sábado, 31 de março de 2012

Colecionadora de palavras

Desde pequena sempre adorei língua portuguesa. Aliás, adorava escrever coisas mesmo antes de saber escrever. Eu sabia as letras e então fazia minha mãe soletrar todas as palavras uma a uma enquanto eu escrevia meu texto. Exemplo:
- Mãe, "era uma vez"

- e-erre-a espaço u-eme-a espaço v-e-z
E assim eu fazia minhas pequenas redações e meus mini contos de fadas com 5 anos.
Depois quando entrei na escola, não queria saber de desenhar e pintar, nem de aprender os números, até porque eu era nerd a tal ponto de entrar na escola sabendo contar até o infinito e achava um tédio ter que ficar repetindo do 1 ao 10. Tudo o que eu queria mesmo era aprender a escrever, e quando a professora passou a família das sílabas aquele cartãozinho se tornou extensão da minha mão, porque era sempre onde ele estava. E quando ela disse que separaria em grupos para ir lá a tarde estudar mais para aprender mais rápido eu fui a primeira a levantar a mão e pedir pra estar no primeiro grupo. Professora Beth que já sabia da minha ansiedade infinita em querer aprender a ler e a escrever me disse que eu poderia ir lá a tarde. E seriam duas semanas pra cada grupo. Bem, no quarto dia eu aprendi a ler. E embora isso pareça obra de um pequeno prodígio, quero esclarecer que a professora deve ter dado graças a Deus, já que eu tomava todo o espaço da aula. Depois disso, lia tudo. Gibi, jornal, revista, livro de criança, livro de adulto, placa de rua, cartaz de protesto, logo de loja e afins. Então começava a escrever pequenos trechos de contos de fadas. Naquele momento decidi que queria ser professora, de preferência de português, porque queria ensinar as palavras pra outras crianças, e que quando fosse uma, daria aula pra crianças menores que quisessem aprender, pra que elas não precisassem esperar tanto quanto eu. E quando todos da sala também aprenderam, começaram as redações. E eu escrevia sempre umas três e entregava a melhor pra professora, e eu amava fazê-las mais que qualquer outra coisa, assistia tv com um lápis e caderno na mão, terminava de comer e corria pro meu quarto pra escrever uma história. E elas foram melhorando com o tempo, a professora me indicou pra participar de concursos de redações da turma da quarta série (naquela época, sob meu ponto de vista, os quase adultos) e minha mãe me disse que isso era algo de se orgulhar. E assim foram passando-se os anos e eu continuei com a minha paixão pelas palavras. Na quarta ganhei um dicionário e lia-o todas as noites por ordem alfabética, porque queria decorar todas as palavras. E então, quando cheguei a quinta série, peguei meu primeiro livro que não era cheio de gravuras e considerado grande "O Gênio do Crime - João Carlos Marinho" e devorei o livro em uma semana. E então descobri que a carteirinha da biblioteca foi um dos presentes que mais gostei de ganhar, e fui lotando as linhas e expandindo meu vocabulário e minha vontade de ler mais. Simplesmente me viciei nas palavras. E decidi naquele momento que seria escritora de livros, pra escrever o que eu sentia, pra inventar histórias e principalmente pra fazer as pessoas se sentirem como eu, quando estou lendo. Desde os 13 anos escrevia em um caderno tudo o que sentia ou imaginava, até que o perdi e então dei uma pausa, não que quisesse parar de escrever mas me deixou realmente aborrecida perder tudo que tinha escrito em quase dois anos. Então aos 15, decidi criar um blog e confesso que no início achei muito estranho e até pensei que não conseguiria. Mas na verdade, não queria um lindo template e um monte de gente que me lesse. Na verdade só queria desabafar sem me preocupar com perder o caderno. Com o tempo, percebi que escrever pra mim jamais poderia ser uma obrigação, com prazos e pressões. Pra mim, escrever é um meio de aliviar as dores, exprimir a raiva, mostrar um ponto de vista, fugir da loucura. Como diria Clarice Lispector:
A palavra é o meu domínio sobre o mundo.

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