terça-feira, 25 de setembro de 2012

Maioridade

Sempre imaginei na expectativa que ficaria nesse dia, aliás, sempre sonhei com esse dia. O dia em que eu seria livre pra fazer o que quisesse. Sempre achei que ficaria muito ansiosa, talvez meio ansiosa e dificilmente pouco ansiosa. Mas nunca pensei que não haveria ansiedade nenhuma. O tal dia é amanhã mas hoje eu já me sinto um bocado frustrada e não tem nada a ver com a sensação de ficar velha só com tudo que já ouvi durante a vida toda e agora me faz sentir idiota por ter acreditado. A única coisa que martela na minha cabeça com a data de amanhã é que preciso arranjar um emprego. Dezenas de pessoas vão me desejar felicidades amanhã e eu desejo com todas as minhas forças de que o desejo delas aconteça apesar que, serão poucos aqueles que realmente vão se importar e dizer de coração, do resto será apenas uma mensagem aleatória colada ou dita de qualquer jeito me desejando uma felicidade qualquer, quase como um "permaneça vivo até o ano que vem". 
Eu estou feliz, mas sempre achei que hoje mudaria minha vida. Sempre achei que hoje eu estaria me despedindo da menina que eu fui mas hoje quando procurei por ela, não a encontrei. Ela se foi de dentro de mim a muito, muito tempo. E isso não tem a ver com idade, menarca ou virgindade. Ela se foi dentro de mim quando eu a expulsei. E acredite em mim, em um determinado momento, eu fui tomando o espaço dela. Cada dia eu a via menos e agora não sei ao certo quanto tempo faz que eu não a vejo mais. Queria até poder dizer que sinto falta de quem eu era, mas não sinto não. Pra ser sincera pouco me lembro da garotinha do papai que eu fui. Da criança doce e bobinha que chorava por qualquer coisinha. Eu só lembro assim, um esboço mal feito e um punhadinho de histórias. Mas eu não me lembro de que eu sentia exatamente e nem de como eu via o mundo, sei que não era assim. Havia uma esperança maior em tudo e até nas pessoas. Ontem comi doce de banana e me lembrei de quando minha vó sempre fazia pra mim. Aquele mesmo gosto me trouxe lembranças tão antigas que as vezes pareciam até de outra vida ou de outra pessoa. De qualquer forma, eu conheci essa garota mais do que conheci qualquer outro. Me lembro de alguns medos, das maiores inseguranças, de quando deu seu primeiro beijo numa esquina e tinha gosto de cocada, eu me lembro das mãos suadas que ela tinha naquele dia e sempre sorrio quando lembro disso. Eu lembro das dores que sentiu e das que ainda compartilhamos. Eu lembro de quando ela se moldou e desistiu de muito de si mesma por algo que nunca tinha sentido e lembro do choro desesperado parecido com asma que a fez se perguntar se um dia faria dezoito anos, e eu lembro do fim nitidamente que a dor dela dói em mim também. Foi então que eu nasci entre esses espaços, me fortalecendo nas fraquezas dela. Foi então que, meio sem perceber, renasci. Não sei se melhor ou apenas diferente de quem era. Mais preparada, mais resistente ou talvez apenas tenha guardado a fragilidade no bolso. Talvez, daqui a muitos anos eu me lembre de hoje como me lembro hoje de quando era criança, talvez tudo se torne apenas um punhado de histórias e um esboço mal feito de mim mesma de que eu senti. Mas não importa. Como Lucas me disse "há coisas em nós que não mudam nunca". E a Terra completa 18 translações desde que eu chorei pela primeira vez.

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