quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Acordei sem frio, nem calor. Sem sentir nada. Sem vontade de falar nada, respondi os 'bom dias' com os olhos, voltei sem sono mas deitei de novo. Mamãe me trouxe um comprimido e um remédio na seringa de gosto muito amargo, tomei sem nojo e até dei uma pausa, como se apreciasse-o, senti-o descendo pela garganta, laringe, faringe, tudo. Acho que ainda sinto o gosto amargo dele no estômago, embora tenha tomado meia garrafa de água. Fiquei deitada e sem sono, olhando o escuro que é quase tão incomodo quanto olhar diretamente para o sol das três da tarde. Não tinha vontade de nada. Não tinha ódio, nem amor. Chatisse essa falta de sentir. Esse vazio imenso. Como se eu tivesse ido embora e me deixado esperando. Tomei café preto muito quente e sem açúcar e foi como o remédio, não tinha vontade de tomar o café, e nem dizer que 'não, obrigada'. Aquela frase do Caio Fernando Abreu de que nada é mais autodestrutivo que insistir sem fé ainda ressoa na minha mente sem parar. E desse amarga, mas ela pausa na garganta e fica. Afinal, por que me tornei tão teimosa e masoquista? Se no começo isso era jogo, era banal. Me sinto como se fosse uma sombra procurando a mim mesma, que perdi no caminho. Como se eu me puxasse e dissesse pra mim mesma que os desvios eram perigosos, mas que soltou a própria mão pelo sorriso convidativo que tinha. Sensação de vertigem, a primeira do dia.  Liga o rádio, e o romantismo impreguinado nas ondas sonoras me entraram pelo ouvido rasgando até chegar no estômago. Chorei sem charme nenhum, como uma noite sem estrelas. Em gemidos quase mudos, sufocados pelo travesseiro. Como se visse os olhos dele sobre os meus no escuro. Liguei o ventilador no máximo, queria sentir frio, mas estava fria demais. O telefone tocando incomoda, "quando me chamaram pra sair de casa, deveria ter ido." pensei ainda imóvel. Não atendi, já era tarde e ainda ali, intocável, incomunicável, offline. Olhei as fotos no painel e sorri levemente, algo puro e verdadeiro, inocente e doce. Valia a pena sorrir com eles, por eles e para eles. Me joguei no chuveiro, a água escorria quente pelo corpo como sangue recém-cortado da jugular de alguém no corpo de quem corta. Mas o mundo não vai parar de girar só porque eu estou com náuseas, a vida segue. Em dias felizes ou não. 

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