quinta-feira, 5 de julho de 2012

Araçatuba, Clementina, Santópolis do Aguapeí


Viajamos juntos pra cidade da família dele. E eu descobri que sou bem mais tímida do que achei que fosse. Estava ansiosa e acredite, tive medo de não agradar. Sei lá, acho que fui assim pouquíssimas vezes na vida. Nunca me importei muito com as opiniões sobre mim, embora isso esteja colado nos vocabulários clichês desses jovenzinhos pseudo rebeldes, pra mim sempre foi na base do tanto faz. Mas não ali. Pelo contrário. Mas ele estava sempre do meu lado e depois do "muito prazer" as coisas fluíam entre mim e aquelas pessoas. Pensei que um dia elas seriam da minha família também e um dia, contaria a eles o quanto eu fiquei ansiosa e o quanto minhas mãos suaram naquele dia. Um dia, muitos anos distante daquele eles me contariam o que sentiram. Entende? Tive a sensação de começo, tive receio de parecer a pior pessoa do mundo, mas tive coragem e a sensação de estar no lugar onde devia ter estado a muito tempo. (...) 
A Lua estava amarela e ele cantarolava Zeca Baleiro enquanto caminhávamos. Minha garganta coçava pra dizer que o amava. Pensei que talvez explodisse e dissesse assim, sem querer. Percebemos que a Lua havia ficado branca. Ele chegou naquele ponto "Se essa Lua fosse minha" e paramos. Ele se perguntava o que faria se a Lua lhe pertencesse. Antes que eu pudesse dizer qualquer coisa, ele disse. E, qualquer vestígio de medo que havia em mim sumiu. Ele me amava também. Beijei-o no mesmo instante. Continuamos caminhando. Meus olhos ardiam de sono, eu tinha ficado a noite anterior todinha no telefone com ele. Eu tinha a sensação de estar a dias ali. Tinha a sensação de estar com ele há muito tempo, de conhecê-lo tão bem quanto a mim. Engraçado que quando estou com ele me sinto como se pudesse falar sobre qualquer coisa, que ele entende, sabe? Temos uma sintonia, uma coisa que não sei explicar. Acho que fazê-lo feliz é uma das coisas que mais me faz feliz. Eu esquecia de tudo ao redor, da cidade pequena, da calmaria, de tudo. As vezes até me esquecia de onde estávamos, ele fazia com que todo o restante do mundo fosse apenas o restante do mundo, sabe? Se ele me pedisse em casamento, se ele me pedisse um filho, se ele me pedisse pra morar ali, uma cidade menor que a nossa, eu moraria. Percebi que estava certa quanto aquilo de pertencer a alguém se assemelha muito a estar preso. Só não tinha percebido que isso dependia de pessoa pra pessoa e não havia como não querer ser um presidiário no paraíso, entende? Ele era como um paraíso e eu alguém que não desejava nada mais do que pertencer a ele. Não havia um cartaz escrito "me prenda" mas enquanto ele me quisesse ali, eu ficaria. Ficaria pelo resto da vida se me deixassem. (...)
Voltando pra casa. Eu velava seu sono, embora os meus olhos queriam fechar-se também. Ele dormia com a cabeça nas minhas coxas, fazia bico e a boca entreabria-se pra respirar. Assemelhava-se a uma criança de colo ali, adormecido nas minhas pernas. Por um momento pensei em vê-lo dormir nos seguintes anos e tive a sensação de que talvez já tivesse acontecido, não vou saber explicar mas senti como se já o tivesse visto dormir por muito tempo, como se já conhecesse aquele sono. Me imaginei com uma criança com a cara dele dormindo nas minhas pernas nos anos seguintes. Sorri. As vezes o sono causa embriaguez e eu tinha a dúvida se já não havia dormido, as vezes eu dormia sem perceber e me perdia nos meus pensamentos de futuros felizes. Correndo as estradas, eu exausta desejava que demorasse ainda muito pra chegar. Ficaria ali, cambaleando de sono olhando-o dormir pra sempre sem dificuldade. Não tenho como descrever o sono dele, mas se você já viu uma criança dormindo num berço e quis muito embalá-la nos braços e não fez nada com medo de acordá-la, sabe o que eu digo. Acordou sozinho quando entramos na cidade. Entrei pelo portão de casa exaustamente feliz. Durante o banho pensei nele. E enquanto caía na cama até que dormisse. Não sonhei, só apaguei. Ou não lembro do sonho, mas se sonhei foi com ele. Acordei com um bocado de saudade e com a certeza de que ele vicia. E que eu estou completa e irreversivelmente entregue à ele e à felicidade que ele me causa. É uma mistura da vontade de gritar isso e sussurrar ao mesmo tempo, como se o tempo com ele fossem anos e apenas segundos, como se a felicidade fosse tudo de abstrato ao redor e ao mesmo tempo tão palpável quanto seu corpo junto ao meu.

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