domingo, 6 de maio de 2012

06 de maio de 2011

Eu era uma garota que não amava ninguém. Ou pelo menos achava que não poderia mais achar que alguém valesse a pena de novo. Estava num grau completo de frustração com os homens, mas ele me chamou pra sair. E eu fui.
Foi meio que um esbarrão, perdemos a hora. Eu já estava indo embora, fui comprar um refrigerante e olhei, achei que fosse ele e observei melhor, ele veio, já um bocado bêbado e disse meu nome em um tom interrogativo. Eu fiz que sim com a cabeça e ele veio dizer oi e nós explicamos que perdemos o horário. Era uma sexta feira, 6 de maio ás 22:30.
Nós fomos dar uma volta, e ele me beijou. Depois disse "eu gosto do seu sorriso" e não sei explicar, alguma coisa me prendeu a ele. Nós fizemos sexo. Depois conversamos e marcamos de nos encontrar de novo. E de novo. E de novo. Acho que chegamos a um certo ponto, que eu sabia que estava totalmente entregue à ele, mas eu negava com todo meu dom de interpretação. Assim foram passando-se os meses. Nós não tínhamos compromisso algum. Ele era livre e eu era livre, embora minha liberdade não me valesse de nada, porque eu não queria essa liberdade, mas ainda assim eu não dizia nada. Eu percebi que ele gostava da liberdade que tinha, talvez fosse melhor desistir. Então eu tentei, juro que tentei. Mas sabe, não funciona assim. Eu namorei mas depois que não deu certo eu acabei voltando pro mesmo lugar. Eu amava aquele cara. Amava mesmo. Mais que consigo descrever. Amava tanto que não exigia nada, absolutamente nada dele. Não exigia compromisso, não falava o que sentia por medo que ele se sentisse pressionado ou usasse aquela velha desculpa de "ah, não quero te iludir, não quero que você sofra" então eu fingia, e fingia bem, que era só sexo pra mim também. E eu sempre estava ali, do lado e à disposição quando ele quisesse, porque eu também queria. E pra mim, qualquer coisa dele, mesmo que ocasional era melhor que nada. 
Agora parece bobagem da gente a maneira como a gente vive os momentos felizes achando que sempre poderemos viver outros semelhantes. Tanto detalhe hoje me parece a coisa mais linda e incrível do mundo, cada coisinha que eu tento lembrar todo dia pra não esquecer, porque por mais que a gente não queira, nós vamos esquecendo as coisas com o tempo. A voz, o cheiro, o gosto, o modo de beijar. Nós vamos perdendo preciosidades da nossa memória todos os dias. 
Me envolvi com outra pessoa, mas acabei voltando pro mesmo lugar - mais uma vez. E na noite de natal nós ficamos a noite toda conversando, ele até me perguntou se eu namoraria com ele. E eu deixei bem óbvio que eu gostava dele bem mais do que eu já tinha deixado transparecer. Então, no dia 28 de dezembro nós nos encontraríamos. Eu fui lá pra colocá-lo na parede. E principalmente pra dizer o que eu sentia. Dizer que eu fiz sexo só na primeira vez, que o resto do ano eu fiz amor. Dizer que eu amava tudo. Amava a gargalhada dele, o jeito como ele fumava depois do sexo, como me dizia pra experimentar alguma bebida, amava como ele fazia vozinha de criança, amava o cheiro, o gosto, o modo como ele me fazia me sentir invencível e como se nada no mundo pudesse me fazer mal ou me causar problemas. Amava como ele tocava violão, amava como ele me dizia as coisas que ele normalmente não diria às outras pessoas, como ele desabafava e depois me olhava com cara de "não acredito que te disse isso", amava os posteres do Nirvana no guarda roupa que eu ficava olhando quando deitava sobre o peito dele, amava o beijo na bochecha, na barriga, no pescoço. Amava as mordidas, queria contar pra ele de como eu queria protegê-lo dos próprios medos e das tristezas, mas eu não disse. Eu nunca quis tanto dizer "eu te amo" pra alguém como eu quis naquela noite. Talvez eu tenha dito. Com os olhos, com os suspiros, com os gemidos e com os abraços. Talvez eu tenha dito com as meias palavras que conseguiram sair, o fato é que eu fui covarde demais pra dizer qualquer coisa que tinha ensaiado um milhão de vezes na frente do espelho. E eu não disse nada. Eu tive o mesmo medo que tinha tido a meses, eu decidi parar logo com aquilo. Achei que não aguentaria mais se continuasse ali, amando alguém que eu tinha quase certeza que não me amava. Então, tudo o que eu pude dizer foi "vou sentir sua falta o ano que vem" e ele respondeu com tom de riso "não vou morrer" e eu com a voz mais trêmula impossível só conseguir dizer "não vamos mais ficar". Então depois de olhar tudo fazendo força pra memorizar tudo, eu peguei minhas roupas e fui embora. Ele ainda insistiu e acabou me levando por uma boa parte do caminho. Ele dizia algumas coisas engraçadas que eu não me lembro, então uma esquina antes do posto ele me beijou. E eu não posso explicar o que eu senti no momento daquele beijo. Senti uma dor, uma tristeza lá no fundo - que eu julgava passageira e necessária, senti saudade antecipada, senti vontade de apertá-lo e de não deixá-lo voltar pra casa, de usar o nascer do sol como pretexto pra ficarmos juntos mais um pouco e senti até vontade de dizer que voltaria no outro dia se ele me quisesse. Mas não disse, não fiz nada. Eu disse tchau e depois de dar uns 20 passos parei e fiquei olhando ele andando de costas e voltando. No fim de janeiro, tinha uma ligação perdida - eu não retornei. Na realidade, pra ser bem sincera e talvez o que eu estava pensando era que o tempo ia passar, e passar, e passar. Eu acreditava que nós ainda continuaríamos ali, e depois de ter visto esse filme mil vezes, depois de um tempo nós acabaríamos no mesmo lugar. Nós acabaríamos ficando juntos ocasionalmente de novo, e por mais que isso pareça falta de amor próprio, masoquismo ou putaria, não é. Era amor, era amor o tempo todo. Mas hoje, eu escrevo pra um monte de gente e nenhuma é ele. Hoje, muita gente lerá isso e ele não irá. E não adianta eu ir onde ele estiver e gritar com todas as minhas forças que eu o amo, porque ele não vai ouvir. Ele nunca mais vai gargalhar comigo e nós nunca voltaremos pro mesmo lugar porque acabou. E não existe um ponto final mais desgraçado quanto a linha da vida. Hoje eu só queria conversar sobre o ano que passou, hoje eu só queria poder dizer tudo o que senti olhando diretamente pros olhos de quem me fez sentir tudo aquilo. Queria contar os segredos que não contei e ouvir a gargalhada dele mais que qualquer coisa. Hoje eu percebi que uma translação da Terra mudou minha vida, mas o que me restou foi só o vácuo do caminho por onde ela passou. Um enorme vazio que dói.

2 comentários:

  1. e esse vazio nunca será preenchido, e nem deve... o lugar dele é exatamente aí onde está, pra não deixar você esquecer o que teve ali um dia, te lembrar como você se sentiu, quando nada mais o fizer... Porque esse tipo de vazio só são deixados em pessoas INTENSAS, por pessoas INTENSAS!!! e não é porque é INTENSO que tem que se EXTINGUIR

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