domingo, 18 de dezembro de 2011

Essa mania de morder a boca, meu pai era quem fazia a mamadeira pra mim, o acidente do meu pai - era pra eu ter morrido nesse acidente, o nascimento da minha irmã, os cachorros que tive como filhos desde pequena e morreram me mostrando como é que a vida tira as coisas que a gente ama, aquelas madrugadas que passei brincando de boneca, de brincar até tardíssimo na rua com os meninos de esconde-esconde, os joelhos sempre ralados, a melhor cozinheira de bolinhos de barro do mundo, aquele livro que sempre leio um trecho porque já tenho quase decorado, aquela música que cantarolo quando estou triste, o modo como me silencio quando estou verdadeiramente triste ou preocupada, ou da forma que me porto com olhar recriminador quando estou nervosa, nas coisas que escrevo sempre pra esvaziar um pouco a mente, e a mente que nunca para, as briguinhas bobas com a minha irmã, que depois acabavam em risos. Aquela tagarelice incurável, falar gesticulando, aquela noite que achei que fosse morrer, e aquele momento que não haviam mais palavras pra serem ditas,  as saudades, os paninhos que bordei e as telas que pintei. Minhas vontades, sonhos, decepções, traumas, cicatrizes, aquele dia que você senta sem saber pra onde ir, o sentimento de não pertencer ou fazer falta pra ninguém que as vezes dá, a distancia emocional do meu pai com os anos, a nostalgia da infância, os medos, adolescente, o nascimento da minha outra irmã, relacionamentos frustrados, beijos cinematográficos, bebedeiras, a pior ressaca que tive, juramentos de 'nunca mais', um mundo totalmente desconhecido e adoravelmente perigoso pra ser descoberto - e foi, os erros e o modo como concertei depois, isso de estralar os dedos, de quebrar o silêncio com algum barulho, nem que seja um suspiro, o pior trabalho da minha vida, as broncas, as revoltas com as injustiças, o ódio que senti de um bando de gente estúpida - que hoje nem me lembro da cara, provando o quanto o desprezo torna insignificante o que deve ser. Tudo isso formou - e forma - aos poucos quem eu sou. Prazer, Francine. E você quem é? 

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