sábado, 28 de setembro de 2013

Elegerit

Liberdade. Liberdade. Liberdade. Repetindo como um mantra. Liberdade. Liberdade. Todo mundo quer ser livre. O que é ter liberdade? Acho que me deparo com a escolha da liberdade aqui e agora. Talvez eu esteja tecendo uma corda pra me enforcar depois, eu sei que tudo tem consequências. Mas cansei de apagar textos por medo das consequências que eles trariam. Liberdade pra dizer, pra escrever e pra publicar. Liberdade pra ser quem eu quiser ser. Liberdade pra ir onde me dar na telha sem ter que avisar ninguém. Liberdade. Liberdade pra fazer o que eu quiser, isso cause ou não danos a minha saúde ou me traga os riscos, aliás, liberdade pra assumir os riscos por mim mesma. Liberdade. Eu não me sinto livre.

Ontem observando o céu eu percebi que meu sonho é viajar o mundo. Na verdade a palavra que eu procuro é mochileira. Sim, mochileira. Eu queria ser mochileira. Falando no assunto ouvi em resposta "Eu prefiro uma cama quentinha pra dormir toda a noite." Bem, tá ai o drama: Eu não. Eu sou do tipo que dorme na grama mesmo, de cansada. Sou do tipo que gosto de ficar olhando as estrelas, gosto de me enfiar em aventuras fodidas com meus amigos, de passar frio e dormir ao ar livre, suja e cansada demais pra reclamar. Eu gosto disso, então, se eu precisasse fazer uns bicos por aí de qualquer coisa e viajando o país todo ou o mundo, pouco me importaria. Ok, infantil. Ok. Talvez depois parei pra pensar. Nas sensações que tenho tido. Na vida que tenho levado, embora ache mais certo dizer que quem me leva é ela. Eu quero o mundo todo. Aliás, quero mais que isso. Quero o senhorio de mim mesma. Latejava na minha cabeça o tempo todo que eu tinha muitas escolhas na vida, duas pareciam mais eminentes.

Uma era a liberdade.
Liberdade pra viajar pra algum lugar e dormir onde tivesse lugar pra mim. Num gramado, num hotelzinho barato ou num banco de praça. Liberdade pra ter a vida mais louca que pudesse ou quisesse, pra quando fosse morrer eu pensasse que vivi tudo o que tinha pra viver. Pra morrer com a ilusão de que talvez minha vida não tenha sido desperdiçada em ser só mais uma vida comum de dona de casa, que sinceramente eu não sei se gostaria. E eu me enfado tão fácil. Eu queria era chupar a até a última gota da vida e depois comer o bagaço que restasse, mesmo que o gosto não fosse tão bom, só pra saber como é, só pra saber que cheguei lá onde sempre quis chegar. Só pra ter o gosto de assumir por conta e risco o que tinha feito no fim. Não ter ficado no marasmo de ir deixando me levar. Eu quero toda a culpa ou glória de ter sido eu e feito tudo o que eu quis no fim. É a mesma velha Francine, que dormiu um bom tempo, aconchegada e confortável. Você já esteve tão cansado que deitou e pensou que não levantaria mais da cama? Eu já. E depois ficou na cama só mais um pouco, só mais um pouco. Mas chega uma hora em que não dá. Chega uma hora em que levantar é a única opção pra não começar a enlouquecer e se arranhar. A verdade é que eu, depois de desperta, não consigo ficar mais na cama.

A outra escolha é o amor.
É cruel da minha parte cogitar uma outra hipótese? Eu acho. Eu sinto até um pouco de remorso. Remorso por aliviar o peito aqui, pela sinceridade que pode ser exagerada. Mas chega, chega de escrever até chorar e depois apagar tudo porque ninguém pode saber. Chega de desviar de mim mesma, só um pouco. Eu preciso respirar. Você já se sentiu sufocar mesmo querendo ficar ali? Bem, eu me sinto às vezes. Eu nunca gostei de ficar muito tempo entre paredes. Acho que sou um pouco claustrofóbica. Mas, não posso ser injusta. É uma escolha que eu queria fazer de coração completo. Uma casa linda, um quintal cheio de animais de estimação, filhos e um marido que me ame. Eu quero isso, ou pelo menos uma parte de mim quer. Mas uma escolha é pra sempre. E eu não sei estar presa a uma situação. Filhos são pra sempre e um casamento é uma grandiosa escolha. Eu o amo. E eu queria de todo meu coração ser dele pra sempre. Mais quanto tempo esse pra sempre pode durar?
A verdade é que existe e sempre existirá uma parte de mim que não sabe e nem nunca saberá pertencer. Mas existe uma outra parte que já o pertence e que sempre pertencerá à ele, ao amor.

Eu me sinto uma criança diante da pergunta "Você gosta mais do papai ou da mamãe?"
Uma criança sonhando em ser adulta e fazer grandes escolhas.
E de repente, uma velha.

Uma velha dona de casa, que ama seus netos, seu marido, seus filhos. Uma velha feliz. Mas nunca livre. Rasgara a alforria há anos. Viveu a vida toda entre as grades que forjou com as próprias mãos. Mas não sei. Não sei se foi feliz. Não sei se teve êxito. Tudo o que sei é que deu orgulho aos pais e viveu pra amar. Será que foi o bastante?

Uma velha porra louca. Talvez não tenha sido velha, talvez tenha morrido antes. Viajou um bocado, usou o que quis, escolheu o que quis, viveu como quis. Não sei se foi a escolha certa, não sei se foi feliz. Não sei se teve êxito. Tudo o que sei é que deu desgosto para quem mais amava. Mas amou-se primeiro e mais. Foi uma pessoa livre. Será que foi o bastante?

Sei que ambas as velhas questionavam-se por suas escolhas.
Nenhuma escolha é fácil.
Toda escolha é pra sempre.

Uma criança calada porque não sabia o que responder.

quarta-feira, 4 de setembro de 2013

Teoria da calma no caos

Você me pede calma. Calma enquanto eu temo. Calma enquanto eu enlouqueço. Calma na desordem. Calma. Eu não sei ser calma. Eu não sei ficar calma. O máximo que eu posso ficar é quieta. E quieta não é calma. Estar quieto é aparentar estar calmo. Mas por dentro o caos ainda está instalado - talvez dessa forma ainda seja pior. Talvez no silêncio os maus pensamentos se reproduzam mais rápido. De quieta à inquieta. Volto a falar sem pausas ou resoluções e você volta a me pedir: Calma.
Eu nunca entendi esse seu jeito de mantê-la. Não é que ajo no desespero. Mas eu não sei fingir não estar desesperada. Não sei fingir não ter medo. Não sei mais engolir meu choro. Você me abraça. Sussurra que vai ficar tudo bem. E fica. Pelo menos naquele instante tudo fica no seu devido lugar. E eu esqueço tudo, porque eu, pelo menos eu tô no meu lugar. Fecho os olhos e respiro fundo. Ouço seu coração dentro da minha cabeça. Calma, meu amor. O cheiro de almíscar selvagem entope minhas narinas, você enlaça os dedos nos meus cabelos. Vai ficar tudo bem, meu bem. Calma. Minha alma agora flutua alta e leve. Que importância teria todos os problemas do mundo enquanto eu tenho você? É bobagem. É tudo bobagem. Nós somos um só. Vai dar tudo certo. Nós podemos resolver isso. Você é minha calma. Acalma minha alma, alma da minha calma.