quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Ela também estava perdida
E por isso se agarrava a mim também
E eu me agarrava a ela
Porque eu não tinha mais ninguém
E eu dizia: - Ainda é cedo



Legião Urbana

Atravessamos


Para atravessar agosto é preciso antes de mais nada paciência e fé. Paciência para cruzar os dias sem se deixar esmagar por eles, mesmo que nada aconteça de mau; fé para estar seguro, o tempo todo, que chegará setembro – e também certa não-fé, para não ligar a mínima às negras lendas deste mês de cachorro louco. É preciso quem sabe ficar-se distraído, inconsciente de que é agosto, e só lembrar disso no momento de, por exemplo, assinar um cheque e precisar da data. Então dizer mentalmente ah!, escrever tanto de tanto de mil novecentos e tanto e ir em frente. Este é um ponto importante: ir, sobretudo, em frente. Para atravessar agosto também é necessário reaprender a dormir, dormir muito, com gosto, sem comprimidos, de preferência também sem sonhos. São incontroláveis os sonhos de agosto: se bons, deixam a vontade impossível de morar neles, se maus, fica a suspeita de sinistros angúrios, premonições. Armazenar víveres, como às vésperas de um furacão anunciado, mas víveres espirituais, intelectuais, e sem muito critério de qualidade. Muitos vídeos de chanchadas da Atlântida a Bergman; muitos CDs, de Mozart a Sula Miranda; muitos livros, de Nietzche a Sidney Sheldon. Controle remoto na mão e dezenas de canais a cabo ajudam bem: qualquer problema, real ou não, dê um zap na telinha e filosoficamente considere, vagamente onipotente, que isso também passará. Zaps mentais, emocionais, psicológicos, não só eletrônicos, são fundamentais para atravessar agostos. Claro que falo em agostos burgueses, de médio ou alto poder aquisitivo. Não me critiquem por isso, angústias agostianas são mesmo coisa de gente assim, meio fresca que nem nós. Para quem toma trem de subúrbio às cinco da manhã todo dia, pouca diferença faz abril, dezembro ou, justamente, agosto. Angústia agostiana é coisa cultural, sim. E econômica. Mas pobres ou ricos, há conselhos – ou precauções – úteis a todos. O mais difícil: evitar a cara de Fernando Henrique Cardoso em foto ou vídeo, sobretudo se estiver se pavoneando com um daqueles chapéus de desfile a fantasia categoria originalidade… Esquecê-lo tão completamente quanto possível (santo ZAP!): FHC agrava agosto, e isso é tão grave que vou mudar de assunto já. Para atravessar agosto ter um amor seria importante, mas se você não conseguiu, se a vida não deu, ou ele partiu – sem o menor pudor, invente um. Pode ser Natália Lage, Antônio Banderas, Sharon Stone, Robocop, o carteiro, a caixa do banco, o seu dentista. Remoto ou acessível, que você possa pensar nesse amor nas noites de agosto, viajar por ilhas do Pacífico Sul, Grécia, Cancún ou Miami, ao gosto do freguês. Que se possa sonhar, isso é que conta, com mãos dadas, suspiros, juras, projetos, abraços no convés à lua cheia, brilhos na costa ao longe. E beijos, muitos. Bem molhados. Não lembrar dos que se foram, não desejar o que não se tem e talvez nem se terá, não discutir, nem vingar-se, e temperar tudo isso com chás, de preferência ingleses, cristais de gengibre, gotas de codeína, se a barra pesar, vinhos, conhaques – tudo isso ajuda a atravessar agosto. Controlar o excesso de informações para que as desgraças sociais ou pessoais não dêem a impressão de serem maiores do que são. Esquecer o Zaire, a ex-Iugoslávia, passar por cima das páginas policiais. Aprender decoração, jardinagem, ikebana, a arte das bandejas de asas de borboletas – coisas assim são eficientíssimas, pouco me importa ser acusado de alienação. É isso mesmo, evasão, escapismos, explícitos. Mas para atravessar agosto, pensei agora, é preciso principalmente nãose deter de mais no tema. Mudar de assunto, digitar rápido o ponto final, sinto muito perdoe o mau jeito, assim, veja, bruto e seco.


Caio F. Abreu
(Crônica publicada no jornal O Estado de São Paulo em 6 de agosto de 1995)

Deu vontade de ficar mais tempo junto, deu vontade de levar essa história até o fim - e eu não tenho a menor idéia do que você pensa a respeito, a gente não conversa sobre isso, só fica fazendo uma linha nada-tem-muita-importância, ou algo assim.”


- Caio Fernando Abreu
Se o telefone tocar, não atendo
se vierem me trazê-lo digo que não estou pra ninguém
quando tentam se aproximar, finjo que durmo
se quiserem ficar, que fiquem
se me perguntarem, respondo
se não, fico muda
se me forem indiferentes, trato da mesma forma
não sinto dor, não me sinto sozinha
não choro, nem reclamo
incrível como sozinha comigo mesma
estou menos sozinha com quem finge estar comigo
me poupo de tantas palavras ditas mecanicamente
as pessoas mentem demais
e com o tempo aprendi a mentir de volta
mas agora estou farta de atuar
prefiro deixá-las a mentir para o espelho.

Ela perguntou como é que eu tive certeza de que aquela escolha era a mais acertada. Respondi que nunca tive, que não tenho até agora. Porque tem coisas que a gente, simplesmente, não sabe. Decidi ali na tentativa de fazer o melhor e fui. Com fé. Sim, fé e não certeza. Vontade que desse certo. Ou, de pelo menos, que não fosse motivo para me arrepender para todo o sempre. Em alguns momentos, deu certo. Noutros, me arrependi para todo o sempre. Agora, acho que me conformei e que é assim e pronto, não tem mais volta e tudo bem. Tudo bem, de um jeito ou de outro, que a vida e o tempo consertam as coisas. 
— Briza Mulatinho


Pai, não sei se está interessado em ouvir algo sobre mim. Minha vida não tem muito a ver…com o estilo de vida que você aprova. Estou sempre mudando. Não por estar trabalhando para algo em particular…eu só quero me afastar das coisas que vão dar errado. 
— Robert Dupea, personagem de Jack Nicholson no filme “Five Easy Pieces” (1970).



Estava sendo triste, mas ela parecia acostumada. Acostumada e fria, porque depois de tantas lágrimas, ela finalmente parecia ter secado. 
 Caio Fernando Abreu

terça-feira, 30 de agosto de 2011

Na minha memória e no meu coração, você ocupa um dos lugares mais bonitos.”


Caio Fernando Abreu

Por que você ama quem você ama?

Ninguém ama outra pessoa pelas qualidades que ela tem, caso contrário os honestos, simpáticos e não-fumantes teriam uma fila de pretendentes batendo à porta.
O amor não é chegado a fazer contas, não obedece a razão. O verdadeiro amor acontece por empatia, por magnetismo.
Ninguém ama outra pessoa porque ela é educada, veste-se bem e é fã do Caetano. Isso são só referenciais. Ama-se pelo cheiro, pelo mistério, pela paz que o outro lhe dá, ou pelo tormento que provoca. Ama-se pelo tom de voz, pela maneira que os olhos piscam, pela fragilidade que se revela quando menos se espera.
Então que ela tem um jeito de sorrir que o deixa imobilizado, o beijo dela é mais viciante do que LSD, você adora brigar com ela e ela adora implicar com você. Isso tem nome. Você ama aquele cafajeste. Ele diz que vai e não liga, ele veste o primeiro trapo que encontra no armário. Ele não tem a maior vocação para príncipe encantado, e ainda assim você não consegue despachá-lo. Quando a mão dele toca na sua nuca, você derrete feito manteiga. Ele toca gaita de boca, adora animais e escreve poemas. Por que você ama este cara? Não pergunte para mim.
Você é inteligente. Lê livros, revistas, jornais. Gosta dos filmes dos irmãos Coen e do Robert Altman, mas sabe que uma boa comédia romântica também tem o seu valor. É bonita. Seu cabelo nasceu para ser sacudido num comercial de xampu e seu corpo tem todas as curvas no lugar (ou quase). Independente, emprego fixo, bom saldo no banco. Gosta de viajar, de música, tem loucura por computador e seu fettucine ao pesto é imbatível. Você tem bom humor, não pega no pé de ninguém. Com um currículo desse, criatura, por que diabo está sem um amor?
Ah, o amor, essa raposa. Quem dera o amor não fosse um sentimento, mas uma equação matemática: eu linda + você inteligente = dois apaixonados. Não funciona assim. Amar não requer conhecimento prévio nem consulta ao SPC. Ama-se justamente pelo que o Amor tem de indefinível. Honestos existem aos milhares, generosos tem às pencas, bons motoristas e bons pais de família, tá assim, ó! Mas ninguém consegue ser do jeito do amor da sua vida!

Martha Medeiros

Pensando bem em tudo o que a gente vê e vivencia e ouve e pensa, não existe uma pessoa certa pra gente. Existe uma pessoa que se você for parar pra pensar é, na verdade, a pessoa errada. Porque a pessoa certa faz tudo certinho!
Chega na hora certa, fala as coisas certas, faz as coisas certas, mas nem sempre a gente tá precisando das coisas certas. Aí é a hora de procurar a pessoa errada. A pessoa errada te faz perder a cabeça, perder a hora, morrer de amor. A pessoa errada vai ficar um dia sem te procurar que é pra na hora que vocês se encontrarem a entrega ser muito mais verdadeira. A pessoa errada, é na verdade, aquilo que a gente chama de pessoa certa. Essa pessoa vai te fazer chorar, mas uma hora depois vai estar enxugando suas lágrimas. Essa pessoa vai tirar seu sono. Essa pessoa talvez te magoe e depois te enche de mimos pedindo seu perdão. Essa pessoa pode não estar 100% do tempo ao seu lado, mas vai estar 100% da vida dela esperando você. Vai estar o tempo todo pensando em você.
A pessoa errada tem que aparecer pra todo mundo, porque a vida não é certa. Nada aqui é certo!
O que é certo mesmo, é que temos que viver cada momento, cada segundo, amando, sorrindo, chorando, emocionando, pensando, agindo, querendo,conseguindo. E só assim, é possível chegar àquele momento do dia em que a gente diz: "Graças à Deus deu tudo certo". Quando na verdade, tudo o que Ele quer é que a gente encontre a pessoa errada pra que as coisas comecem a realmente funcionar direito pra
gente.



Luís Fernando Veríssimo

segunda-feira, 29 de agosto de 2011




"Mas ficou tudo fora de lugar. Café sem açúcar, dança sem par."
Cazuza

Observo a mim mesmo em silêncio, porque é nele onde mais e melhor se diz. Me ensino a ser mais tolerante, não julgar ninguém e com isso ser mais feliz.


Forfun


E meus olhos, que já não são mais ingênuos, ainda procuram por algo sincero por trás de largos sorrisos, risos alto de piadas sem graça ou nexo, palavras falsas, gestos mecânicos, gente desesperada atrás de o mínimo de status, ou vendendo a alma pelo mínimo de atenção, umas gurias que julgam a outra de vadia pelas roupas dela serem diferente enquanto procuram algum guri pra ir pro motel com elas no fim da noite, não que dar seja fora da lei, acho que cada um faz o que quiser com o próprio corpo, o que me incomoda é o fato que tanta gente sente em cima do próprio rabo pra falar dos outros. Sociedade sem valor. Parece clichê mais é a pura verdade. Ninguém mais se importa com ninguém, as pessoas se usam mutualmente pra subir, usando a cabeça dos outros como degrau. Hoje em dia, trair é bonito, não seguir a modinha é se fazer de santo, falar mal dos outros é comum, maquiar a realidade é normal, e os absurdos que você lê no jornal todos os dias é uma coisa banal. Por favor, mundo, reveja seus conceitos, se é que vocês ainda tenham algum conceito.

E eu fiquei sem resposta.

- Cuida das minhas dívidas e dos meus problemas, dai deixo você cuidar da minha vida.
- Eu cuido.
Algumas decisões são pra sempre. As vezes ou você faz alguma coisa ou não faz nunca mais. Porque o gosto doce não vai ser o mesmo, porque as borboletas morrem no estômago depois de um tempo. Esperar consome. E não é só a paciência. É que as vezes você segura uma frase que mudaria o momento e a engole seca. E ali morre, mesmo que depois aconteça, nunca será a mesma coisa. Cada momento é único. E o maior risco que você corre se dizer é não ganhar nada, é não mudar nada. Já se não dizer, você pode perder muito. 
Estranho é que eu diga isso, porque sou covarde o suficiente pra olhar, sorrir, beijar até que eu mesma me esqueça que ia dizer. Estranho que as pessoas escrevem da forma como gostaria que as outras pessoas fossem, e como gostaria que ele próprio fosse também. Porque ali, olhos nos olhos, sorriso com sorriso é impossível não pensar em que se ter a perder se dizer. Porque infelizmente (ou felizmente) a vida não é um lindo texto clichê.

domingo, 28 de agosto de 2011


Tudo o que gosto tem sabor de pecado, é feio, censurado, imoral, fora da Lei, engorda e faz mal pra saúde.
Maysa

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Diálogo

- Entra, deve ter dado trabalho trazer isso tudo.
- Não deu. Só vim trazer suas coisas mesmo, tô indo.
- Bem, comprei bastante coisas novas já, seis meses.
- E o que fez esse tempo todo?
- Muita coisa. Pintei, dancei, me diverti, aprendi muitas coisas..E você?
- Vivi a mesma rotina que tinha antes, só que sem você.
- E foi divertido?


(silêncio)


- A sacada é linda pra observar o céu a noite.
- Comprou telescópio novo?
- Não, esse é de um amigo, emprestado. Você o trouxe? 
- Trouxe tudo que é seu e que você deixou em casa quando foi embora.


(silêncio) 


- Por quê?
- Porque na pressa de arrumar as coisas, afobado. Não peguei quase nada, peguei só algumas roupas, o básicão mesmo.
- Esse livro  da estante é meu.
- Compramos juntos, quando fomos pra Campos do Jordão.
- Bem, esse ainda não li. Os livros são nossos então fico com o outro, aquele daquele escritor alemão que gosto.
- Ou nós poderíamos revezá-los. 


(silêncio) 


- Quando perguntei por quê, queria saber por quê foi embora.
- Por que brigamos, e você terminou comigo, uai. - Nessa altura estava visivelmente atordoado.
- Não era sério, achei que voltaria no outro dia ou na outra semana, por isso demorei a te trazer o que restou das suas coisas.- Respirou fundo, engoliu o choro. Ele percebeu que ela estava abalada pela situação tanto quanto ele. Tentou pegar nos pulsos dela, e deslizando devagar até as mãos.
- Preciso ir - ela já puxando o braço para que ele soltasse.
- Pra que?
- Pra não ficar pra sempre. 


(silêncio)


- E você desistiu e me trouxe as coisas aqui agora porquê? Se apaixonou?
- Não, mas não poderia manter a casa como você deixou pra sempre. O tempo não parou naquele dia. Além do mais, são seis meses.
Ele tornou a pegar no braço dela. E quando ela disse um tchau quase inaudível e tentou ir, ele segurou com força, demonstrando que não soltaria.
- Ficou louco?
- Não podemos cometer o mesmo erro duas vezes, da primeira vez você me deixou ir e eu fiquei esperando você me pedir pra voltar pra casa, e você não pediu, e eu não voltei. Não posso deixar você ir, porque quero que você fique. Quero que fique pra sempre. Quero brigar e fazer as pazes, quero comer sua comida que às vezes sai um pouco salgada e ver sua cara irritada dizendo que ainda está aprendendo cozinhar, quero te ouvir reclamar da toalha molhada em cima da cama, me confundir com um travesseiro e quase me matar sufocado enquanto durmo, ou encher a cama de ursinhos de pelúcia, almofadas e travesseiros quase me deixando sem espaço.
- Como você é exagerado. Você que vive deixando a pasta aberta na pia, toalha molhada em cima da cama, do meu lado da cama e o tênis no meio da sala, as gavetas todas abertas, até sua mãe mesmo me deu razão. Sobre cozinhar miojo, lazanha pré-assada, e delivery é pra isso, e falou o cara que dorme jogando a perna em cima de mim, feito bicho preguiça se enrolando no tronco.


(risos, silêncio, som de beijo)


- Eu te amo.
- Eu é que te amo, menina.
Esmoendo cacos que você deixou
pra guardá-los no bolso do moletom cinza.
Fui-me e esqueci o caminho de volta
reencontrei meu amor próprio
fiz as pazes com a alto-estima
E da próxima vez que vier
te beijarei demoradamente
e você vai se sentar na poltrona de costas pra mim
tagarelando sobre alguma mentira que acabou de inventar
os cacos que guardei
dançando na sua jugular
carinhosamente.

Entre as coisas mais lindas que eu conheci
Só reconheci suas cores belas quando eu te vi
Entre as coisas bem-vindas que já recebi
Eu reconheci minhas cores nela então eu me vi
Está em cima com o céu e o luar
Hora dos dias, semanas, meses, anos, décadas
E séculos, milênios que vão passar
Água-marinha põe estrelas no mar
Praias, baías, braços, cabos, mares, golfos
E penínsulas e oceanos que não vão secar
E as coisas lindas são mais lindas
Quando você está
Onde você está
Hoje você está
Nas coisas tão mais lindas
Porque você está
Onde você está
Hoje você está
Nas coisas tão mais lindas
Nando Reis

Conto de fadas do século XXI

Era uma vez, numa terra muito distante uma linda princesa independente e cheia de auto-estima que, enquanto contemplava a natureza e pensava em como o maravilhoso lago de seu castelo estava de acordo com as conformidades ecológicas, se deparou com uma rã. Então a rã pulou no seu colo e disse:
- Linda princesa, eu já fui um príncipe muito bom. Uma bruxa má lançou-me um encanto e transformou-me nessa rã asquerosa. Um beijo teu, no entanto, há de me transformar de novo num belo e poderemos casar e constituir um lar feliz em teu lindo castelo. A minha mãe pode vir morar conosco e tu poderias preparar o meu jantar, lavarias as minhas roupas, criarias os nossos filhos e viveríamos felizes para sempre!
Naquela noite, enquanto saboreava pernas de rã à sautée, acompanhadas de um cremoso molho acebolado e de um finíssimo vinho branco, a princesa sorria e pensava: “nem fudendo”



Luís Fernando Veríssimo

Pode invadir ou chegar com delicadeza, mas não tão devagar que me faça dormir. Não grite comigo, tenho o péssimo hábito de revidar. Acordo pela manhã com ótimo humor mas... permita que eu escove os dentes primeiro. Toque muito em mim, principalmente nos cabelos e minta sobre minha nocauteante beleza. Tenho vida própria, me faça sentir saudades, conte algumas coisas que me façam rir, mas não conte piadas e nem seja preconceituoso, não perca tempo, cultivando este tipo de herança de seus pais. Viaje antes de me conhecer, sofra antes de mim para reconhecer-me um porto, um albergue da juventude. Eu saio em conta, você não gastará muito comigo. Acredite nas verdades que digo e também nas mentiras, elas serão raras e sempre por uma boa causa. Respeite meu choro, me deixe sózinha, só volte quando eu chamar e, não me obedeça sempre que eu também gosto de ser contrariada. (Então fique comigo quando eu chorar, combinado?). Seja mais forte que eu e menos altruísta! Não se vista tão bem... gosto de camisa para fora da calça, gosto de braços, gosto de pernas e muito de pescoço. Reverenciarei tudo em você que estiver a meu gosto: boca, cabelos, os pelos do peito e um joelho esfolado, você tem que se esfolar as vezes, mesmo na sua idade. Leia, escolha seus próprios livros, releia-os. Odeie a vida doméstica e os agitos noturnos. Seja um pouco caseiro e um pouco da vida, não de boate que isto é coisa de gente triste. Não seja escravo da televisão, nem xiita contra. Nem escravo meu, nem filho meu, nem meu pai. Escolha um papel para você que ainda não tenha sido preenchido e o invente muitas vezes.
Me enlouqueça uma vez por mês mas, me faça uma louca boa, uma louca que ache graça em tudo que rime com louca: loba, boba, rouca, boca... Goste de música e de sexo. goste de um esporte não muito banal. Não invente de querer muitos filhos, me carregar pra a missa, apresentar sua familia... isso a gente vê depois... se calhar... Deixa eu dirigir o seu carro, que você adora. Quero ver você nervoso, inquieto, olhe para outras mulheres, tenha amigos e digam muitas bobagens juntos. Não me conte seus segredos... me faça massagem nas costas. Não fume, beba, chore, eleja algumas contravenções. Me rapte! Se nada disso funcionar... experimente me amar!



Martha Medeiros

quinta-feira, 25 de agosto de 2011



Sabe rir mole de bobeira? Sabe dançar idiota de alegria? Sabe dormir gemendo de saudade? Sabe tomar banho sorrindo para a sua pele? Sabe cantar bem alto para o mundo entender? Sabe se achar bonita mesmo de pijama e olheiras? Sabe ter ânsia de vômito segundos antes de vê-lo e ter fome de mundo segundos depois de abraçá-lo?


Tati Bernardi
O monstro de fogo e fumaça 
roubou minha roupa branca
O ar é sujo
e o tempo é outro. 


Henrique do Valle


Para incomodar

Dizer que não vim pra agradar ninguém, parece um bocado clichê. E sinceramente nada do que eu gosto parece no mínimo clichê, pelo contrário. Eu reformulo as regras, eu mudo o padrão, eu digo palavras que não existem, sorrio quando esperam que eu fique nervosa, ou fico nervosa. Isso depende muito. Confesso que adoro todos esses olhares repreensivos, esses olhares de bons samaritanos puros sem vida própria, que se contentam em sentar na calçada e falar mal dos que vivem realmente. Alguns gostam de viver, outros de assistir a vida passar. Mais ou menos como carnaval, sabe? Mas fica aê, passa mas gel no cabelo que bem ai uma rajada de vento que vai te despentear, observa daí, mas observa com papel e caneta pra ir anotando os defeitos, se conseguir contá-los, se conseguir anotá-los. Talvez dê tempo. Na maioria das vezes eu faço mesmo de propósito, porque tenho um ódio imenso por quem julga apenas pelas roupas, cabelo ou artes corporais. Ou julgam pelo modo da outra pessoa viver. A algum tempo atrás diria que esse tipo de gente mereceria mesmo um soco bem dado na cara, mas hoje sei que o desprezo é o que mais os corrói, que mais lhes mostra o quão significante é a opinião deles. Outras faço meio que sem querer, porque já fiz tantas de propósito que a presença já se torna uma coisa incomoda pra uns e outros, que seja. Eu vim pra viver como eu quiser, e observar os incomodados é uma diversão à parte.
Não se afobe, não
Que nada é pra já
O amor não tem pressa
Ele pode esperar em silêncio.

Chico Buarque
Los besos son los mensajeros del amor


Provérbio Danes



" Não importa o quanto algo nos machuca, às vezes se livrar dele dói mais ainda."
Grey’s Anatomy

Muitas pessoas tentaram me ajudar no meu caminho
Tão pouco tempo e ainda há muito a dizer
Não há como explicar todas as coisas por que passei
Mas eu finalmente encontrei meu caminho até você
Eu finalmente encontrei meu caminho até você
Agora o dia está terminando e a noite começa a cair
Às vezes eu me pergunto se um dia eu voltarei
Eu abandonei tudo que eu já tive e já soube
Mas eu finalmente encontrei meu caminho
Finalmente encontrei meu caminho
Finalmente encontrei meu caminho até você
Lembra de como costumávamos nos esconder?
Nós compartilhávamos os segredos de nossas almas
Apague as luzes e dance noite afora
Nós dançávamos noite afora
Nós dançávamos noite afora
Lembra de como costumávamos nos esconder?
Nós compartilhávamos os segredos de nossas almas
Apague as luzes e dance noite afora
Nós dançávamos noite afora
Nós dançávamos noite afora
Lembra de como costumávamos nos esconder?
Nós dançávamos noite afora
Nós dançávamos noite afora
E agora eu te abraçarei como nunca abracei antes
Eu te deixarei partir por tempo suficiente 

apenas para trancar a porta
As palavras que eu sussurro são tardias e atrasadas
Mas finalmente encontrei meu caminho, 

encontrei meu caminho
Encontrei meu caminho até você
Até você, baby.

                                Kiss


Acordei sem frio, nem calor. Sem sentir nada. Sem vontade de falar nada, respondi os 'bom dias' com os olhos, voltei sem sono mas deitei de novo. Mamãe me trouxe um comprimido e um remédio na seringa de gosto muito amargo, tomei sem nojo e até dei uma pausa, como se apreciasse-o, senti-o descendo pela garganta, laringe, faringe, tudo. Acho que ainda sinto o gosto amargo dele no estômago, embora tenha tomado meia garrafa de água. Fiquei deitada e sem sono, olhando o escuro que é quase tão incomodo quanto olhar diretamente para o sol das três da tarde. Não tinha vontade de nada. Não tinha ódio, nem amor. Chatisse essa falta de sentir. Esse vazio imenso. Como se eu tivesse ido embora e me deixado esperando. Tomei café preto muito quente e sem açúcar e foi como o remédio, não tinha vontade de tomar o café, e nem dizer que 'não, obrigada'. Aquela frase do Caio Fernando Abreu de que nada é mais autodestrutivo que insistir sem fé ainda ressoa na minha mente sem parar. E desse amarga, mas ela pausa na garganta e fica. Afinal, por que me tornei tão teimosa e masoquista? Se no começo isso era jogo, era banal. Me sinto como se fosse uma sombra procurando a mim mesma, que perdi no caminho. Como se eu me puxasse e dissesse pra mim mesma que os desvios eram perigosos, mas que soltou a própria mão pelo sorriso convidativo que tinha. Sensação de vertigem, a primeira do dia.  Liga o rádio, e o romantismo impreguinado nas ondas sonoras me entraram pelo ouvido rasgando até chegar no estômago. Chorei sem charme nenhum, como uma noite sem estrelas. Em gemidos quase mudos, sufocados pelo travesseiro. Como se visse os olhos dele sobre os meus no escuro. Liguei o ventilador no máximo, queria sentir frio, mas estava fria demais. O telefone tocando incomoda, "quando me chamaram pra sair de casa, deveria ter ido." pensei ainda imóvel. Não atendi, já era tarde e ainda ali, intocável, incomunicável, offline. Olhei as fotos no painel e sorri levemente, algo puro e verdadeiro, inocente e doce. Valia a pena sorrir com eles, por eles e para eles. Me joguei no chuveiro, a água escorria quente pelo corpo como sangue recém-cortado da jugular de alguém no corpo de quem corta. Mas o mundo não vai parar de girar só porque eu estou com náuseas, a vida segue. Em dias felizes ou não. 

quarta-feira, 24 de agosto de 2011





(...) No seu sorriso o infinito que mil galáxias resguardavam todo o tempo some no espaço.
Nando Reis

Diálogo

- Oi.
- Oi.
- Como vai?
- Indo, e você?
- Indo.
- Vamos juntos?
“O meu amor eu guardo para os mais especiais. Não sigo todas as regras da sociedade e às vezes ajo por impulso. Erro, admito. aprendo, ensino. Todos erram um dia: por descuido, inocência ou maldade.”


William Shakespeare

“Os meninos serão fortes, serão soldados. Mas nunca conseguirão viver sem o calor do coração de uma mulher.”


John Mayer



Se acaso me quiseres, sou dessas mulheres que só dizem sim, por uma coisa à toa, uma noitada boa, um cinema, um botequim. E, se tiveres renda aceito uma prenda, qualquer coisa assim, como uma pedra falsa, um sonho de valsa ou um corte de cetim. E eu te farei as vontades. Direi meias verdades sempre à meia luz. E te farei, vaidoso, supor que é o maior e que me possuis. 


Chico Buarque

Milésipolaridade

Inocente
Boêmia
Maliciosa
Tagarela
Incrédula
Vermelho
Calada
Supersticiosa
Venenosa
Dorminhoca
Doce
Cruel
Cinza
Chorona
Sensível
Insistente
Elétrica
Insensível
Irônica
Cética
Otimista
Desorganizada
Exigente
Briguenta
Ousada
Cínica
Desajeitada
Frígida
Grosseira
Meiga
Intensa
Tímida
Verdadeira
Confiável
Pessimista
Autoconfiante
Neurótica
Insegura
Leal
Calma
Explosiva
Ambígua
Compreensiva
Temperamental
Insana
Safada
Responsável
Apaixonada
Desinteressada
Curiosa
Menina
Irresponsável
Desleixada
Mulher
Vaidosa
Sina
Ciumenta
Contrária
Ingênua
Chata
Sarcástica
Interessante, talvez não.


"Um dia de monja, um dia de puta"
Caio Fernando Abreu
(...) Caímos exatamente na mesma ratoeira, a única diferença é que você pensa que pode escapar, e eu quero chafundar na dor deste ferro enfiado na minha garganta seca que só umidece com vodca, me passa o cigarro, não, não estou desesperada, não mais do que sempre estive, nothing special, baby, não estou louca nem bêbada, estou é lúcida pra caralho e sei claramente que não tenho nenhuma saída, ah não se preocupe, meu bem, depois que você sair  tomo banho frio, leite quente com mel de eucalipto, gin-seng e lexotan, depois deito, depois durmo, depois acordo e passo uma semana a banchá e arroz integral, absolutamente santa, absolutamente pura, absolutamente limpa, depois tomo outro porre, cheiro cinco gramas, bato o carro numa esquina ou ligo pro cvv às quatro da madrugada e aluga a cabeça dum panaca qualquer choramingando coisas tipo preciso-tanto-uma-razão-para-viver-e-sei-que-essa-razão-só-está-dentro-de-mim-bababá-bababá e me lamurio até o sol pintar atrás daqueles edifícios sinistros, mas não se preocupe, não vou tomar nenhuma medida drástica, a não ser continuar, tem coisa mais autodestrutiva do que insistir sem fé nenhuma?


Caio Fernando Abreu, Morangos Mofados pág. 20-21 (Os Sobreviventes) 

Cor_ação

Faísca
Olhar
Mãos suadas
Silêncio


É preciso querer
é preciso demonstrar
é preciso dizer
Ação


Vem cá
Pega minha mão
Ofegante
Pausa


Olhar
Desejo
Coragem
Beijo


Abraços com força
parar de respirar
Frenesi


Sorriso
Beijos
Faísca
Incêndio.


"Eu nunca cometo pequenos erros enquanto eu posso causar terremotos."
Raul Seixas
Foi como se andasse na chuva, abraçando o próprio corpo pra causar calor. Com os braços gélidos apenas a causar mais frio, evitando inevitável. Essa sou eu, a garota errante que nunca tinha dado tanto valor a reputação quanto agora. Não dá pra mascarar a situação, não dá pra parecer mais santa, mais bonita, menos louca, mais sociável, menos psicótica, beirando a insanidade e transbordando erros. Onde é que está um botão pra recomeçar? Pra apagar os erros? Calar comentários? Sabe, as vezes nem sei se eu quero mudar tanto assim. Sempre gostei tanto da minha forma intensa de desejar e viver pra ser feliz. Sem me importar com mais ninguém, o fato é que sou uma mistura de qualidades de defeitos e tudo o que fiz e tenho feito, é quem eu fui e quem sou, pelo menos por enquanto.