segunda-feira, 13 de abril de 2015

Ócio mental

 Estou enfadada de tentar me equilibrar entre quem eu sou e quem eu quero ser. Em que eu quero ser.  Em sonhar sonhos que não tenho. A quem estou enganando?
 Talvez seja só o cansaço mental da inércia. O tédio, o desgaste. O gosto amargo do fracasso. O desespero de não aguentar mais essa situação enquanto observo os dias passarem e passarem.
 O bofetão diário de depender das pessoas e da caridade que eu não sei agradecer. Talvez seja só eu em um mergulho tão profundo em mim mesma pra descobrir coisas sobre mim, que acabei de afogando em um "eu" desconhecido. Mais cinza, vazio, melancólico e morfético.
 E me questiono. E não sei me responder.
E até de sentir. Será que sinto porque estou sentindo ou porque é conveniente sentir?
Sentir. Acho que uma das últimas habilidades que não perdi por este caminho que tenho percorrido.
Sinto que minha criatividade decaiu muito, tanto pra escrever minhas baboseiras quanto pra desenhar meus desenhos de pré-escola. Sinto que tudo escorreu sem ser percebido como quando uma garrafa cai e algo ainda sobra nela ali, tombada, e depois que a gente percebe fica encarando o líquido sem saber se termina de derramar, se aquilo é suficiente pra beber ou só vai dar mais vontade ou se joga a garrafa de uma vez no muro pra vê-la quebrar- Essa é uma metáfora lamentável mas não consegui pensar em nada melhor, me desculpe.
 Pedir desculpas me faz me sentir ainda mais cínica. Já que questiono se meus arrependimentos são reais ou só uma simulação pra enganar a mim mesma. Eu não sei se me engano de pensar isso ou se o teatro realmente funciona, porque às vezes eu choro. Mas o choro não resolve o que já foi, não limpa meu histórico e nem minha memória.
 As vezes, num cochilo, eu estou cercada por milhares de fileiras de dominós e castelos de cartas. E eles estão enfeitando um coração conhecido. Sei que qualquer movimento acarretará no caos de ver tudo desmoronando sem nada poder fazer, em vê-lo sendo magoar ou feri-lo. Ninguém merece receber amor com um conta-gotas, e eu não sei fingir estar defronte alguém que o merece aos baldes.
Eu questiono meu sentimento com tudo que posso saber sobre ele e senti-lo. E se fosse com qualquer outra pessoa do mundo, talvez tão frígida como eu, só iríamos levando-nos. Mas não é. É com a pessoa que mais merecia alguém como ela. Exatamente alguém que oferece o amor real, o amor puro e verdadeiro da carta de Paulo aos Coríntios, onde o amor se descreve como paciente e benigno, diz não ser invejoso, não se tratar com leviandade, se ensoberbecer ou se portar com indecência, não buscar por interesses próprios, se irritar ou suspeitar mal do outro, o amor que não aceita a injustiça, mas se alegra com a verdade. Não sou uma pessoa de fé como eu queria ser, mas se mensagens divinas que necessitamos chegam até nós quando pedimos uma resposta. E ela continuava após o poema sobre o amor. Falava sobre a perversidade no coração de quem ignorava o que já sabia e alertava sobre os imorais, avarentos, idólatras, adúteros, caluniadores, alcoólatras e trapaceiros. E eu não me orgulho nenhum pouco de preencher o gabarito. Mas ele não.
Ele é doce, atencioso, paciente, carinhoso, inteligente, engraçado. compreensivo, perseverante. Ele é altruísta, paciente, digno. Ele merece o céu. Merece paz, merece alguém puro, limpo e completo.
Ele é um abraço que silencia o barulho do caos do mundo na minha cabeça. E eu sou barulho, problema. Na paz que ele devia ter. Mas que ele não quer. Nós já tivemos mil conversas sobre isso. E escrever sobre isso e ter a pachorra de publicar é só mais uma das dez mil merdas que eu fiz e faço.
Faço talvez na falta do que fazer, no ócio criativo de não ter o que pensar. De tanto pensar, em nada penso. De tanto querer criar, nada crio. Só reciclo pensamento inúteis sobre coisas que eu não sei lidar. Medos que não sei confrontar. Labirintos de muretas baixas que eu poderia escalar e sair, mas prefiro me perder e choramingar um mapa pra fazer um caminho que eu sei fazer.
Pra não enxergar que estou só me equilibrando entre o que eu sei como é e como eu queria saber que fosse. Mas só é dentro de mim. Só um delírio bobo de uma menina boba, só mais uma bobagem.

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