quarta-feira, 21 de agosto de 2013


Daqui há 5 horas eu tenho um jogo de handebol. Mas meu lugar é na arquibancada. Veterana. É um adjetivo legal eu acho. Bom, eu sempre observei minhas veteranas como mestras. E elas eram. Pareciam voar no salto pro gol e ninguém conseguia segurá-las na linha pontilhada. Ninguém. Meu primeiro campeonato foi incrível. Tinha um time de Gapira que era muito bom, muito bom mesmo. E embora a cidade fosse pequena, as meninas arrebentavam. Treinavam 5 horas por dia, todos os dias da semana. Enquanto nós treinávamos 1 hora por dia, duas vezes na semana. Nessa época nosso técnico era o Roberto, e ele era um treinador excepcional. Os dois primeiros jogos foram razoáveis. Um contra o Cícero, também de Votuporanga e outro contra o Epa, de Cardoso, mas a final, ah.. ralamos contra Gapira. Chegamos praticamente dando o jogo por vencido e o Roberto tratou de xingar todas até que finalmente entendêssemos que estávamos ali porque merecíamos e se jogássemos confiantes tínhamos chance. Perdendo de lavada no primeiro tempo demos conta de virar, na verdade não exatamente demos, porque eu não fiz nenhum gol nesse jogo e fiquei no banco a maioria do tempo, visto que era uma das jogadoras mais pequenas. Ganhamos o campeonato. Foi incrível. Disputamos os Regionais contra Santa Fé, e perdemos por um gol. Embora desanimadas o Roberto tratou de dar o sermão habitual e levando em consideração o adversário, fomos muito bem. No outro ano, a equipe era formada por nós e novas meninas, as maiores mudaram de categoria e essas eram nossas referências de como queríamos jogar. O Roberto se aposentou e nosso técnico novo chegava, dava a bola e saía pra fumar. O legal do Roberto é que ele continuou indo aos jogos, e ficava xingando da forma engraçada dele do lado de fora da quadra. Pegamos o 2º lugar naquele ano, e Gapira ficou com o 1º. Nada glorioso mas também nada envergonhador. Do lado do Roberto haviam as meninas da Categoria Infantil e umas outras que não jogavam mais: As veteranas. As veteranas gritam até passar mal o jogo todo e se seguram pra não entrar na quadra. As veteranas são praticamente técnicas, pq explicam de uma forma mais fácil e menos palavrenta que o técnico (no caso o Roberto que o outro nem abria a boca pra nada). Os anos se passaram e eu continuei jogando até meu último ano. Com um punhado de técnicos que não merecem citações, mas o Roberto sempre esteve lá, com algum palavrão pra dizer e um olhar sério e atento ao jogo. Eu penso em cada arremesso, penalidade, aquecimento dolorido, contusão, atropelamento e queda com uma saudade que não consigo descrever. Amanhã serei uma delas. Não será a primeira vez, mas será a mais especial. Porque será a última. Eu poderei ir nos jogos do meu time antigo ficar berrando na grade feito uma louca, mas ninguém vai saber das histórias. O que eu tenho pra contar para aquelas meninas é que ser veterana no último ano é um saco. Dói. Dói ver que aquilo acabou. Aquela inocência de que em quadra o mundo gira mais devagar e que ganhar o campeonato é o mais importante. Principalmente pra Thalia, que tá com a minha camiseta, com A camiseta. Porque "Camisa 10 joga até na chuva" e dói saber que nunca mais vou vestir aquele uniforme azul com aquele shorts de lycra horrível, o que ela pode e tem que fazer é me dar um gol amanhã. E eu vou sorrir. Vou estar feliz por elas. Feliz por saber que é uma fase gostosa da vida, que sair dessa fase é péssimo mas que ficar nela pra sempre seria pior ainda. Amanhã vou levantar cedo e caminhar até o outro lado da cidade, pra sentar ao lado do Roberto e gritar com toda a força dos meus pulmões: Lobo Raça!

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