrever. Eu sabia o caminho pra felicidade, mas esqueci os planos e me perdi dentro de mim mesma. Cenários pós-guerra, paraísos desmoronados, a felicidade é utopia, arco-íris em tons de cinza, todos os dias sendo o ultimo que posso aguentar, o vazio que não se preenche e o tempo passa, passa, passa e o tempo não muda nada.
Ontem, como na maioria das noites, adormeci enquanto pedia pra não ser verdade. E hoje, quando acordei percebi que acreditamos em máquinas do tempo e na eternidade. E enquanto achava que a minha dor é maior que de qualquer pessoa, me lembrei que todos nós temos motivos pra querer voltar. Pra onde você voltaria?

domingo, 6 de maio de 2012

06 de maio de 2011

Eu era uma garota que não amava ninguém. Ou pelo menos achava que não poderia mais achar que alguém valesse a pena de novo. Estava num grau completo de frustração com os homens, mas ele me chamou pra sair. E eu fui.
Foi meio que um esbarrão, perdemos a hora. Eu já estava indo embora, fui comprar um refrigerante e olhei, achei que fosse ele e observei melhor, ele veio, já um bocado bêbado e disse meu nome em um tom interrogativo. Eu fiz que sim com a cabeça e ele veio dizer oi e nós explicamos que perdemos o horário. Era uma sexta feira, 6 de maio ás 22:30.
Nós fomos dar uma volta, e ele me beijou. Depois disse "eu gosto do seu sorriso" e não sei explicar, alguma coisa me prendeu a ele. Nós fizemos sexo. Depois conversamos e marcamos de nos encontrar de novo. E de novo. E de novo. Acho que chegamos a um certo ponto, que eu sabia que estava totalmente entregue à ele, mas eu negava com todo meu dom de interpretação. Assim foram passando-se os meses. Nós não tínhamos compromisso algum. Ele era livre e eu era livre, embora minha liberdade não me valesse de nada, porque eu não queria essa liberdade, mas ainda assim eu não dizia nada. Eu percebi que ele gostava da liberdade que tinha, talvez fosse melhor desistir. Então eu tentei, juro que tentei. Mas sabe, não funciona assim. Eu namorei mas depois que não deu certo eu acabei voltando pro mesmo lugar. Eu amava aquele cara. Amava mesmo. Mais que consigo descrever. Amava tanto que não exigia nada, absolutamente nada dele. Não exigia compromisso, não falava o que sentia por medo que ele se sentisse pressionado ou usasse aquela velha desculpa de "ah, não quero te iludir, não quero que você sofra" então eu fingia, e fingia bem, que era só sexo pra mim também. E eu sempre estava ali, do lado e à disposição quando ele quisesse, porque eu também queria. E pra mim, qualquer coisa dele, mesmo que ocasional era melhor que nada. 
Agora parece bobagem da gente a maneira como a gente vive os momentos felizes achando que sempre poderemos viver outros semelhantes. Tanto detalhe hoje me parece a coisa mais linda e incrível do mundo, cada coisinha que eu tento lembrar todo dia pra não esquecer, porque por mais que a gente não queira, nós vamos esquecendo as coisas com o tempo. A voz, o cheiro, o gosto, o modo de beijar. Nós vamos perdendo preciosidades da nossa memória todos os dias. 
Me envolvi com outra pessoa, mas acabei voltando pro mesmo lugar - mais uma vez. E na noite de natal nós ficamos a noite toda conversando, ele até me perguntou se eu namoraria com ele. E eu deixei bem óbvio que eu gostava dele bem mais do que eu já tinha deixado transparecer. Então, no dia 28 de dezembro nós nos encontraríamos. Eu fui lá pra colocá-lo na parede. E principalmente pra dizer o que eu sentia. Dizer que eu fiz sexo só na primeira vez, que o resto do ano eu fiz amor. Dizer que eu amava tudo. Amava a gargalhada dele, o jeito como ele fumava depois do sexo, como me dizia pra experimentar alguma bebida, amava como ele fazia vozinha de criança, amava o cheiro, o gosto, o modo como ele me fazia me sentir invencível e como se nada no mundo pudesse me fazer mal ou me causar problemas. Amava como ele tocava violão, amava como ele me dizia as coisas que ele normalmente não diria às outras pessoas, como ele desabafava e depois me olhava com cara de "não acredito que te disse isso", amava os posteres do Nirvana no guarda roupa que eu ficava olhando quando deitava sobre o peito dele, amava o beijo na bochecha, na barriga, no pescoço. Amava as mordidas, queria contar pra ele de como eu queria protegê-lo dos próprios medos e das tristezas, mas eu não disse. Eu nunca quis tanto dizer "eu te amo" pra alguém como eu quis naquela noite. Talvez eu tenha dito. Com os olhos, com os suspiros, com os gemidos e com os abraços. Talvez eu tenha dito com as meias palavras que conseguiram sair, o fato é que eu fui covarde demais pra dizer qualquer coisa que tinha ensaiado um milhão de vezes na frente do espelho. E eu não disse nada. Eu tive o mesmo medo que tinha tido a meses, eu decidi parar logo com aquilo. Achei que não aguentaria mais se continuasse ali, amando alguém que eu tinha quase certeza que não me amava. Então, tudo o que eu pude dizer foi "vou sentir sua falta o ano que vem" e ele respondeu com tom de riso "não vou morrer" e eu com a voz mais trêmula impossível só conseguir dizer "não vamos mais ficar". Então depois de olhar tudo fazendo força pra memorizar tudo, eu peguei minhas roupas e fui embora. Ele ainda insistiu e acabou me levando por uma boa parte do caminho. Ele dizia algumas coisas engraçadas que eu não me lembro, então uma esquina antes do posto ele me beijou. E eu não posso explicar o que eu senti no momento daquele beijo. Senti uma dor, uma tristeza lá no fundo - que eu julgava passageira e necessária, senti saudade antecipada, senti vontade de apertá-lo e de não deixá-lo voltar pra casa, de usar o nascer do sol como pretexto pra ficarmos juntos mais um pouco e senti até vontade de dizer que voltaria no outro dia se ele me quisesse. Mas não disse, não fiz nada. Eu disse tchau e depois de dar uns 20 passos parei e fiquei olhando ele andando de costas e voltando. No fim de janeiro, tinha uma ligação perdida - eu não retornei. Na realidade, pra ser bem sincera e talvez o que eu estava pensando era que o tempo ia passar, e passar, e passar. Eu acreditava que nós ainda continuaríamos ali, e depois de ter visto esse filme mil vezes, depois de um tempo nós acabaríamos no mesmo lugar. Nós acabaríamos ficando juntos ocasionalmente de novo, e por mais que isso pareça falta de amor próprio, masoquismo ou putaria, não é. Era amor, era amor o tempo todo. Mas hoje, eu escrevo pra um monte de gente e nenhuma é ele. Hoje, muita gente lerá isso e ele não irá. E não adianta eu ir onde ele estiver e gritar com todas as minhas forças que eu o amo, porque ele não vai ouvir. Ele nunca mais vai gargalhar comigo e nós nunca voltaremos pro mesmo lugar porque acabou. E não existe um ponto final mais desgraçado quanto a linha da vida. Hoje eu só queria conversar sobre o ano que passou, hoje eu só queria poder dizer tudo o que senti olhando diretamente pros olhos de quem me fez sentir tudo aquilo. Queria contar os segredos que não contei e ouvir a gargalhada dele mais que qualquer coisa. Hoje eu percebi que uma translação da Terra mudou minha vida, mas o que me restou foi só o vácuo do caminho por onde ela passou. Um enorme vazio que dói.


Eu só queria te contar
Que eu fui lá fora
E vi dois sóis num dia
E a vida que ardia sem explicação.


Cássia Eller
A verdade é que todos nós estamos fingindo saber as razões ou não se importar, a verdade é que a solidão nos assusta tanto porque quando nós ficamos sozinhos com nossos sonhos frustrados, nossos medos e cicatrizes, nós desmoronamos. Eu desmorono toda vez que entro aqui e fico sozinha. Não adiantou de nada tirar os posteres da parede, não adiantou nada parar de ouvir um monte de músicas que me faziam querer morrer. Eu ainda lembro dos posteres e as músicas ecoam na minha mente. Acho que todos nós sentimos medo de perder quem amamos, mas ninguém parece sentir. Na verdade, quando tocamos no assunto parece drama. Talvez seja. A verdade é que não encontro nenhum sentido pra essa agonia toda. A vida é uma roleta russa e temos apenas uma certeza: no fim do jogo, nós morremos.

sábado, 5 de maio de 2012

Os velhos olhos vermelhos voltaram
Dessa vez
Com o mundo nas costas
E a cidade nos pés
Pra que sofrer se nada é pra sempre?
Pra que correr, se nunca me vejo de frente

Parei de pensar e comecei a sentir
Nada como um dia após dia
Uma noite, um mês
Os velhos olhos vermelhos voltaram de vez

Os velhos olhos vermelhos enganam
Sem querer
Parecem claros, frios, distantes
Não têm nada a perder
Por que se preocupar por tão pouco?
Por que chorar, se amanhã tudo muda de novo?

Capital Inicial

sexta-feira, 4 de maio de 2012



Um dia… pronto! … Me acabo. 
Pois seja o que tem de ser. 
Morrer que me importa?… O diabo 
É deixar de viver.


Mário Quintana
(...) Descobri que o paraíso e o inferno ficam no mesmo lugar: Dentro da gente.

Ninguém nunca te disse
Como ser tão imperfeito
Você tem tão pouca chance
De alcançar o seu destino
É fácil fazer parte
De um mundo tão pequeno
Onde amigos invisíveis
Nunca ligam outra vez (...)
Faz muito pouco tempo
Aprendi a aceitar
Quem é dono da verdade
Não é dono de ninguém
Só não se esqueça que atrás
Do veneno das palavras
Sobra só o desespero
De ver tudo mudar
Capital Inicial
É que as vezes costumo pensar na hipótese de já estar morta e estar pensando que estou viva. Pra ser sincera, as vezes até considero-a. É uma boa hipótese. Sabe aqueles sonhos que você sonha que está dormindo, e acorda (no sonho) mas continua sonhando? Dai quando acorda (na realidade) fica espantado por sonhar um sonho de outro sonho? Pois é bem assim. Talvez você já tenha morrido, mas sonha que a vida está continuando. Talvez isso aqui não passe de uma obra da sua imaginação. É meio bizarro contar isso pra alguém, mas acho que não sou a única no mundo a pensar nisso. Ou sou? (...) Eu já disse pra vocês que as vezes penso que minha mente está inchada e não cabe mais na minha cabeça né? Acho que vou enlouquecer a qualquer momento, ou talvez já tenha enlouquecido.

É egoísmo demais querer ir embora sem pensar na dor que isso vai causar. No sofrimento de não ter percebido e na ausência sem volta. É egoísmo demais desistir mesmo que tudo esteja caindo ao redor, mas também todo dia quando eu penso que não há nada de pior pra acontecer, acontece. Quando eu acho que tudo já desmoronou, inclusive eu, alguma coisa desaba sob minhas vistas e eu não posso fazer nada. As vezes me sinto impotente com meus problemas, mas sempre sei o que as pessoas deveriam fazer pra resolver os delas. Um olhar de fora, sabe? Mas sempre que eu preciso de um olhar de fora, eu sempre vejo refletido nele um bocado de pena e nenhuma esperança. Apenas "deixe como está" como se houvesse outra alternativa. O problema é que por fora tá tudo bom, sabe? Meu namorado é incrível, meus pais são uns amores, minhas irmãs são meus tesouros e meus amigos são fantásticos, sempre me divirto, sempre sorrio e tudo sempre fica bem se eu não pensar em nada. Mas depois, se eu olhar pra mim mesma vejo que não há nada. Só um enorme vazio preenchido com um bocado de tristezas. E então penso em como reclamo de boca cheia, com tanta gente doente lutando pra viver, com tanta gente sem o mínimo de condições básicas de sobrevivência vivendo com um sorriso no rosto, mas ainda assim não consigo me sentir feliz. Embora acho que deveria. Isso não é de agora, não é de uma situação recente, sabe? Mas as vezes, sem pensar em mais ninguém, eu planejo acabar com tudo no fim do dia. E vou me despedindo das coisas até que lembro que não sou só no mundo e me sinto ainda mais egoísta. Já tentei tanta coisa, mas nada funciona a longo prazo. Tudo entedia e acaba rápido demais. A felicidade é uma coisa realmente relativa, né? Esses dias alguém me perguntou se eu estava feliz, e eu não soube o que dizer. Eu estava saudável, rodeada de pessoas incríveis, bem alimentada, confortável. É, talvez eu estivesse feliz. Mas ao mesmo tempo, digitava cartas de despedida, uma delas pra essa pessoa, inclusive. Parece bobagem, mas eu sinto a dor de quem eu, pelo caminho, acabei ferindo. E não foram poucos. Mas também não foram poucos os que me feriram. Acho que na verdade ninguém tem intenção de magoar ninguém. Mas todos os dias magoamos alguém. Ele ainda esperava a resposta e eu estava explodindo. Eu não sei nenhuma resposta, eu não sei de nenhum remédio e nenhuma saída. Talvez nem a morte ajude. O fato é que, agora com maior frequencia, sinto que me perdi na minha própria história. E eu não consigo aceitar minhas próprias e sinceras desculpas. Parece ironia da vida, um dia eu estava me punindo e acabei tropeçando na melhor coisa que me aconteceu pra depois perceber que nada é realmente nosso nessa vida, pra vida me esfregar na cara que não sei fazer nada de util nessa vida fodida. Me esfregar na cara que eu não sei a resposta pra nada e que agora tenho motivos pra me punir de verdade, pra odiar a mim mesma as vezes. Hoje vi um bocado de fotografías e me lembrei de um monte de coisas que prometi a mim mesma quando era criança. Coisas que prometi que nunca iria fazer quando crescesse e que hoje faço e coisas que prometi que nunca deixaria de fazer e deixei. Gostaria de poder dizer que vai passar, de que vai melhorar tudo de uma hora pra outra. Gostaria de dizer que não é nada, que é bobagem, fruto da minha imaginação fértil demais. Mas não é. Na verdade é só um desabafo. Sou só eu, escrevendo - talvez pra mim mesma em momentos de desespero - pra não explodir, pra não fugir, pra pensar, procurar alívio e principalmente pra não desistir.

quarta-feira, 2 de maio de 2012

Então ele me disse que acharíamos o paraíso um tédio. E que, se existisse essa baboseira toda, preferiria o inferno. Então eu disse que iria com ele. 
(...) Acho que logo a gente se encontra.

terça-feira, 1 de maio de 2012

É fácil amar o outro na mesa de bar, quando o papo é leve, o riso é farto, e o chope é gelado. É fácil amar o outro nas férias de verão, no churrasco de domingo, nas festas agendadas no calendário do de vez em quando. Difícil é amar quando o outro desaba. Quando não acredita em mais nada. E entende tudo errado. E paralisa. E se vitimiza. E perde o charme. O prazo. A identidade. A coerência. O rebolado. Difícil amar quando o outro fica cada vez mais diferente do que habitualmente ele se mostra ou mais parecido com alguém que não aceitamos que ele esteja. Difícil é permanecer ao seu lado quando parece que todos já foram embora. Quando as cortinas se abrem e ele não vê mais ninguém na plateia. Quando o seu pedido de ajuda, verbalizado ou não, exige que a gente saia do nosso egoísmo, do nosso sossego, da nossa rigidez, do nosso faz-de-conta, para caminhar humanamente ao seu encontro. Difícil é amar quem não está se amando. Mas esse talvez seja, sim, o tempo em que o outro mais precisa se sentir amado. Eu não acredito na existência de botões, alavancas, recursos afins, que façam as dores mais abissais desaparecerem, nos tempos mais devastadores, por pura mágica. Mas eu acredito na fé, na vontade essencial de transformação, no gesto aliado à vontade, e, especialmente, no amor que recebemos, nas temporadas difíceis, de quem não desiste da gente.  


Ana Jácomo 
Os mesmos cenários
com os enredos diferentes
as mesmas mentiras
com as falas trocadas
os mesmos erros
com personagens diferentes
os mesmos finais
pra histórias diferentes
como diria Legião:
..sempre mais do mesmo.

Bem, eu trocaria todos os meus amanhãs
Por um único ontem
Para estar apertando o corpo de Bobby junto ao meu


 Janis Joplin
- Só mais uma taça, que estou pra lá de bêbada...
- Adoro quando você fica pra lá de bêbada.
- Adoro quando você me adora.


Louco por Elas, Adriana Falcão