sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Diálogo

- Entra, deve ter dado trabalho trazer isso tudo.
- Não deu. Só vim trazer suas coisas mesmo, tô indo.
- Bem, comprei bastante coisas novas já, seis meses.
- E o que fez esse tempo todo?
- Muita coisa. Pintei, dancei, me diverti, aprendi muitas coisas..E você?
- Vivi a mesma rotina que tinha antes, só que sem você.
- E foi divertido?


(silêncio)


- A sacada é linda pra observar o céu a noite.
- Comprou telescópio novo?
- Não, esse é de um amigo, emprestado. Você o trouxe? 
- Trouxe tudo que é seu e que você deixou em casa quando foi embora.


(silêncio) 


- Por quê?
- Porque na pressa de arrumar as coisas, afobado. Não peguei quase nada, peguei só algumas roupas, o básicão mesmo.
- Esse livro  da estante é meu.
- Compramos juntos, quando fomos pra Campos do Jordão.
- Bem, esse ainda não li. Os livros são nossos então fico com o outro, aquele daquele escritor alemão que gosto.
- Ou nós poderíamos revezá-los. 


(silêncio) 


- Quando perguntei por quê, queria saber por quê foi embora.
- Por que brigamos, e você terminou comigo, uai. - Nessa altura estava visivelmente atordoado.
- Não era sério, achei que voltaria no outro dia ou na outra semana, por isso demorei a te trazer o que restou das suas coisas.- Respirou fundo, engoliu o choro. Ele percebeu que ela estava abalada pela situação tanto quanto ele. Tentou pegar nos pulsos dela, e deslizando devagar até as mãos.
- Preciso ir - ela já puxando o braço para que ele soltasse.
- Pra que?
- Pra não ficar pra sempre. 


(silêncio)


- E você desistiu e me trouxe as coisas aqui agora porquê? Se apaixonou?
- Não, mas não poderia manter a casa como você deixou pra sempre. O tempo não parou naquele dia. Além do mais, são seis meses.
Ele tornou a pegar no braço dela. E quando ela disse um tchau quase inaudível e tentou ir, ele segurou com força, demonstrando que não soltaria.
- Ficou louco?
- Não podemos cometer o mesmo erro duas vezes, da primeira vez você me deixou ir e eu fiquei esperando você me pedir pra voltar pra casa, e você não pediu, e eu não voltei. Não posso deixar você ir, porque quero que você fique. Quero que fique pra sempre. Quero brigar e fazer as pazes, quero comer sua comida que às vezes sai um pouco salgada e ver sua cara irritada dizendo que ainda está aprendendo cozinhar, quero te ouvir reclamar da toalha molhada em cima da cama, me confundir com um travesseiro e quase me matar sufocado enquanto durmo, ou encher a cama de ursinhos de pelúcia, almofadas e travesseiros quase me deixando sem espaço.
- Como você é exagerado. Você que vive deixando a pasta aberta na pia, toalha molhada em cima da cama, do meu lado da cama e o tênis no meio da sala, as gavetas todas abertas, até sua mãe mesmo me deu razão. Sobre cozinhar miojo, lazanha pré-assada, e delivery é pra isso, e falou o cara que dorme jogando a perna em cima de mim, feito bicho preguiça se enrolando no tronco.


(risos, silêncio, som de beijo)


- Eu te amo.
- Eu é que te amo, menina.

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